• A forte desvalorização cambial impulsiona as vendas ao exterior, mas não como em crises anteriores, porque o lulopetismo amarrou o país ao Mercosul
O comércio exterior, no deserto de boas notícias em que se transformou o país, virou um oásis. Depois de fechar em déficit no ano passado — de US$ 3,9 bilhões, o pior resultado desde 1998 —, a balança comercial passou a acumular saldos positivos: de janeiro a agosto, obteve um superávit de US$ 7,2 bilhões. O fato é alvissareiro, mas precisa ser relativizado. O superávit é sempre bem-vindo numa economia sob suspeição de credores — haja vista o rebaixamento da nota de risco —, mas ele tem sido acumulado em boa parte devido à recessão interna. Pela queda, portanto, das importações, e não pelo vigor das exportações, também em baixa. Nos primeiros oito meses do ano, elas caíram 16,7% e 21,3%, respectivamente.
A relação de dependência que o Brasil estabeleceu com a China, ávida importadora de commodities nacionais — minério de ferro, soja —, tornou o país vulnerável a instabilidades oriental. É o que acontece com a redução do ritmo de crescimento chinês. Na faixa dos 7%, ele continua robusto, mas distante das taxas de 10%, e até mais, de passado recente. A desaceleração se reflete na queda substancial de cotações de matérias-primas, com impacto negativo direto nas exportações brasileiras.
Não que não se devesse aproveitar o ressurgimento da China como potência mundial. Foi este fato histórico que levou o país a resgatar a dívida externa com divisas chinesas. Mas faltou uma estratégia para quando o ciclo de expansão acelerada do parceiro comercial mudasse de velocidade. Mas, como sempre condicionados por instintos ideológicos, os governos Lula e Dilma mantiveram o comércio exterior brasileiro amarrado a uma relação neocolonial com os chineses e a um Mercosul em crise. Tudo agravado pela aliança do lulopetismo com o kirchnerismo argentino, responsável por permitir a entrada no bloco comercial de aliados geopolíticos contrários a qualquer maior abertura comercial ao mundo — Venezuela, Bolívia e Equador. Uma gritante contradição.
Com o bolivarianismo chavista, o PT comunga o protecionismo. Tanto que veio a crise mundial a partir de 2009 e o Mercosul continuou fechado em si mesmo, enquanto o mundo, à falta de um tratado global de liberalização do comércio no âmbito da OMC, acelerava o fechamento de acordos bilaterais. Que beneficiam outro bloco comercial latino-americano, oposto ao Mercosul, a Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile), aberta ao mundo. Como em crises anteriores, a grande desvalorização do real ajuda as exportações brasileiras. As de manufaturados têm sido bastante favorecidas, pelo câmbio e pelo vigor da retomada americana.
Mas, sem acordos bilaterais com mercados importadores de grande porte, o Brasil não pode contar com o comércio exterior como alavanca para sair da recessão da mesma forma que aconteceu em outros momentos. Mais um prejuízo a ser debitado na conta deste ciclo de quase 13 anos de lulopetismo no Planalto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário