Os sinais cada vez mais consistentes de que a economia voltou a crescer ainda parecem insuficientes para convencer os eleitores de que a dolorosa recessão atravessada pelo país ficou mesmo para trás.
O pessimismo segue dominante na opinião pública, de acordo com o novo levantamento do Datafolha. Para 61% da população, a situação econômica do país continuou piorando nos últimos meses. Somente 27% apostam em alguma melhora daqui para a frente.
Os números ajudam a entender a impopularidade do governo Michel Temer (PMDB) e a força eleitoral exibida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se mantém na liderança da corrida presidencial, com vantagem significativa sobre seus principais rivais.
Com o desemprego ainda em patamares elevados e sem conseguir enxergar razões para otimismo, é natural que muitos eleitores se lembrem com generosidade do petista, associando-o ao crescimento acelerado que marcou os últimos anos de seu governo, e não ao desastre que sobreveio quando esse ritmo se revelou insustentável.
Lula aparece à frente dos adversários em todos os cenários considerados pelo Datafolha para a disputa eleitoral do próximo ano, com pelo menos 36% das intenções de voto. Seu favoritismo se mantém nas várias simulações de segundo turno, apesar do enorme desgaste causado pelos processos que ele enfrenta na Justiça –e que ameaçam impedi-lo de se candidatar.
O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que hoje aparece como segundo colocado na corrida, alcança seus melhores índices justamente em estratos do eleitorado que foram mais atingidos pela recessão, como os jovens de 16 a 24 anos. Nos cenários em que Lula está fora da disputa, Bolsonaro soma 33% das intenções de voto nessa faixa.
Parece provável que a recuperação da economia no próximo ano dê impulso a candidaturas de perfil mais moderado. Mas não há sinais, ao menos até agora, de uma retomada vigorosa a ponto de conferir favoritismo a uma chapa que ocupe o centro do espectro político e se distancie do discurso populista favorecido até agora.
Como indicam as dificuldades enfrentadas pelo governo para convencer seus aliados no Congresso a aprovar a reforma da Previdência Social, será complexo apresentar ao eleitorado uma plataforma de ajustes orçamentários.
Mas a incerteza sobre a economia –que tende a crescer se o desequilíbrio nas contas públicas não for corrigido– também alimentará pressões para que os candidatos se afastem do caminho fácil da demagogia e ofereçam alternativas que inspirem confiança em empresários e consumidores.
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