Mario Draghi defendeu mudanças radicais na forma como a Europa atua diante de riscos financeiros
Reuters, O Estado de S.Paulo
PISA/ ITÁLIA - A disseminação de uma ideologia contrária ao liberalismo está ameaçando o euro, mas é uma ilusão achar que isso oferece um caminho mais fácil, disse o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, ontem.
Advertindo que uma união monetária inacabada pode estar em risco na próxima crise, Draghi defendeu mudanças radicais na forma como o bloco europeu opera diante de riscos financeiros.
“O fascínio pelas prescrições e regimes iliberais está se espalhando; estamos vendo pequenos passos para trás na história”, disse Draghi em Pisa, na Itália.
“Somente continuando a progredir, liberando as energias individuais, mas também estimulando a equidade social, vamos salvar (o projeto europeu) através de nossas democracias, com uma unidade de propósito”, acrescentou.
Partidos anti-establishment e muitas vezes populistas fizeram progressos políticos em todo o mundo nos últimos anos, desafiando os princípios do comércio aberto, cooperação multilateral e até mesmo a democracia, disse.
Draghi, responsável por salvar o euro na pior crise da Europa, pediu maior compartilhamento de risco privado, a conclusão dos sindicatos bancários e de mercado de capitais. Ele defendeu também a adoção de mecanismos de apoio que ajudem os membros mais fracos do bloco europeu em caso de estresse no mercado.
Atrasos
Grandes reformas praticamente pararam nos últimos anos no bloco europeu, principalmente por conta da resistência da Alemanha, que teme que seus contribuintes paguem a conta da irresponsabilidade fiscal e dos excessos dos membros mais fracos do euro.
“Sem os controles apropriados no nível da zona do euro, os países individuais em uma união monetária podem ser expostos à dinâmica de profecia autorrealizável nos mercados de dívida soberana”, disse Draghi, num provável alerta à Itália, que viu custos de empréstimos nitidamente mais altos recentemente.
Desalinhamento
Mario Draghi também disse que o euro hoje não é tão rígido quanto alguns argumentam.
Mesmo que o euro seja forte demais para alguns membros e fraco demais para os outros, esse desalinhamento decaiu nos últimos anos, argumentou ele.
Segundo o presidente do Banco Central Europeu, a depreciação cambial também traria poucos benefícios. Isso porque, na sua avaliação, seria necessária uma grande desvalorização da moeda para obter uma vantagem real, que ameaçaria a existência do mercado único e o bem-estar dos membros mais pobres da sociedade, disse.
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