DEU EM O GLOBO
A reunião das 20 maiores potências do mundo, no G-20, em Seul, na Coreia do Sul, terminou sem acordo capaz de evitar a guerra cambial entre os países. Estados Unidos e China, com suas moedas desvalorizadas, são hoje alvo de preocupação do resto do mundo. Com o câmbio depreciado, eles elevam suas exportações e acabam prejudicando outras nações. No embate entre Washington e Pequim, a China saiu ganhando, pois evitou que americanos colocassem no texto final teto de 4% do PIB para superávit ou déficit externo. Hoje, a China é das grandes exportadoras.
G-20 termina só com promessas e sem ações
Líderes reunidos na Coreia do Sul assumem compromissos vagos e adiam decisão sobre disputas cambiais
Fernando Duarte
Enviado especial
SEUL, Coreia do Sul. Como previsto, os líderes das 20 principais economias do mundo, o G-20, encerraram ontem sua reunião de cúpula em Seul com muita retórica e poucas decisões concretas.
Na prática, os países conseguiram ampliar por mais um ano o prazo para alcançar difíceis soluções para os desequilíbrios no comércio, no câmbio e na área fiscal que ameaçam a recuperação econômica mundial. No comunicado oficial, os países prometeram adotar medidas macroeconômicas que incluem políticas cambiais mais sintonizadas com as forças do mercado como forma de promover o equilíbrio econômico mundial.
O G-20 se comprometeu a estabelecer um cronograma com “parâmetros indicativos” sobre como lidar com desequilíbrios entre suas economias, sobretudo no que se refere a superávits e déficits nas contas externas. Os 20 líderes também prometeram submeter planos econômicos de médio prazo à análise do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas os parâmetros só serão definidos nos próximos seis meses, possivelmente após a reunião de ministros da área econômica, na França, em fevereiro.
No duelo particular entre EUA e China, ponto para Pequim, que escapou de ficar na berlinda devido à insistência em manter desvalorizada sua moeda, o yuan, e ainda bloqueou no documento final uma proposta de Washington para que superávits ou déficits externos de grandes países não superassem 4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos por um país ao longo de um ano). O plano sugerido na semana passada pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, por pouco não provocou o colapso de um encontro de negociadores na noite de quintafeira, após um representante chinês ameaçar deixar a sala.
— Os chineses aguaram o comunicado, e dá para perceber pela linguagem do documento final como houve divergências — disse ao GLOBO uma fonte brasileira presente à sessão.
Mantega vê sanções morais para manipulação no câmbio O presidente dos EUA, Barack Obama, admitiu que o resultado do encontro em Seul não parecerá significativo aos olhos do público. No entanto, acrescentou, representa um avanço, especialmente diante dos temores de um impasse mais acentuado.
— Nosso trabalho no G-20 não vai mudar o mundo imediatamente, mas estamos passo a passo estabelecendo mecanismos internacionais e instituições mais fortes que vão nos ajudar na tarefa de estabilizar a economia mundial, assegurar o crescimento e reduzir algumas tensões — afirmou Obama.
O premier do Reino Unido, David Cameron — que nas reuniões fechadas fez um discurso inflamado cobrando mais empenho do G-20 na viabilização de acordos comerciais globais —, ressaltou a importância de os problemas estarem sendo discutidos num fórum multilateral.
Já o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que os ânimos foram arrefecidos em Seul.
O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, falou no encerramento em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula voltou ao Brasil mais cedo para visitar o vice-presidente, José Alencar, que sofreu um infarto na quinta-feira. Mantega se disse satisfeito com a criação do que chamou de sanções morais contra países que manipulem o câmbio, mas também adotou um tom exageradamente otimista em função do que se viu e leu na capital sul-coreana.
— Os conflitos foram reconhecidos, mas houve um amplo entendimento entre os países, mesmo entre os mais reticentes.
Absolutamente não acabou a guerra cambial, mas pelo menos ela passou a ser discutida e, com isso, poderemos usar instrumentos para mitigar seus efeitos — disse o ministro. — Haverá uma cautela da maioria dos países.
Os que insistirem (em medidas anticompetitivas) serão constrangidos pelo novo acordo.
A exemplo do que fizera Lula na véspera, Mantega defendeu a relevância do G-20, sobretudo por seu potencial de acelerar a solução de questões internacionais como a reorganização do FMI. O documento final ratificou o aumento na participação dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) nas cotas do conselho consultivo do Fundo, bem como o papel do grupo na aprovação da reforma do sistema financeiro — o plano Basileia III, que eleva de 8% para 13% o capital mínimo livre de risco que os bancos devem ter.
— O G-20 é um foro de compromissos, e os países querem que ele permaneça — disse Mantega.
— Mostramos eficiência ao lidar com a crise em 2008 e não estamos perdendo tempo agora.
Não há vilões nem mocinhos, e certamente conseguimos bons resultados. Basileia II, por exemplo, demorou quase dez anos para ser aprovado, enquanto Basileia III levou apenas um.
Mas o ministro não espera a mesma velocidade no debate sobre a substituição do dólar por uma cesta de moedas nas trocas internacionais: — É uma tendência natural, mas nada rápido ou fácil.
