O Globo
Lula protegeu seu mandato na tarde do dia
8, ao refugar a proposta de decretação do expediente de Garantia da Lei e da
Ordem
Na sua entrevista à repórter Natuza Nery,
Lula mostrou que, por instinto, protegeu seu mandato na tarde do dia 8, ao
refugar a proposta de decretação do expediente de Garantia da Lei e da Ordem, a
GLO. Se ele aceitasse a proposta, mobilizaria as Forças Armadas para
restabelecer a paz em Brasília. Depois disso, sabe-se lá o que aconteceria, mas
esse era o caminho defendido também por pessoas que não gostam dele.
Há anos, Jair Bolsonaro sonhava com
Apocalipses que chamariam a tropa. Às 17h10min do dia 8, o general da reserva
Hamilton Mourão, ex-vice presidente e senador eleito pelo Rio Grande do Sul,
escreveu: “Repito que o governo do Distrito Federal é responsável e, caso não
tenha condições, que peça ao governo federal um decreto de Garantia da Lei e da
Ordem.”
Quando Mourão ofereceu esse caminho, o Congresso, o Planalto e o Supremo Tribunal já haviam sido invadidos. O painel de Di Cavalcanti, esfaqueado, o relógio de D. João VI, atirado ao chão, e o armário do ministro Alexandre de Moraes, arrombado. Às 17h02min, a Agência Brasil informou que uma tropa do Batalhão da Guarda Presidencial estava chegando ao Planalto e o Choque da PM havia retomado o Supremo.
Às 17h55min, foi ao ar a fala de Lula
chutando a bola na pequena área ao decretar a intervenção federal na segurança
pública de Brasília. Era a exclusão da alternativa da GLO que vinha de seus
correligionários.
(Esta foi a segunda vez que aliados de Lula
tentavam mover a peça errada. No dia do segundo turno, quando a Polícia
Rodoviária Federal parava ônibus de eleitores no Nordeste, petistas queriam
prorrogar o encerramento da coleta de votos. Nesse episódio, quem tirou a bola
da pequena área foi Alexandre de Moraes. Ele percebeu que o adiamento poderia
robustecer uma proposta de cancelamento do pleito.)
Só as investigações mostrarão o que havia
no panelão do golpe do dia 8 de janeiro. Deixando de lado as palavras, o que
não é pouca coisa, trata-se de juntar os pontos.
Desde dezembro, incendiaram-se carros e
ônibus em Brasília, numa noite em que a sede da Polícia Federal foi atacada.
Quatro torres de transmissão de energia foram derrubadas. Três pessoas já
confessaram que preparavam um atentado explodindo um caminhão de combustível
nas cercanias do aeroporto e detonando uma subestação de energia. George Washington
de Oliveira e Souza, metido nesse projeto de atentado, foi claro: Dariam
“início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio.”
A GLO é a prima pobre do estado de defesa
proposto no papel guardado pelo ex-ministro Anderson Torres que, por sua vez, é
a prima pobre do estado de sítio.
A confiança de Lula
No seu café da manhã com jornalistas, Lula
tratou da invasão do Palácio do Planalto e disse o seguinte: “Eu perdi a
confiança, simplesmente. Na hora que eu recuperar a confiança, eu volto à
normalidade”
“Eu pego no jornal um motorista do
(general) Heleno dizendo que vai me matar e que não vou subir a rampa. Outro
tenente diz que vai me dar um tiro na cabeça, que não vou subir a rampa. Como
vou ter uma pessoa na porta da minha sala que pode me dar um tiro?”
No dia seguinte, o general da reserva
Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o
governo de Michel Temer, respondeu:
“Passado o triste episódio do dia 8, o
presidente Lula, comandante supremo das Forças Armadas, dá uma declaração clara
à imprensa de que não confia nas Forças Armadas. Como é que se pacifica o país
a partir daí?"
Lula tratava de situações concretas. Noves
fora as diatribes do motorista e do sargento, o mundo viu a invasão do palácio
presidencial na tarde do dia 8. O prédio, bem como o Palácio da Alvorada, é
protegido pelo Batalhão da Guarda Presidencial, e sua inação ficou
documentalmente comprovada.
Se um general tem o seu quartel vandalizado
numa tarde de domingo, o mínimo que tem a fazer é desconfiar da guarda. A raiz
dessa desconfiança não precisa ser política, é operacional. Lula não disse que
“não confia nas Forças Armadas.” Podia ter sido mais preciso, porém o
comentário envolvia uma inação operacional.
Em 1977, quando o presidente Ernesto Geisel
decidiu demitir o ministro do Exército, general Sylvio Frota, acautelou-se
montando três dispositivos, sem que cada um deles soubesse da existência dos
outros. Além disso, escolheu a primeira quinzena de outubro porque, naquele
período, de acordo com um rodízio, os palácios estavam sob a proteção do
Regimento de Cavalaria de Guarda. Com razão, ele não confiava no coronel que
comandava o Batalhão da Guarda Presidencial. (Duas semanas depois, sem
estridência, o novo ministro substituiu-o.)
Guarda Nacional
Não podia ser pior, por inútil e
redundante, além de mal afamada, a ideia de criação de uma Guarda Nacional para
ser encarregada da segurança de uma área específica do Distrito Federal. É
inútil e redundante, porque em Brasília há oito polícias, a Civil, a Militar, a
Federal, a da Câmara, a do Senado e mais uma para cada Força Armada.
