Folha de S. Paulo
É bom lembrar que senadora foi peça-chave
para vitória de Lula e dialoga com moderados
O ministério de Lula já
está quase todo formado. Dos quatro nomes que defendi na última coluna, Nísia Trindade já se tornou a primeira ministra da Saúde da
história do Brasil. Izolda Cela será secretária de educação básica (ministra
seria melhor, Lula).
Tudo indica que Marina
Silva será ministra do Meio Ambiente. Ainda falta Simone
Tebet, mas ainda não sabemos que ministério a emedebista receberá, ou mesmo
se, de fato, participará do governo.
Acho importante oferecer um bom ministério para Tebet, algo que tenha orçamento razoável e/ou boas possibilidades de projeção política.
Em primeiro lugar, é bom lembrar que, mesmo
se Tebet tiver transferido apenas metade de seus votos no primeiro turno para
Lula no segundo, isso é mais ou menos a margem da vitória. Lula é um gigante que quase venceu no primeiro turno.
Mas se os democratas tivessem só os votos de Lula, perderiam a eleição mesmo
tendo cerca de 49% dos votos.
Jair está trancado em casa chorando faz dois meses por
ter passado por essa experiência. Algum democrata gostaria de estar no seu
lugar? Tebet é uma das principais suspeitas de não ter deixado isso
acontecer.
Em segundo lugar, Tebet pagou um preço
político por apoiar Lula. Não estava na posição de, por exemplo, Ciro
Gomes, cujo eleitorado de esquerda já pendia mesmo para o petista. Foi
eleita por um estado fortemente bolsonarista. E se o velho Brizola assistiu ao
segundo turno do céu, certamente deve ter achado que a candidata do PDT era
Tebet, porque quem fez campanha pela democracia foi ela.
Por isso, e não por gratidão pessoal (o que
também importa, em certa medida), sua inserção no ministério de Lula é
importante: ela mantém, pelo menos por enquanto, o diálogo aberto entre petistas e setores do eleitorado
anteriormente ligados aos tucanos, mas que não são hostis a um governo de
esquerda moderado. Pode não ser uma aliança viável no longo prazo, mas vale a
pena matá-la na origem?
Tebet pediu a Lula o ministério do Desenvolvimento Social, mas
não o conseguiu. Queria a vitrine dos programas sociais, a área em que os
governos do PT sempre souberam trabalhar. O PT não aceitou sua indicação
justamente para não perder essa marca.
Não sei se qualquer dos dois tem
razão: o Ministério do Desenvolvimento social até hoje não gerou
nenhum presidenciável. O reconhecimento pelas políticas sociais sempre é do
presidente.
Dos ministérios que, segundo o noticiário, ainda estão na mesa,
destacam-se Planejamento e Cidades. Cidades é uma boa opção, com orçamento
grande e visibilidade. Planejamento poderia ser uma oportunidade de reforçar a
equipe econômica com nomes mais amigáveis ao mercado, o que talvez ajudasse a
projetar Tebet.
Mas as chances disso dar certo dependeriam
de que funções ficariam com o recém-recriado ministério do Planejamento e, é
claro, de como seria a divisão de tarefas com Haddad.
Não sei qual será o resultado da negociação
sobre o ministério de Tebet. Talvez não haja solução, e a Frente Ampla se dissolva depois de ter derrotado
Bolsonaro, uma realização histórica gigantesca, como o Plano Real ou o Bolsa Família.
Se acontecer, não será o fim do mundo, mas
será difícil não ter a sensação de que uma oportunidade importantíssima foi
perdida.
Um comentário:
Concordo com o colunista.
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