Monnerat e Marcelinho foram alvo de condução coercitiva; Hudson Braga está preso
Juliana Castro | O Globo
Não bastasse as contas do estado em frangalhos, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) acompanha seus homens de confiança serem tragados pelas investigações da Lava-Jato. O próprio peemedebista é citado, embora não responda a nenhum processo. Braço-direito de Pezão na busca pela reeleição para o governo, o ex-secretário e ex-coordenador de campanha Hudson Braga já responde a processo e está atrás das grades.
Na última operação, O Quinto do Ouro, mais dois dos principais colaboradores do governador foram levados coercitivamente para depor: o secretário de Governo, Affonso Monnerat, e o subsecretário de Comunicação, Marcelo Santos Amorim, o Marcelinho. Os laços de amizade com todos vêm desde os tempos em que o peemedebista vivia em Piraí.
Assim como Braga, Marcelinho, de 34 anos, teve função de destaque na estrutura da campanha de reeleição do governador: era encarregado da produção gráfica e da logística nos deslocamentos. Era comum os candidatos a deputado chegarem para falar com Pezão sobre material de campanha, e o governador encaminhá-los para resolver a questão com Marcelinho.
Bacharel em Direito, o subsecretário é como um genro para Pezão. É casado com Luiza Cautiero, a quem o governador considera como filha. Ela é sobrinha da primeira-dama Maria Lúcia. Na eleição de 2012, Marcelinho foi impedido de disputar vaga de vereador em Volta Redonda com base na Lei da Ficha Limpa, porque havia sido condenado por compra de votos. Ele se candidatara ao mesmo cargo em 2008, mas não foi eleito.
O subsecretário é citado em depoimentos ao Ministério Público Federal (MPF) como um dos operadores do suposto esquema de corrupção que envolvia fornecedores do estado e conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). O ex-presidente do órgão e delator Jonas Lopes de Carvalho contou que um dos braços do esquema envolveu a liberação de R$ 160 milhões, em 2016, de um fundo do TCE para o governo estadual, em função da crise financeira.
A transferência ocorreu após a aprovação de uma lei na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e foi direcionada para empresas que forneciam alimentação aos presidiários. O tribunal concordou em dar ajuda financeira desde que as empresas repassassem aos conselheiros 15% dos valores recebidos do governo. Marcelinho, que já tinha uma relação com as companhias, ficaria com 1% do valor arrecadado. Em delação, o advogado Jonas Lopes Neto, filho do ex-presidente do TCE-RJ, diz que Marcelinho “seria o operador de Pezão”. Procurado, o subsecretário disse que já prestou os esclarecimentos à Polícia Federal e que repudia as atribuições imputadas a ele.
Outro levado coercitivamente para depor, Affonso Monnerat, de 55 anos, chegou ao governador pelas mãos do ex-presidente da Alerj Paulo Melo (PMDB), de quem foi chefe de gabinete entre 1995 e 2004. Saiu do cargo para disputar a Prefeitura de Bom Jardim, na Região Serrana, sendo eleito e reeleito. No segundo mandato, deixou a administração municipal para se tornar subsecretário da Região Serrana. A nomeação aconteceu após a tragédia das chuvas na serra.
CITADOS FICARÃO NO GOVERNO
Monnerat responde junto com Hudson Braga a um processo por irregularidades na contratação de empresas para a reconstrução de pontes após a tragédia. A ação corre na Vara Federal de Friburgo. Homem de bastidor, o secretário é avesso à exposição pública e evita até almoços e jantares oficiais.
Monnerat foi citado na delação do ex-presidente do TCERJ. Jonas Lopes disse que se encontrou com Pezão, já como governador, no Palácio Guanabara, para saber quem seria o interlocutor do governo para os repasses ao tribunal. Segundo o ex-conselheiro, o governador deu o nome de Monnerat. O secretário de Governo afirmou, em nota, desconhecer o teor das investigações e disse que não vai comentá-las.
— Cada um fala o que quer, agora tem que provar. Tenho muita confiança neles (Marcelinho e Monnerat) e vão continuar a trabalhar — disse Pezão na última sexta-feira,
Hudson Braga é de Volta Redonda, onde foi secretário. Pezão conhecia o trabalho dele de lá. Depois, continuou acompanhando o desempenho do amigo no governo Rosinha Garotinho, integrado por ambos. A relação já era estreita quando o peemedebista, nomeado para a Secretaria de Obras, designou Braga para ser seu subsecretário na pasta. Braga é acusado de cobrar 1% do valor dos contratos de obras, a “taxa de oxigênio”, mas nega as acusações. Ele foi preso na Operação Calicute, deflagrada em novembro.
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