A ideia seria criar uma Guarda Nacional
formada por pessoas aprovadas em concurso público. Nada a ver com milícia, mas
o nome remete a uma instituição criada no Império. Depois da Guerra do
Paraguai, essa Guarda passou a ser vista com desconfiança por muitos militares.
No dia 9 de novembro de 1889, um renomado
político e jornalista publicou um artigo intitulado “O plano contra a pátria”,
excitando os brios da tropa. Numa excelsa vivandagem, ele dizia:
“O exército ir-se-á escoando, batalhão a
batalhão, até desaparecer da capital do Império o último soldado, e ficar o Rio
de Janeiro entregue às forças do conde d’Eu: a polícia, a guarda cívica, a
Guarda Nacional.”
Uma semana depois, a tropa depôs o
Imperador, desterrou-o com o genro conde e a família, empossando um marechal. O
jornalista foi nomeado ministro da Fazenda. Chamava-se Rui Barbosa.
Lula e o BC
Num período de 24 horas, Lula atacou duas
vezes a autonomia do Banco Central. Numa, disse que essa independência é uma
“bobagem”. Desde 1º de janeiro, seu ministro da Fazenda condenou a taxa de
juros fixada pelo BC em duas outras ocasiões. A autonomia do BC e de sua
prerrogativa de fixar a taxa de juros são consequências de uma lei aprovada
pelo Congresso. A taxa de 13,75% pode justificar amplos debates acadêmicos, mas
como a autonomia do BC é um imperativo legal, discuti-la com a metodologia dos
palanques é coisa perigosa. Afinal, a bandeira da legalidade protege muitas
outras coisas.
Festa nos tribunais
A encrenca das Americanas fez a festa de
algumas bancas de advocacia. Assim como a Lava-Jato fez a alegria de bons
criminalistas, as Americanas levaram uma lufada de sorte para advogados
especializados em litígios comerciais. Todo mundo está brigando com todo mundo.
8 comentários:
Permita algumas considerações:
1. Lula não farejou nada, apenas teve medo de aplicar a GLO e não ser obedecido. Só isso.
2. Os militares, claramente, bolsonaristas e golpistas não acatariam a ordem, bem como poderiam aproveitar a bagunça e consumar o golpe. Posto que, tecnicamente, o golpe estava dado, as três casas Congresso, Executivo e Judiciário já tinham sido tomadas.
Todos torcemos para que a Democracia seja mantida e será, porém não vamos criar falsos heróis.
"...Lula mostrou que, por instinto, protegeu seu mandato na tarde do dia 8 (de janeiro de 2023)...", diz Elio Gaspari.
Exatos 45 minutos após o vice-bolsonaro Mourão ter sugerido o uso golpista de GLO, Lula tomou a decisão correta e decretou imediata intervenção no DF.
Elio Gaspari levou 15 dias para entender o que Lula decidiu em 45 minutos, e que chamou de instinto; e mesmo assim só conseguiu fazê-lo no dia seguinte à demissão por Lula do minúsculo ministro do exército general júlio césar de arruda, o breve, que permaneceu no cargo por 23 dias.
Vamos ver quanto tempo o ilustre colunista a soldo levará para engolir e compreender mais este ato presidencial.
Falsos heróis? O Brasil acaba de sair de uma ressaca antidemocrática provocada por verdadeiros canalhas golpistas. E o movimento que levou à derrota do fascismo bundalelê teve em Lula um herói em si, um herói sem querer querendo. O boçal queria um golpe dentro das quatro linhas (estado de sítio, estado de defesa ou glo glo glo). Mas graças a verdadeiros heróis anônimos ou celebridades o movimento golpista gorou.
Milicos só fazem M., com maiúscula. Nossas FA pra nada servem. O novo comandante do EB, ainda q agindo como manda a CF, não tem o condão de justificar a existência de uma instituição inútil.
Pra q servem nossas FA? E contra q inimigos?
Os inimigos dos milicos são pessoas como Lula ou de esquerda.
A propósito: o EB não viu nada do q acontece com os Yanomamis?
Duas respostas.
Viram e nada fizeram, o q é criminoso.
Não viram, o q é prova de incompetência.
Cadê a inteligência miliquenta?
Rá, inteligência...
PQP! Brasileiros morrendo de fome e nenhum relatório militar?
Milicos querem jatos, tanques, subs, etc. Pra q? Tem brasileiros sendo massacrados e vastos recursos inutilizados nas FA...
Alguma linha dos milicos sobre o w acontece com aquela gente? Pra q servem as barracas, as marmitas, os médicos, os enfermeiros, os hospitais de campanha militares, pra q serve a fortuna gasta com estes milicos? Todo esse material tá novinho e inútil em quartéis nos Rio, SP... i-nú-teis...
Pare de reclamar das FA. Elas existem pra proteger o Brasil.
Só tem um pequeníssimo probleminha (redundância).
As forças armadas não perceberam q foram dominadas pelo inimigo do Brasil, uma corja fascista de inspiração nazista, liderada pelo genocida q, inclusive, foi expulso do EB por mau soldado ter sido.
Terem sido conquistadas pelo inimigo do Brasil não foi o começo da derrocada dos milicos, q culmina agora com a exoneração do comandante do EB pelas forças de intervenção do estadista Lula - é q forças armadas conquistadas tão facilmente por um incompetente como o biroliro já se encontram descendo a ladeira da vergonha há muito tempo.
Lula terá muito trabalho pra q nossas FA não sejam cooptadas com tanta facilidade. Puts, como foi fácil conquista-las.
Comentários inteligentes e pertinentes.
Biroliro???!!! Kkkkkkkkkkl
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