A reunião das 20 maiores potências do mundo, no G-20, em Seul, na Coreia do Sul, terminou sem acordo capaz de evitar a guerra cambial entre os países. Estados Unidos e China, com suas moedas desvalorizadas, são hoje alvo de preocupação do resto do mundo. Com o câmbio depreciado, eles elevam suas exportações e acabam prejudicando outras nações. No embate entre Washington e Pequim, a China saiu ganhando, pois evitou que americanos colocassem no texto final teto de 4% do PIB para superávit ou déficit externo. Hoje, a China é das grandes exportadoras.
G-20 termina só com promessas e sem ações
Líderes reunidos na Coreia do Sul assumem compromissos vagos e adiam decisão sobre disputas cambiais
Fernando Duarte
Enviado especial
SEUL, Coreia do Sul. Como previsto, os líderes das 20 principais economias do mundo, o G-20, encerraram ontem sua reunião de cúpula em Seul com muita retórica e poucas decisões concretas.
Na prática, os países conseguiram ampliar por mais um ano o prazo para alcançar difíceis soluções para os desequilíbrios no comércio, no câmbio e na área fiscal que ameaçam a recuperação econômica mundial. No comunicado oficial, os países prometeram adotar medidas macroeconômicas que incluem políticas cambiais mais sintonizadas com as forças do mercado como forma de promover o equilíbrio econômico mundial.
O G-20 se comprometeu a estabelecer um cronograma com “parâmetros indicativos” sobre como lidar com desequilíbrios entre suas economias, sobretudo no que se refere a superávits e déficits nas contas externas. Os 20 líderes também prometeram submeter planos econômicos de médio prazo à análise do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas os parâmetros só serão definidos nos próximos seis meses, possivelmente após a reunião de ministros da área econômica, na França, em fevereiro.
No duelo particular entre EUA e China, ponto para Pequim, que escapou de ficar na berlinda devido à insistência em manter desvalorizada sua moeda, o yuan, e ainda bloqueou no documento final uma proposta de Washington para que superávits ou déficits externos de grandes países não superassem 4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos por um país ao longo de um ano). O plano sugerido na semana passada pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, por pouco não provocou o colapso de um encontro de negociadores na noite de quintafeira, após um representante chinês ameaçar deixar a sala.
— Os chineses aguaram o comunicado, e dá para perceber pela linguagem do documento final como houve divergências — disse ao GLOBO uma fonte brasileira presente à sessão.
Mantega vê sanções morais para manipulação no câmbio O presidente dos EUA, Barack Obama, admitiu que o resultado do encontro em Seul não parecerá significativo aos olhos do público. No entanto, acrescentou, representa um avanço, especialmente diante dos temores de um impasse mais acentuado.
— Nosso trabalho no G-20 não vai mudar o mundo imediatamente, mas estamos passo a passo estabelecendo mecanismos internacionais e instituições mais fortes que vão nos ajudar na tarefa de estabilizar a economia mundial, assegurar o crescimento e reduzir algumas tensões — afirmou Obama.
O premier do Reino Unido, David Cameron — que nas reuniões fechadas fez um discurso inflamado cobrando mais empenho do G-20 na viabilização de acordos comerciais globais —, ressaltou a importância de os problemas estarem sendo discutidos num fórum multilateral.
Já o presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que os ânimos foram arrefecidos em Seul.
O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, falou no encerramento em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula voltou ao Brasil mais cedo para visitar o vice-presidente, José Alencar, que sofreu um infarto na quinta-feira. Mantega se disse satisfeito com a criação do que chamou de sanções morais contra países que manipulem o câmbio, mas também adotou um tom exageradamente otimista em função do que se viu e leu na capital sul-coreana.
— Os conflitos foram reconhecidos, mas houve um amplo entendimento entre os países, mesmo entre os mais reticentes.
Absolutamente não acabou a guerra cambial, mas pelo menos ela passou a ser discutida e, com isso, poderemos usar instrumentos para mitigar seus efeitos — disse o ministro. — Haverá uma cautela da maioria dos países.
Os que insistirem (em medidas anticompetitivas) serão constrangidos pelo novo acordo.
A exemplo do que fizera Lula na véspera, Mantega defendeu a relevância do G-20, sobretudo por seu potencial de acelerar a solução de questões internacionais como a reorganização do FMI. O documento final ratificou o aumento na participação dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) nas cotas do conselho consultivo do Fundo, bem como o papel do grupo na aprovação da reforma do sistema financeiro — o plano Basileia III, que eleva de 8% para 13% o capital mínimo livre de risco que os bancos devem ter.
— O G-20 é um foro de compromissos, e os países querem que ele permaneça — disse Mantega.
— Mostramos eficiência ao lidar com a crise em 2008 e não estamos perdendo tempo agora.
Não há vilões nem mocinhos, e certamente conseguimos bons resultados. Basileia II, por exemplo, demorou quase dez anos para ser aprovado, enquanto Basileia III levou apenas um.
Mas o ministro não espera a mesma velocidade no debate sobre a substituição do dólar por uma cesta de moedas nas trocas internacionais: — É uma tendência natural, mas nada rápido ou fácil.
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