Premiê não resiste à pressão e entrega o cargo, após aprovação pelo Legislativo de pacote de austeridade para conter a crise
Manifestantes fazem festa nas ruas de Roma; presidente pode indicar hoje economista Mario Monti como substituto
Das Agências de Notícias
Após resistir a inúmeros escândalos sexuais, crises políticas e acusações judiciais, Silvio Berlusconi, 75, renunciou ontem ao cargo de primeiro-ministro da Itália.
O ex-premiê deixou o cargo horas após a Câmara dos Deputados aprovar por 380 votos a 260 o Orçamento de 2012, incluindo um pacote de austeridade acertado com a União Europeia.
Apontado como inapto para gerenciar a crise econômica italiana -a dívida do país corresponde a 121% de seu PIB-, Berlusconi vinha sendo pressionado a sair pela reação dos mercados -os juros da dívida bateram recorde nesta semana.
A pressão também vinha da Alemanha e da França, que temem contágio em caso de debacle italiana.
Depois de perder a maioria no Parlamento na última terça, o ex-premiê anunciou que deixaria o cargo somente depois da aprovação do pacote de austeridade.
Especulações de que a exigência de Berlusconi seria uma manobra para estender sua permanência no cargo causaram ainda mais instabilidade, e o presidente Giorgio Napolitano apressou o trâmite do projeto.
As medidas incluem aumento de imposto, congelamento de salários do setor público até 2014 e elevação da idade de aposentadoria.
Na noite de ontem, Berlusconi foi até o palácio presidencial, em Roma, e apresentou a renúncia a Napolitano, sem fazer declarações públicas. Napolitano acenou apoio à indicação do economista e ex-comissário europeu Mario Monti, 68, considerado um tecnocrata liberal.
O partido de Berlusconi, contudo, ameaça rejeitar a indicação de Monti, embora o ex-premiê já o tenha elogiado publicamente. É provável que Berlusconi condicione seu aval à inclusão no governo de transição de seu braço direito, o subsecretário da presidência Gianni Letta.
Antes de renunciar, Berlusconi dissolveu seu gabinete. Napolitano deve se reunir com as principais forças políticas do país para articular a indicação de Monti, que pode ocorrer ainda hoje.
A queda de Berlusconi põe fim a uma era política na Itália que durou 17 anos. Ele esteve à frente do país durante três mandatos (1994 a 1995; 2001 a 2005 e 2008 a 2011) que juntos somaram nove anos e fizeram dele o político que ocupou por mais tempo o posto de primeiro-ministro desde a Segunda Guerra.
Nesse período, enfrentou crises políticas, escândalos envolvendo orgias e acusações judiciais, entre elas suborno, fraude fiscal, abuso de poder e pagamento por sexo com uma adolescente.
Centenas de pessoas comemoraram sua saída em frente ao palácio presidencial e no centro de Roma desde o início da tarde de ontem.
Cantores e instrumentistas de música clássica interpretaram "Aleluia", de Handel, em frente ao palácio. A comemoração dos demais manifestantes foi menos sofisticada. Entre cartazes e gritos de palavras de ordem, Berlusconi foi chamado de "bufão" e de xingamentos menos sutis.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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