Valor Econômico
Bancos suspenderam o crédito e aguardam uma
solução da Fazenda e Casa Civil
Começou ontem a prática de um teto de juros
de 1,70% ao mês para o crédito consignado dos aposentados do INSS, conforme
decisão de segunda feira do Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS).
O Ministério da Fazenda e a Casa Civil, no
entanto, estão debruçados sobre uma alternativa a essa medida, que
aparentemente beneficiaria os aposentados, mas que os atinge em cheio.
Ontem os bancos divulgaram nota avisando
que estão suspensas, por tempo indeterminado, as operações de concessão de
crédito novo, refinanciamento e portabilidade para o consignado do INSS.
O resultado da decisão do CNPS, cujo placar foi de 12 votos a favor e apenas 3 contra, portanto, vai ser secar a oferta de crédito, sobretudo para os aposentados com menor renda e para o público com idade mais avançada. Os de mais idade, quando morrem, a dívida simplesmente desaparece, entrando nas estatísticas de inadimplência, onde respondem por 70%.
O ministro da Previdência Social, Carlos
Lupi, comemorou a decisão do CNPS, que preside, por considerar que as taxas
cobradas anteriormente eram “abusivas” justamente com as pessoas mais
vulneráveis. “Vejo essas taxas atuais como abusivas para os beneficiários do
INSS, que são pessoas, em sua grande maioria, extremamente vulneráveis”, disse
ele em nota oficial logo após a reunião.
Na prática, porém, o CNPS inviabilizou o
crédito consignado para as pessoas que mais necessitam de crédito mais barato.
Assim como tornou difícil a vida das 77 mil pequenas e médias empresas e 240
mil agentes de crédito (os “pastinhas”), que atuam como correspondentes
bancários. E, de forma inadvertida, jogou alguns milhões de aposentados em
linhas bem mais caras dos bancos, no colo de agiotas ou no rotativo dos
cartões, que cobra 400% de juros ao ano. A taxa de juros do não consignado é
de, em média, 5,2% ao mês. Nas financeiras, ela é de 20% ao mês.
Com os juros mensais em 2,14%, vários
bancos - no total, são 27 instituições que operam com o consignado -
especialmente os de pequeno e médio porte, já vinham apresentando uma
rentabilidade próxima de zero.
Aliás, a taxa foi aumentada em dezembro de
2021, quando era de 1,80% e passou para 2,14%. Isso porque a taxa básica de
juros, a Selic, chegou a 9,25% naquela ocasião. Agora, ignorando-se
completamente a racionalidade econômica, com a Selic em 13,75%, o ministro da
Previdência opta pela ideologia e aplaude a decisão do CNPS. E transforma em
negativa uma rentabilidade que era muito próxima de zero.
O Conselho Monetário Nacional determinou,
em 2013, que os bancos têm que controlar a viabilidade econômica da operação.
Ou seja, eles não podem operar com margem de rentabilidade negativa na
concessão de crédito consignado. O Banco Central, que é o órgão regulador do
sistema financeiro e cuida da sua saúde e resiliência, não foi consultado nem a
Fazenda.
Dos 31,6 milhões de aposentados do INSS,
14,5 milhões tomam empréstimo consignado. E desses, 42% estão negativados, ou
seja, não conseguem crédito de outra forma, e uma parte importante deles usa o
consignado como complementação de renda. Foi nesse vespeiro que Lupi mexeu. Na
tentativa de proteger os aposentados ele está os prejudicando. Vai empurrá-los
para linhas de crédito mais caras.
A estrutura de custos do crédito consignado
é o custo de captação, que consumia a metade do teto de 2,14%.
Os bancos médios pagam até 120% do CDI
(para emprestar em média por dois anos). O custo do funding, que é estimado em
1,12%, mais o custo de distribuição, que é de 0,38%, e a inadimplência, que é
de 0,19%, já pegam boa parte do custo total.
Isso somado ao custo de processamento pago
à Dataprev, mais PIS/Cofins, além de pessoal e outros custos administrativos,
resultam em uma margem negativa de 0,23% antes de pagar o Imposto de Renda
sobre a Pessoa Jurídica (IRPJ) e a CSLL. Foi por esta razão que ontem os bancos
privados anunciaram a suspensão da concessão de crédito, seja novo, seja para
refinanciar a dívida. ou, ainda, o pedido de portabilidade.
Banco
do Brasil e Caixa, que respondem por 11% do crédito consignado,
cobravam taxas maiores do que 1,70%. O BB operava com 1,96%, e a Caixa, com
1,84%. Eram as menores taxas do mercado. A justificativa é que eles têm um
menor custo de captação de recursos.
O fato, porém, é que não se deve mexer em
temas complexos com vontade de fazer populismo.
Afinal, este é um mercado de crédito que movimenta mais de R$ 5 bilhões por mês, em média. Em janeiro foram mais de R$ 7 bilhões em crédito consignado, justamente em um momento em que o governo gostaria de ver expansão de crédito, e não uma contração.
Um comentário:
Lupi, o famoso "pés-pelas-mãos"
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