Em seu segundo mandato, o presidente Barack Obama ganha maior liberdade de ação. Ele pode ser mais assertivo — e o foi, no discurso de posse —, porque não mais disputará cargo eletivo. Mas o tempo corre contra ele. A rigor, tem dois anos para avançar e inscrever o nome na História como um grande presidente — o primeiro negro a ocupar o cargo. Em novembro de 2014 ocorrerão as eleições de meio de mandato, para renovar a Câmara de Representantes e um terço do Senado, além de governos estaduais. Uma recuperação no Senado dos republicanos, que já controlam a Câmara, tornaria torturante os dois últimos anos de Obama e ameaçaria seu legado.
Diante de uma nação em que transcorre duro choque político-partidário, o presidente enfatizou a necessidade de união dos americanos. Mas deixou claro que não pretende tolerar o impasse no Congresso que marcou seu primeiro mandato. Mas precisa combinar com o eleitorado de 2014.
Sua primeira eleição elevou de tal modo as expectativas dos americanos que se apequenaram os feitos obtidos no primeiro mandato. Entre eles, o fato de ter evitado que os EUA caíssem na segunda grande depressão. O surgimento do Tea Party empurrou os republicanos de tal forma para o confronto que o sonho da política “acima dos partidos” logo se revelou uma quimera. Obama se encolheu e perdeu boa parte do encanto que despertara.Mas venceu grande batalha: a reforma do sistema de saúde pública, que garantiu assistência médica a milhões de americanos. Esse compromisso com os menos favorecidos foi decisivo para a reeleição, combinado com alterações demográficas que revelaram expansão de setores da população que tradicionalmente votam nos democratas: imigrantes, com destaque para os hispânicos, negros e pobres.
Obama apresentou, agora, uma agenda liberal (esquerda no jargão americano), bem ao gosto de correntes democratas. Seus planos, entre outros pontos, incluem a reforma das leis de imigração — um aceno a eleitores fieis —, investimentos em rodovias e infraestrutura, direitos e salários iguais para as mulheres e reformulação do código tributário para combater desigualdades. Na posse, não falou no controle do acesso a armas, tema que deverá abordar no discurso do Estado da União, mês que vem, no Congresso. Mas inclui o meio ambiente em sua agenda, outro tema liberal. Obama tornou-se, ainda, o primeiro presidente a assumir, numa posse, o compromisso com a igualdade de direitos de “nossos irmãos e irmãs gays”.
Mas a vida real é implacável. Terá de enfrentar em março mais uma desgastante rodada de negociações com os republicanos em torno do aumento do teto do endividamento público americano. Quando será pressionado por cortes de despesas, uma ameaça à sua promessa de igualdade social. E ainda conspira contra os planos da Casa Branca de intervir militarmente o mínimo possível no exterior a ebulição sectária no Norte da África.
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