Desgaste ético e disputa por recursos devem levar sigla a perder até seis de seus nove integrantes na Câmara
Igor Mello | O Globo
A saída do ex-prefeito Eduardo Paes, comunicada ao ministro Moreira Franco no fim de semana passado, é a maior, mas não será a única baixa nas fileiras do PMDB fluminense. Desgastado pelas prisões de suas principais lideranças e em meio à disputa por recursos de campanha, o partido deve perder até seis dos nove deputados federais que têm hoje. Os parlamentares usarão a janela partidária de março para mudar de ares sem ter seus mandatos ameaçados por infidelidade partidária.
Diante da crise, um grupo tenta mudar a correlação de forças no partido, hoje dominado pelos clãs Cabral e Picciani, e prega a refundação do diretório do Rio. Na esteira da movimentação de Paes, seu braço-direito, Pedro Paulo, também deixará o PMDB. O destino mais provável da dupla é o PP do vice-governador Francisco Dornelles. Aos dois deve se juntar à deputada Soraya Santos, marinheira de primeira viagem na Câmara.
Neste mês, Celso Pansera anunciou publicamente que irá para o PT. Também já sacramentou a saída do PMDB a deputada Laura Carneiro, que acerta os últimos detalhes de seu retorno ao DEM. Ambos viram sua situação na legenda se tornar insustentável ao votarem a favor da aceitação das denúncias contra o presidente Michel Temer, contrariando a orientação partidária. Em ambas as votações, o PMDB fechou questão pela rejeição das denúncias. Como retaliação, Laura foi retirada da vice-liderança peemedebista na Câmara.
Eleito pelo PR em 2014, Altineu Côrtes ensaia uma volta para o partido, mas também conversa com o Avante. O deputado tem dito a pessoas próximas que a sua segunda passagem pelo PMDB chegou ao fim. Ao longo de sua carreira, ele também passou pelo PT.
O último na lista é Alexandre Serfiotis. Eleito pelo PSD, o parlamentar é um cristão-novo nos quadros do PMDB, tendo se filiado na janela partidária de 2016. Fontes afirmam que ele ainda não tomou a decisão de sair, mas que vem sendo procurado ativamente por outros partidos.
Um dos parlamentares do PMDB, que pediu anonimato, afirma que a disputa interna pelo poder no diretório fluminense — iniciada após a prisão do presidente do partido no Rio, Jorge Picciani — tem agravado o quadro, que já é ruim.
— Deveriam estar tentando salvar a imagem do PMDB, mas na verdade a briga é pelo Fundo Eleitoral. É um processo autofágico — lamenta.
A declaração revela que a debandada do partido não se deve exclusivamente à questão ética após a prisão do comando da sigla no Rio. Em jogo, estão os R$ 888 milhões do Fundo Partidário e o bolo de R$ 1,7 bilhão do Fundo Eleitoral que as siglas irão repartir.
Outro deputado questiona a montagem da nominata para a próxima eleição, que, segundo ele, estaria desprestigiando os deputados federais.
— O problema não é o desgaste, é a desorganização do partido. O governo do estado tem candidatos que são empoderados pela máquina nessa coligação com o PP, que deve sair. É uma coisa violenta e não estou aqui para ser usado — reclama, citando o secretário da Casa Civil, Christino Áureo (PP), e o presidente do Detran-RJ, Vinícius Farah, como beneficiados.
Leonardo Picciani, ministro do Esporte, divide o comando do PMDB no Rio com Marco Antônio Cabral após as prisões da Operação Cadeia Velha. Segundo ele, o partido oferece as melhores condições para seus candidatos:
— Quem quer sair sempre buscará um argumento. Não tenho a menor dúvida de que teremos a melhor nominata. Mesmo se todos esses saírem.
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