- Folha de S. Paulo
Se não é um livro excepcional, ele é ao menos muito bom e incrivelmente oportuno. Falo de "The Death of Expertise" (a morte da expertise), de Tom Nichols. O autor, um sovietólogo levemente conservador (é republicano, mas fez campanha contra Trump), que ensina no Naval War College e em Harvard, faz uma competente denúncia da tendência anti-intelectualista que vem se firmando nos EUA e no mundo e mostra como ela pode ser perigosa para a democracia.
Para Nichols vivemos numa época paradoxal. Se a disseminação da internet, o mais amplo repositório de informações de todos os tempos, e o avanço da educação de nível superior trouxeram inegáveis ganhos sociais, eles também contribuíram para produzir uma onda antirracionalista que, apoiada num igualitarismo pouco razoável e temperado por muito narcisismo, está destruindo o conhecimento especializado.
Hoje, um paciente se sente apto a pesquisar sua doença por meia hora no Google e já sair discutindo com seu médico qual é o melhor tratamento como se os dois tivessem rigorosamente o mesmo conhecimento sobre a moléstia e a mesma experiência em tratá-la. E isso vale não só para a medicina, mas para quase tudo.
O resultado, sustenta o autor, é um certo desprezo pelo especialista e pela educação (compreendida como um processo mais profundo do que o simples credenciamento por um curso superior) que enfraquece as bases da democracia representativa. Em vez de um público informado e disposto ao diálogo, que seria necessário para consolidá-la, encontramos tribos histéricas prontas a se digladiar umas com as outras ao primeiro sinal de desconforto emocional.
Nichols faz uma boa arqueologia desse processo, mostrando como vieses cognitivos se combinaram com falhas de mercado para produzir essa tendência. Bate forte na internet, nas universidades, na imprensa e nos próprios especialistas.
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