Governo já faz estudos sobre como ficaria o país em caso de suspensão de parte da dívida pública
Jamil Chade
ATENAS - Sem reconquistar a confiança dos mercados e diante de protestos cada vez mais violentos da população grega, ganha força a ideia de um calote "parcial e ordenado" na Grécia. Governos europeus, nos bastidores, já admitem a inevitabilidade da quebra do país e passaram o fim de semana desenhando um escudo de proteção que poderia chegar a 2 trilhões para evitar uma contaminação generalizada e a ruína do euro.
Uma missão do FMI e da UE desembarcará nos próximos dias em Atenas para avaliar se a Grécia tem mesmo condições de atingir suas metas de redução de déficit, depois que o governo anunciou mais uma rodada de cortes. Caso a avaliação seja negativa, não será liberada a sexta parcela do empréstimo e o governo já admite que ficará sem dinheiro até o final de outubro.
Informações sobre a possibilidade de um calote parcial circularam já no final da sexta-feira. A notícia incendiou o meio político grego e deve dominar as avaliações no mercado financeiro nos próximos dias.
Funcionários do governo socialista de Atenas, entre eles o ministro de Finanças, teriam admitido a parlamentares que poderiam fechar um entendimento sobre um calote de metade de sua dívida de 350 bilhões, diante de uma série de medidas para evitar um contágio na Espanha e Itália.
A informação foi desmentida pelo governo. Ontem, em Washington, o chefe da pasta de Finanças da Grécia, Evangelos Venizelos, insistiu que o país tem a confiança dos parceiros internacionais e faria de tudo para atingir as metas de redução de déficit. Enquanto ele falava, 2 mil manifestantes se enfrentavam com a polícia no centro da capital.
O discurso oficial se contrasta com a realidade do trabalho nos gabinetes do governo. À reportagem do Estado, funcionários do Ministério das Finanças confirmaram que já fazem estudos sobre como seria o "calote parcial e ordenado".
Merkel
A chanceler alemã Angela Merkel apelou para que a Europa não permita o calote da Grécia, sob o risco de ver a confiança no bloco desmoronar.
O tom no FMI também é de pessimismo. "Se a Grécia não quer ajuda, não há nada que possamos fazer", disse Christine Lagarde, diretora do Fundo. Jean Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, admitiu que o cenário da Grécia é mais crítico que o da quebra do Lehman Brothers, em 2008.
Se uma solução não for encontrada, a meta é a de evitar uma quebra desordenada e pelo menos manter a Grécia na zona do euro. Nos bastidores, governos europeus, Atenas e instituições internacionais já se debruçam para encontrar uma alternativa para permitir que o calote ocorra de forma ordenada. Segundo o jornal Kathimerini, 60% dos gregos acham que o país não tem como evitar um calote.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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