segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Retrato do Brasil – Editorial | O Estado de S. Paulo

Pesquisa recente da Ipsos Brasil revela informações desconcertantes no que se refere à maneira como os brasileiros percebem a imagem dos dirigentes do País. A avaliação de 20 personalidades demonstra até que ponto o brasileiro está justa e positivamente impressionado com o combate à corrupção simbolizado pela Operação Lava Jato.

As três figuras mais bem avaliadas são todas do Judiciário: o juiz Sergio Moro, com 65% de aprovação, seguido pelo ex-ministro Joaquim Barbosa – que há cinco anos presidiu o julgamento do mensalão e pouco depois se aposentou –, com 48%, e a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, com 33%. Em seguida surgem os dois primeiros políticos: Lula da Silva, com 31%, e a ex-ministra Marina Silva, fundadora da Rede, com 28%.

No polo oposto do levantamento surgem o deputado cassado Eduardo Cunha, com 89% de rejeição, o senador Renan Calheiros, com 82%, e o presidente da República, Michel Temer, com a imagem reprovada por 78% dos consultados. Logo em seguida compartilham o índice de 74% de rejeição os dois protagonistas da eleição presidencial de 2014: Dilma Rousseff e Aécio Neves.

Em resumo: os brasileiros aplaudem o Poder Judiciário e repudiam tanto o Executivo quanto o Legislativo, que são os responsáveis diretos pela governabilidade do País. Quanto ao Congresso, é verdade que senadores e deputados se têm esmerado por palavras e atos em desmerecer a confiança daqueles que deveriam representar. Mas os dois terços dos brasileiros ouvidos pela pesquisa, em média, que estão insatisfeitos com seus representantes políticos, deveriam também tentar se lembrar em quem votaram nas últimas eleições e tratar de fazer escolhas mais criteriosas da próxima vez que forem convocados às urnas. Eduardo Cunha não caiu de paraquedas no Congresso Nacional.

Por outro lado, não faltam motivos para a insatisfação e, mais do que isso, o indignado repúdio dos brasileiros aos governantes que jogaram o País na profunda crise pela qual pagam hoje, principalmente, os mais necessitados. Esses governantes, no entanto – pelo menos, os mais importantes, como Dilma Rousseff – já foram democraticamente apeados do poder. Há 11 meses o vice-presidente eleito com Dilma em 2014, Michel Temer, líder daquele que era o maior partido aliado dos petistas no governo, assumiu constitucionalmente a chefia do governo, escalou uma equipe econômica reconhecidamente competente e tem empenhado toda sua experiência e habilidade política na correta prioridade de garantir no Congresso a aprovação das reformas necessárias para tirar o Brasil do buraco. Os primeiros resultados positivos já despontam no horizonte.

Como era perfeitamente previsível, a oposição petista já se comporta como se o desgoverno que destruiu a economia e agravou as dificuldades dos mais pobres tenha começado no dia em que Michel Temer, ainda como interino, sentou na cadeira presidencial, em 12 de maio do ano passado. Ou seja: o PT não tem nada a ver com isso. Mas o índice de rejeição ao atual ocupante do Planalto chega perto do daquele que viabilizou politicamente o impeachment de Dilma. Isso demonstra que a significativa parcela de brasileiros que se somaram aos tradicionais adversários do lulopetismo para cassar Dilma alinha-se hoje aos que agitam a bandeira do “Fora Temer”. Esse é o dado desconcertante das pesquisas.

É inegável que Temer não descolou sua imagem das velhas raposas políticas do PMDB e legendas aliadas que são percebidas pela maioria da população como inimigos naturais da Lava Jato. É natural, portanto, que essa desconfiança se estenda a Temer, cuja prioridade, como já foi dito e nunca é demais repetir, é manter a tropa governista no Congresso alinhada com as reformas que, acima de tudo, deveriam ser a prioridade de todos os que querem que o Brasil progrida.

Desconcertante mesmo é saber que, depois de toda a devastação que o lulopetismo causou na economia nacional, depois do desastre moral que a tigrada impôs ao País – e é isso que a Lava Jato tenta consertar –, o irredimível populista Luiz Inácio Lula da Silva segue lampeiro no mesmo papel de vendedor de ilusões que tão generosos frutos lhe rendeu. E promete que vai salvar o Brasil de novo. Será que os brasileiros não aprendem a lição?

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