Marta diz que Temer vai reunificar o país
• Ao se filiar ao PMDB, ex-petista afirma que Brasil precisa se livrar da corrupção; Cunha pede que sigla ‘largue o PT’
“A gente quer um Brasil livre da corrupção e das mentiras. Afinal, eu estou no PMDB do doutor Ulysses (Guimarães), que redemocratizou o país, e do Michel (Temer), que vai reunificar o país” Marta Suplicy Senadora
Silvia Amorim – O Globo
- SÃO PAULO- Mais do que um evento de filiação, a oficialização da chegada da senadora Marta Suplicy ao PMDB ontem, em São Paulo, foi um ato de demonstração de força do partido diante da crise que atinge o governo da presidente Dilma Rousseff, com direito a duras críticas ao PT. Lideranças peemedebistas exaltaram o tamanho e a história da sigla, para concluir que o PMDB tem todas as credenciais para conduzir o país por um “novo caminho”. No palco, defesa da candidatura própria do partido em 2018.
O apelo pela unidade partidária em momento de crise política foi a tônica dos discursos. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, foi o mais enfático e sugeriu à legenda que siga o exemplo de Marta e rompa com o PT. Anfitriã da festa, a ex-petista disse que o país precisa se livrar da “corrupção e mentiras” e apontou o presidente em exercício, Michel Temer, como aquele que “vai reunificar o país”.
— A gente quer um Brasil livre da corrupção e das mentiras. Livre daqueles que usam a política como meio de obter vantagens pessoais. Afinal, eu estou no PMDB do doutor Ulysses (Guimarães), que redemocratizou o país, e do Michel, que vai reunificar o país — discursou Marta, que ignorou o fato de Cunha e Renan Calheiros serem investigados na Lava-Jato.
“Líder”, “conciliador” e “homem de diálogo” foram algumas das palavras usadas pela senadora para definir Temer. Ainda sem garantias de que sairá candidata à prefeitura de São Paulo, Marta dedicou quase todo seu discurso a fazer afagos aos peemedebistas presentes e ausentes, como o ex-presidente José Sarney, a quem chamou de “gigante da política”:
— É ao PMDB do Michel Temer que me uno. Um líder, conciliador, homem do diálogo, qualidades pessoais essenciais que este momento de crise exige. Todos nós estamos com você.
O presidente da Câmara fez um discurso antiPT ainda mais duro e defendeu que o fortalecimento do PMDB passe por se lançar nas disputas eleitorais a partir do ano que vem.
— Nós não podemos fechar os olhos para o movimento que está acontecendo. É o PMDB crescendo e buscando seu lugar na História, e não abrindo mão de participar de todas as disputas eleitorais daqui para frente. O PMDB tem que ter candidato em todos os municípios, todos os governos estaduais e na Presidência da República. Seja bem-vinda ao PMDB, e que a sua presença possa consolidar o PMDB em São Paulo e no país, e que o PMDB siga seu exemplo. Vamos largar o PT — afirmou Cunha.
O ex-ministro Moreira Franco usou a iniciativa da ex- petista para encorajar o partido a “construir um novo caminho para o país”.
— A Marta abre uma possibilidade real de, em São Paulo, darmos um exemplo para o Brasil de reunificação das forças políticas com as forças populares, e, juntos, construirmos um novo caminho para o nosso país. A Marta tem na sua biografia a marca da mudança. E tenho certeza de que esse sentimento, que já toma conta da ampla maioria do povo brasileiro, agora será fortalecido aqui, e, de São Paulo, haverá uma voz para percorrer o país inteiro. Há necessidade de nós nos reunificarmos para mudar.
Michel Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros, mais alinhados ao Planalto, foram mais comedidos. Evitaram criticar o governo e falar sobre o futuro político.
— O PMDB é um partido de divergências quase permanentes que fazem a sua grandeza. Mas há um momento em que o PMDB converge. É quando se trata do Brasil e do interesse público. Neste momento, há uma convergência absoluta — ponderou Temer, ao encerrar o evento.
Puxão de orelha em Leonardo Picciani
Em meio ao clima anti-PT sobrou até um puxão de orelha público dado pela própria senadora ao deputado federal Leonardo Picciani. O parlamentar se encontrou com Dilma semana passada para tratar de indicações do PMDB para a reforma ministerial. O governo tenta rachar o partido e, com isso, obter governabilidade.
— Picciani, a gente tem que se unir. Então vou pedir de coração que você ouça os mais velhos. A gente está num momento muito importante, e eu gostaria muito de entrar num PMDB que utilizasse a sabedoria acumulada desde o início do partido. O momento é agora — afirmou Marta.
O local escolhido para a filiação de Marta foi o teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o Tuca, símbolo da luta contra a ditadura na cidade. Marta lembrou dos encontros entre lideranças para articular o movimento de retomada da democracia.
Ex-prefeita de São Paulo, a senadora tenta se candidatar mais uma vez à maior prefeitura de país. A ida para o PMDB tem como pano de fundo esse projeto político, já que no PT, onde militou por mais de 30 anos, não conseguiu espaço com a candidatura à reeleição do prefeito Fernando Haddad.
Entretanto, mesmo no PMDB, sua postulação não está garantida. Hoje o partido está na base do governo Haddad; se decidir romper com essa aliança, há pelo menos mais um peemedebista de olho na vaga de prefeitável em 2016. Gabriel Chalita, atual presidente municipal do PMDB, já disse que disputará o posto com Marta se o PMDB decidir que terá candidatura própria em São Paulo.
— Eleição, nós vamos discutir no próximo ano. Se o partido achar que deve ter candidato, quero dizer que eu me coloco para essa disputa — afirmou Chalita ontem.
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