Enquanto direita e esquerda ostentam seus candidatos para 2018, centro sofre com falta de opções
Inconformado com os serviços dos motoristas de táxi em Nova York, o comediante americano Jerry Seinfeld indagou, certa vez, quais seriam as qualificações exigidas oficialmente para o exercício da atividade.
Não seriam, decerto, a perícia e a prudência ao dirigir pelas ruas da cidade; o domínio da língua inglesa tampouco se mostrava necessário. Talvez, brincou Seinfeld, os taxistas só precisem dispor de um rosto —para que possam estampar um retrato no documento.
Não seria muito exagero considerar que o comentário se aplica, no Brasil de hoje, às pré-candidaturas presidenciais no campo liberal-conservador mais ou menos alinhado ao governismo.
Enquanto a direita pode ostentar o nome do deputado Jair Bolsonaro(PSC-RJ), e a esquerda aguarda um desfecho para a postulação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o terreno intermediário se mostra em estado de aridez.
Esfumado o devaneio televisivo em torno de Luciano Huck, há quem cogite o nome do empresário Flávio Rocha, da Riachuelo, como alternativa ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
Embora não falte ao tucano um histórico administrativo e político já extenso e coerente, seu crônico deficit de carisma evoca outra criação do mundo humorístico nova-iorquino, desta vez assinada por Woody Allen: a daquele personagem do filme “Desconstruindo Harry” cuja imagem aparecia constantemente desfocada na tela.
Nesse ambiente espectral, tudo pode acontecer. Embora inacreditável, não admira que uma nova hipótese comece a tomar forma: a de um Michel Temer (MDB) candidato à reeleição.
Seria, talvez, inédito que um político com níveis residuais de popularidade (6% da população, segundo o Datafolha, consideram bom ou ótimo o seu governo) ostentasse a autoconfiança necessária para se expor ao teste das urnas.
Mas a cartada da intervenção federal no Rio de Janeiro substitui, com óbvia vantagem de popularidade, a agenda da reforma previdenciária —que agora morre, como a carta desparelha do clássico jogo de baralho, nas mãos do ministro Henrique Meirelles, ele próprio candidato a candidato.
Poderiam estar reservados a este último os louros eleitorais —por enquanto mirrados— do controle da inflação e da retomada do crescimento. Ao lado da nova bandeira da segurança pública, os sucessos do governo nessa área não deixam, em tese, de estar disponíveis para o discurso eleitoral de Temer.
São inúmeros, naturalmente, os flancos a que está exposta a ideia da reeleição. Mas, numa situação em que também o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e o ex-presidente Fernando Collor (PTC) chegam a animar-se para a disputa, nada mais espanta.
Como nenhum serve, serve qualquer um. O talento dos marqueteiros políticos nunca terá sido, provavelmente, tão desafiado.
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