Alguns anos atrás, quando a cada semana estouravam escândalos no governo Lula da Silva, a ironia de L.F. Verissimo chegou à conclusão de que, neste país, só se chega a ministro tendo prontuário policial... Sim, pois não se exige curriculum nem credencial ética, muito menos especialização técnica. Para ocupar um dos comandos do país, basta que um dos partidos da “base alugada” (perdão, “base aliada”) indique um apaniguado que não saiba o que fazer e, por isso, faça só o próprio bem-querer.
Assim, temos jornalista mandando nas minas e energia, bacharel tratando da agricultura, um burocrata zé-ninguém nas rodovias e transportes, um especialista em derrubar florestas mandando nos esportes, e outros tais. Nessa miopia geral, não espanta que um diplomata cuide da defesa, pois a guerra vem aí e é preciso muita diplomacia para evitar que Chávez nos invada pelo Norte e os argentinos pelo Sul.
Nem se estranhe que o ministro Lupi, do Trabalho, ponha banca de bonitão e (para seguir no posto) mande um ridículo recado público para a presidente: “Dilma, eu te amo”. A vida inteira, Carlos Lupi foi dono de banca de jornal, exímio em piadas para ampliar a clientela.
Agora descobriu-se que a clientela do Lupi-ministro é outra – as tais ONGs, que pululam como sapos após a chuva, e que o Ministério do Trabalho afaga com verbas generosas, sempre que os assessores ministeriais abocanhem uma percentagem. Tudo bem! Este tipo de assalto já é regra e não surpreende. Cada ministério tem um jeito próprio de meter no bolso de alguns o dinheiro público de todos. O pessoal é criativo: ninguém repete a falcatrua alheia e cada qual inventa a própria, com supina originalidade.
Mas o ministro Lupi tem ainda outra originalidade: a bravata. Faz-se íntimo de Deus e do diabo para exibir-se. Presenciei seu mandonismo fanfarrão no enterro de Leonel Brizola, em 2004, em São Borja. Meteu-se no sepultamento e mandou fechar a tumba, impedindo até que o governador em exercício, Antonio Hohlfeldt, homenageasse em nome dos rio-grandenses aquele que foi nossa figura marcante. E, por quê? Por uma futilidade. Ele tinha um compromisso pessoal noturno no Rio de Janeiro e, no jatinho alugado, queria voltar às pressas, a tempo de banhar-se, barbear-se e se perfumar. E, com isto, “justificou-se”.
No PDT, ele era o ágil “quebra-galhos” de Brizola para conseguir doações financeiras, só isto. Com essas habilidades, passou a comandar o partido e se fez ministro.
O desleixo e a apatia com que o governo e os partidos tratam as denúncias que vêm recaindo sobre ministros, bem retratam nossa pobreza ética. Nada se investiga. A presidente Dilma ordenou “uma devassa” no Ministério dos Transportes, mas a devassidão deve continuar: ninguém sabe dos resultados. Agora, no caso de Lupi, o líder do PDT na Câmara Federal reagiu como se fosse um cúmplice: avisou que, se ele for demitido, o partido deixa de apoiar o governo...
Os “brizolistas históricos” (hoje dissidentes do partido que Brizola fundou), como os ex-deputados Vivaldo Barbosa, José Maurício e Fernando Bandeira e outros, reagiram eticamente e pediram à Controladoria-Geral da União investigar as denúncias. Mas isto é a exceção: aceitar o deslize e o roubo virou regra.
A recente greve dos bancários e dos correios (quase um mês) mostrou a inércia de Lupi. A inépcia em resolver a paralisação de dois setores essenciais já era suficiente para tirá-lo do ministério. Mas ninguém reclamou pela inação de quem, agora e de gravata, graceja com a bravata.
FONTE: ZERO HORA (RS)
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