Folha de S. Paulo
Não seria espetacular ter um Fundo
Monetário de fomento ao empreendedorismo negro e um Museu Nacional da
Escravização no Brasil?
Fim de ano costuma ser uma época de
reflexão na qual, em meio a festejos e promessas, muitas vezes nos damos conta
de que nossas ambições nem sempre se coadunam com a realidade.
Foi envolta numa atmosfera nostálgica que,
às vésperas do Natal, recebi de um amigo uma notícia alvissareira divulgada
pela AFP: O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, sugeriu que a escravatura
seja considerada "crime contra a humanidade". E não ficou
por aí.
Apresentou um pedido formal de desculpas pelo papel do país no processo de escravização e anunciou a criação de um Fundo Monetário de Fomento a Iniciativas Antidiscriminatórias, composto por 200 milhões de euros, no Reino dos Países Baixos e suas ex-colônias.
"Não se trata de compensação
financeira para todos os danos do passado, mas do adequado financiamento
estrutural para neutralizar os efeitos prejudiciais daquele passado no
presente." Wow!
Considerando o papel desempenhado pela
Holanda no tráfico negreiro, achei a atitude muito animadora —ainda que
esteja gerando polêmica, posto que menos de 40% dos holandeses concordam com o
raciocínio do primeiro-ministro.
Entre as medidas anunciadas por lá, estão:
Promoção do conhecimento quanto aos prejuízos atuais do processo de tráfico
transatlântico de pessoas negras; Campanhas de combate ao racismo e à
discriminação; e Construção do Museu Nacional da Escravidão, em Amsterdã.
Várias dessas ações podem servir de
inspiração para o governo brasileiro, sendo que algumas até já estão previstas
na lei 10.639. Não seria espetacular contar com um Fundo Monetário de fomento
ao empreendedorismo negro e com um Museu Nacional da Escravização no Brasil?
Parecem ótimas sugestões de presentes de
Natal, além de promessas dignas de alimentar a esperança na construção de um
novo tempo, a partir de 2023, neste nosso país racista e desigual, que
concentra a maior população negra fora da África.
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