O Globo
Assim como Bolsonaro, o senador Flávio não
tem experiência de gestão de coisa nenhuma, e, diferente do pai, não tem
votação própria, depende do apoio dele para se eleger qualquer coisa.
A partir da decisão do ex-presidente
Bolsonaro de indicar seu filho Flávio para candidato à presidência da
República, abre-se um caminho para aqueles que conseguirem substituir o
governador de São Paulo Tarcísio de Freitas na preferência da classe média e do
mercado financeiro, que já mostrou sua preocupação com a fragilidade de Flávio
e a vantagem que o presidente Lula ganha com uma escolha tão desastrada para
disputar com ele.
Só o fato de que a família Bolsonaro pretende fechar entre os seus as decisões da campanha eleitoral retira da candidatura a possibilidade de ampliar sua penetração em outros setores da sociedade. Os candidatos alternativos à polarização entre lulistas e bolsonaristas terão um espaço ampliado à direita e ao centro, pois a preferência por Tarcísio de Freitas indica que o que esse nicho eleitoral buscava era um candidato competitivo que tivesse o apoio de Bolsonaro, mas que fosse distante o suficiente dele para ter autonomia de voo quando governasse.
Um candidato de direita que não fosse
extremista, que tivesse uma visão administrativa moderna, que não fosse
populista a ponto de esquecer a necessidade de um equilíbrio financeiro, mas
com a proximidade popular que a chancela de Bolsonaro garantiria. Lula foi o
preferido depois do governo temerário de Bolsonaro, mas por margem apertada.
Agora procuravam um candidato distante de Lula, mas também do golpismo de
Bolsonaro.
A subserviência de Tarcísio a Bolsonaro já
incomodava parte desse eleitorado, que via na busca de apoio excessivo comprometimento
do governador de São Paulo com temas caros ao ex-presidente como escolas cívico
militares. Mas Tarcísio só ganhou o destaque na corrida presidencial por ter
tido uma administração exitosa do maior estado brasileiro. Assim como
Bolsonaro, o senador Flávio não tem experiência de gestão de coisa nenhuma, e,
diferente do pai, não tem votação própria, depende do apoio dele para se eleger
qualquer coisa.
Seria facilmente um dos dois senadores
eleitos em qualquer Estado brasileiro, assim como sua madrasta Michele, que tem
mais brilho pessoal que ele. Os irmãos, nem se fale. Vivem como os herdeiros de
milionários que não encontraram o que fazer da vida e só gastam o patrimônio
familiar, sem acrescentar nada deles ao legado da família. A prisão de
Bolsonaro e a derrota anunciada de Flavio devem colocar um fim à saga
extraordinária da família Bolsonaro na história política brasileira, ainda mais
se um candidato de direita conseguir ir para o segundo turno.
A experiência desastrosa de Bolsonaro na
presidência conseguiu ofuscar o temor de que, com Lula, iríamos acabar como a
Venezuela. No mínimo, com a tentativa golpista da extrema direita, mais real do
que qualquer conspiração esquerdista que Lula teima em revigorar com seus
acenos a ditadores e autocratas, os que não são militantes nem da direita nem
da esquerda podem ficar tentados a alternativas mais conservadoras à
centro-direita, já que a esquerda não ofertará ao eleitorado um candidato
alternativo a Lula.
Esse grupo terá diversos candidatos, como os
governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, o do Paraná, Ratinho Junior, o do Rio
Grande do Sul, Eduardo Leite, e outros. Não é à toa que os políticos do Centrão
ficaram reticentes diante do anúncio de que Flávio Bolsonaro foi o escolhido.
Não são de extrema-direita, mas têm o cheiro da vitória e sabem para que lado o
vento sopra. Não é na direção de Flávio, poderia ser na de Michele. Terão que
ter muito tato para aderir a uma candidatura que não estava nos planos, e
Flávio não parece daqueles políticos que arrebatam as multidões, tornando
irreversível a escolha do pai.
O Centrão aderiu a Bolsonaro depois de ter
recebido o Orçamento da República, e dificilmente aderirão a Flavio em troca do
que já controlam. Se têm condições de enfrentar Lula na presidência, terão mais
facilidade para encarar o filho, cujo pai já capitulou a eles. A fraqueza
eleitoral de Flavio sugere que ainda teremos novos capítulos nessa saga
brasileira.

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