DEU NA FOLHA DE S. PAULO
A campanha eleitoral para presidente pode ser dividida em três momentos.O primeiro, em que Lula procurou apresentar sua candidata pelo Brasil afora e cloná-la a seu governo. As pesquisas diziam que 40% dos eleitores votariam em qualquer candidato que Lula indicasse. Dilma chegou a este patamar antes mesmo da entrada da TV, onde aquela colagem seria garantida.
O segundo momento dependeria da performance de Dilma, que iria tentar capturar uma parte dos 40% de eleitores que diziam que isso dependeria dos candidatos. Dilma cresceu e passou dos 50%, conquistando mais de 35% desses eleitores independentes. Com a TV parecia que a eleição caminharia inexoravelmente para terminar no primeiro turno.
Nesse processo, surgiram escândalos no próprio gabinete da ex-ministra e no governo. Nada aconteceu com as pesquisas. Sondagens mostraram que o eleitor, ao generalizar a desonestidade dos políticos, terminava por minimizar os fatos. Mas as denúncias jogavam Dilma na mesma cesta dos demais, fato novo para o eleitor que a viu como garantia comportamental pós-mensalão do PT.
Essa fragilização não afetou as pesquisas num primeiro momento, mas criou um ambiente favorável a perdas futuras, surgindo fatos novos. Serra trocou com Dilma e ficou patinando num patamar um pouco abaixo dos 30%. Abriu a campanha apostando num pós-Lula, continuidade com agregação: o Brasil pode mais.
E depois os escândalos o fizeram mudar.
Marina apostou em um discurso para o século 21: sustentabilidade ambiental.
Ocupou o espaço do voto "politicamente correto", um pouco abaixo dos 10%. A expectativa que se tinha é que, com a fase final da campanha, o voto útil poderia atingi-la. Mas o fato novo veio.
Difundiu-se entre os evangélicos as entrevistas pré-eleitorais de Dilma, especialmente em relação ao aborto. A bandeira contra o PNDH-3 (aborto, ...) passou a ser carimbada em Dilma. E a curva de queda dela nessa faixa do eleitorado foi se acentuando. Marina caminhou para perto dos 20%, paradoxalmente com seu eleitorado dividido ao meio: 50% progressista, os de antes, e 50% conservador, em função de valores cristãos, que, aliás, são os dela efetivamente.
Muito dificilmente o eleitor conservador de Marina voltará a Dilma, que no dia seguinte à eleição soltava balões de ensaio em sua direção. Mas não irá compulsoriamente a Serra. O risco para esse será sempre da opção daqueles pelo voto nulo ou abstenção, que, aliás, cresceu em 2010 em relação a 2006.
Os brancos-nulos-abstenção foram de 25,16% em 2006 e 27,72% em 2010, preciosos, e talvez decisivos, 2,5 pontos.
Cesar Maia escreve aos sábados nesta coluna.
A campanha eleitoral para presidente pode ser dividida em três momentos.O primeiro, em que Lula procurou apresentar sua candidata pelo Brasil afora e cloná-la a seu governo. As pesquisas diziam que 40% dos eleitores votariam em qualquer candidato que Lula indicasse. Dilma chegou a este patamar antes mesmo da entrada da TV, onde aquela colagem seria garantida.
O segundo momento dependeria da performance de Dilma, que iria tentar capturar uma parte dos 40% de eleitores que diziam que isso dependeria dos candidatos. Dilma cresceu e passou dos 50%, conquistando mais de 35% desses eleitores independentes. Com a TV parecia que a eleição caminharia inexoravelmente para terminar no primeiro turno.
Nesse processo, surgiram escândalos no próprio gabinete da ex-ministra e no governo. Nada aconteceu com as pesquisas. Sondagens mostraram que o eleitor, ao generalizar a desonestidade dos políticos, terminava por minimizar os fatos. Mas as denúncias jogavam Dilma na mesma cesta dos demais, fato novo para o eleitor que a viu como garantia comportamental pós-mensalão do PT.
Essa fragilização não afetou as pesquisas num primeiro momento, mas criou um ambiente favorável a perdas futuras, surgindo fatos novos. Serra trocou com Dilma e ficou patinando num patamar um pouco abaixo dos 30%. Abriu a campanha apostando num pós-Lula, continuidade com agregação: o Brasil pode mais.
E depois os escândalos o fizeram mudar.
Marina apostou em um discurso para o século 21: sustentabilidade ambiental.
Ocupou o espaço do voto "politicamente correto", um pouco abaixo dos 10%. A expectativa que se tinha é que, com a fase final da campanha, o voto útil poderia atingi-la. Mas o fato novo veio.
Difundiu-se entre os evangélicos as entrevistas pré-eleitorais de Dilma, especialmente em relação ao aborto. A bandeira contra o PNDH-3 (aborto, ...) passou a ser carimbada em Dilma. E a curva de queda dela nessa faixa do eleitorado foi se acentuando. Marina caminhou para perto dos 20%, paradoxalmente com seu eleitorado dividido ao meio: 50% progressista, os de antes, e 50% conservador, em função de valores cristãos, que, aliás, são os dela efetivamente.
Muito dificilmente o eleitor conservador de Marina voltará a Dilma, que no dia seguinte à eleição soltava balões de ensaio em sua direção. Mas não irá compulsoriamente a Serra. O risco para esse será sempre da opção daqueles pelo voto nulo ou abstenção, que, aliás, cresceu em 2010 em relação a 2006.
Os brancos-nulos-abstenção foram de 25,16% em 2006 e 27,72% em 2010, preciosos, e talvez decisivos, 2,5 pontos.
Cesar Maia escreve aos sábados nesta coluna.
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