Até o Zero Um aproveita a pandemia para pedir a Paulo Guedes que libere
‘um dinheirinho’
O senador Flávio Bolsonaro, o Zero Um, não poderia ter sido
mais explícito: “O Paulo Guedes vai ter que dar um jeito de arrumar mais um
dinheirinho para a gente dar continuidade a essas ações que têm impacto social e
na infraestrutura”, disse ontem no GLOBO. Assim funciona o Brasil. Falta
dinheiro? Pede ao ministro, ele dá “um jeito de arrumar”. O espírito que não vê
obstáculo à alta de gastos está aí desde que Rui Barbosa assumiu o Ministério da
Fazenda depois da Proclamação da República e, para estimular a industrialização,
adotou a política de emissões descontroladas que resultou no Encilhamento. Volta
e meia ressurge e, invariavelmente, acaba em inflação ou crise nas contas
externas, em meio a recessão e estagnação.
A pandemia, que impôs mais gastos na
crise, abriu uma nova oportunidade ao ímpeto desenvolvimentista. Seus
partidários acenam com uma recuperação mais rápida se o Tesouro aproveitar o
momento em que acertadamente libera bilhões ao combate da crise sanitária e do
desamparo para também destinar recursos à infraestrutura. É uma causa
politicamente atraente a aliados políticos do governo, que este ano enfrentam
eleições locais.
O primeiro sinal visível de que o governo Bolsonaro reproduz o
padrão histórico — a divisão entre quem deseja usar o Estado para acelerar a
economia e os que se preocupam com equilíbrio fiscal e inflação — surgiu quando
os militares do Planalto, mas não só eles, levaram ao presidente a proposta do
Pró-Brasil. Renascia um programa que já teve vários nomes: Plano de Metas
(Juscelino), PND (Geisel), PAC (Lula e Dilma). Sempre justificado pelo meritório
objetivo de queimar etapas na corrida para o Brasil se tornar um país
desenvolvido.
O Pró-Brasil tem o DNA de Rui Barbosa e deriva também da cepa
desenvolvimentista oriunda dos quartéis — decisiva, no governo Geisel, para o
aprofundamento da participação do Estado na economia, por meio do programa de
substituição de importações, conduzido por um BNDES sustentado pelo Tesouro
(modelo depois usado pelos petistas Lula e Dilma). Entende-se por que foi
apresentado pelo ministro Braga Netto, general da ativa não faz muito tempo.
Partiu de seu aliado, o ministro Rogério Marinho, a tentativa de excluir os
investimentos do teto de gastos, drible para “arrumar um dinheirinho”.
Pela
legislação fiscal, qualquer “dinheirinho” precisará sair de algum lugar, e os
balões de ensaio do governo mal disfarçam a intenção de elevar a carga
tributária. Bolsonaro, vale dizer, declara ser contra. Mas a tentação parece
irresistível mesmo a Guedes, um liberal que representou, nas urnas em 2018, a
antítese do ímpeto desenvolvimentista. Desde o tempo de Rui Barbosa, sabemos que
“arrumar um dinheirinho” sem lastro custa caro lá na frente. Por que daria certo
agora?
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