domingo, 22 de janeiro de 2023

Hélio Schwartsman - Não tão preto no branco

Folha de S. Paulo

Livro traça a história do racismo e faz crítica de esquerda

O livro "Not So Black and White" (não tão preto no branco), de Kenan Malik, pode ser descrito como uma crítica de esquerda à política identitária. Para dar peso a seus argumentos, ele traça uma história do racismo desde seu surgimento, em fins do século 18, até os dias atuais. E aí nos faz viajar por lugares, períodos e movimentos definidores, como a revolução haitiana, a Alemanha nazista e o Black Lives Matter.

Para o autor, o racismo é a reação da direita às teses universalistas do Iluminismo, que afirmavam que não havia diferenças significativas entre as pessoas. Para contrapor-se a isso, a direita reacionária veio com a ideia de raça. Diferenças biológicas, mentais e de valores observadas entre os grupos étnicos é que forjariam a identidade de cada indivíduo.

Africanos não foram escravizados porque eram negros; o discurso de negros como uma categoria racial distinta é que surgiu para justificar a escravização. Foi esse mecanismo que permitiu que os EUA, embora trouxessem em seu documento fundador uma profissão de fé na igualdade entre os homens, vivessem por quase um século como nação escravocrata. Nesse sentido, o racismo está inscrito no DNA americano.

Militantes do movimento negro perceberam isso e desenvolveram um pessimismo racial. Para eles, o racismo é inerradicável. E, já que tentativas de alterar esse "statu quo" são fúteis, só o que resta é denunciar a situação e cobrar gestos simbólicos de reparação. Na esquerda, essa tendência foi reforçada pelo enfraquecimento dos movimentos sindicais e pelo quase abandono da ideia de classe social como uma categoria sociologicamente relevante. Classes sociais, por não serem fixas, são compatíveis com as ideias de universalidade e igualdade; já raça, por ser uma categoria imutável, não é. E isso, em algumas situações, coloca a esquerda identitária em posições perigosamente próximas às da direita anti-iluminista.

3 comentários:

Anônimo disse...

A profissão de fé na igualdade entre os homens, escrita no documento fundador dos EUA, antes de ser comparada com a situação vivida pelos escravos (negros) naquele país, deve ser comparada com a forma como os colonos europeus e seus descendentes tratavam os pele-vermelhas que já viviam nas terras invadidas pelos europeus. O conceito de raça não deve se restringir apenas aos negros.
O colunista pinçou alguns pontos do livro, mas a coluna ficou muito confusa e mal escrita. O autor ficou muito longe das suas melhores crônicas!

Anônimo disse...

"E isso, em algumas situações, coloca a esquerda identitária em posições perigosamente próximas às da direita anti-iluminista."

Não entendi. "E isso" refere-se q quê? E "Em algumas situações" forma maioria ou minoria.

Enfim, não entendi a ligação do texto com a conclusão.

Procurei na Internet o significado e não me ajudou em nada:
"Uma política identitária (em inglês: identity politics) ou identitarismo refere-se a posições políticas baseadas nos interesses e nas perspectivas de grupos sociais com os quais cidadãos se identificam."

Este texto é ruim pra cacete. Por outro lado, posso ser burro pra cacete. Não entendi como a esquerda pode se aproximar, perigosamente, da direita. E vice-versa. Perigosamente?

ADEMAR AMANCIO disse...

Achei estranho o colunista dizer que o racismo nasceu com o iluminismo e dizer que a escravidão dos Estados Unidos durou menos de um século,não é bem assim.