Luiza Damé e Adriana Vasconcelos
DEU EM O GLOBO
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O CONGRESSO MOSTRA SUAS ENTRANHAS
Lula ataca senadores da oposição e agrava crise no Senado, que rejeita diretor de agência
O presidente Lula acirrou ainda mais os ânimos no Senado ao dizer ontem que os senadores da oposição são "bons pizzaiolos", quando comentava a instalação da CPI da Petrobras. A reação foi quase imediata: com 30 votos não, 20 sim e uma abstenção, a Casa rejeitou a recondução do engenheiro Bruno Pagnoccheschi para uma diretoria da Agência Nacional de Águas (ANA). A rejeição de nomes para agências reguladoras é fato raro no Senado.
Lula disse ainda que a CPI é uma irresponsabilidade e só interessa "a quem quer fazer carnaval". Ele defendeu a permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado alegando que ninguém deve renunciar só com base em denúncias. À saída de uma solenidade na Embrapa, respondeu sobre declarações de senadores da oposição que dizem temer que a CPI termine em "pizza temperada com pré-sal":
- Depende. Todos eles são bons pizzaiolos.
No Senado, numa sessão que prometia ser tranquila, já em clima de recesso, os protestos contra as declarações de Lula foram puxados pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM): - Se há algo parecido com forno de pizza, não está aqui, mas do outro lado da rua. E se ele (Lula) não quiser pizza, é só orientar sua bancada a permitir a apuração dos fatos e a convocação das pessoas que a oposição vai sugerir. Agora, não é justo nós aqui ficarmos aturando insultos, ainda que venham do presidente da República.
Sarney deixou o plenário antes que Cristovam Buarque (PDT-DF) cobrasse:
- Não é possível que a gente tenha o presidente da República chamando senadores de pizzaiolos. Quero deixar, aqui, o meu requerimento informal para que o presidente da Casa peça alguma satisfação ao presidente Lula.
Marina Silva (PT-AC) lamentou que a rebelião tenha resultado na rejeição de Pagnoccheschi:
- O Bruno ajudou na fundação da ANA e estava sendo reconduzido para o cargo de diretor. Acho uma falta de maturidade nossa.
Antes mesmo da promulgação do resultado, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), percebendo a tensão, solicitou a suspensão da votação das demais indicações de autoridades. O diretor-presidente da ANA, o petista José Machado, deve avaliar hoje as providências que poderão ser tomadas. Para Machado, a decisão do Senado causou "perplexidade e desolação":
- A decisão vai causar grande prejuízo para o trabalho da ANA. Ninguém é insubstituível, mas não temos ainda um outro nome para indicar.
Lula minimizou os efeitos da CPI. Argumentou que a Petrobras pode ser investigada por órgãos como Receita Federal, Controladoria Geral da União, Ministério Público e Comissão de Valores Mobiliários (CVM):
- CPI pode ser muito interessante para quem quer fazer um carnaval. Para quem quer investigar seriamente, era preciso outro mecanismo.
"Lula quer desmoralizar o Senado", diz Jarbas
Irônico, Lula disse que os mesmos que hoje estão preocupados com a estatal, no passado defendiam a sua privatização, e que sua preocupação hoje é o marco regulatório do pré-sal:
- Enquanto a oposição grita, eu trabalho.
Para Demóstenes Torres (DEM-PI), Lula seria o responsável pela "pizzaria" do Senado:
- Afinal, foi o presidente Lula que enquadrou a bancada do PT para que o presidente Sarney permanecesse no cargo.
- Repudio as declarações do presidente - emendou Renato Casagrande (PSB-ES).
A intervenção mais dura partiu de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).
- É incrível que esta Casa ainda se surpreenda com as atitudes e as ações do presidente da República. Essa declaração foi infeliz. Ele vai continuar usando e abusando de sua popularidade. Ele não tem princípios. Ele é pior do que o pior dos generais que exerceram a ditadura neste país, porque os outros ainda tinham um certo pudor, um certo cuidado ou com a opinião pública ou com o próprio Congresso. Ele não tem nenhum. Quer desmoralizar o Senado, porque não quer que nada concorra com ele.
Lula negou que o governo dê apoio a Sarney e criticou a condenação de autoridades sem a devida comprovação da denúncia.
- Na medida que você levanta uma denúncia, precisa apuração. As coisas estão sendo feitas corretamente no Senado. Há denúncia, investiga, mas precisamos tomar muito cuidado porque, se cada vez que sair denúncia contra você, a gente pedir para o jornal em que você trabalha o afastar, não vai ter mais jornalista no cargo. No Senado, não vai ter mais ninguém no cargo.
Colaborou Gustavo Paul
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