O Estado de S. Paulo
A crise financeira global foi aparentemente
revertida com firme atuação (intervenção) dos bancos centrais e de organismos
reguladores. Mas há questões à espera de solução.
O colapso de liquidez do Credit Suisse, o segundo maior banco da Suíça, foi solucionado com a abertura de créditos de 50 bilhões de francos suíços (US$ 53,7 bilhões) pelo Banco Nacional da Suíça (banco central), contra garantias em ativos do banco. Não ficaram claras outras condicionalidades exigidas ao Credit. Algumas informações dão conta de que, além da correção das tais inconsistências acusadas em balanço, há em vista possível fusão com seu principal concorrente, o União de Bancos Suíços (UBS). É providência a conferir.
De todo modo, prevaleceu o entendimento de
que banco grande não pode quebrar (too big to fail), sob pena de deflagrar uma
crise sistêmica, a versão financeira da teoria do dominó – de que, se um grande
banco naufraga, leva outros com ele, em consequência da exposição de uns em
relação aos outros.
Mas a decisão de maior abrangência foi
tomada nesta quinta-feira pelo Banco Central Europeu (BCE), que cuida da saúde
do euro.
Certos analistas apostavam em que, para que
fosse revertida a crise bancária, seria necessário o adiamento da alta de
juros. Mas o BCE não entendeu assim. Aumentou em meio ponto porcentual os juros
básicos do bloco, para 3,50% ao ano. A decisão mostrou que o BCE julga
localizada e administrável a crise bancária e que é preciso dar prioridade ao
contra-ataque à inflação, apesar do preço a pagar em contração do crédito,
recessão e desemprego.
Fica no ar a pergunta: por que as
autoridades dos Estados Unidos não enfrentaram a crise de liquidez, baseada no descasamento
entre prazos de ativo e passivo do Silicon Valley Bank, também com empréstimos
garantidos por títulos do Tesouro dos Estados Unidos, em vez de fechar
definitivamente o banco e de disseminar pânico no mercado.
Como esses episódios revelaram fragilidades
do sistema bancário americano e europeu, ficou inevitável reforçar os sistemas
de segurança dos bancos.
Está reduzida a probabilidade antes
aventada de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos)
enfrente a inflação de forma branda. Nesta quinta-feira, a secretária do
Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, advertiu que o Fed não pode deixar de
fazer a sua parte. Ou seja, os juros lá podem subir 0,50 ponto porcentual ao
ano e não apenas 0,25 como o mercado vem sugerindo depois da deflagração da
crise bancária.
E esse não deixa de ser um recado também
para o pressionado Banco Central do Brasil.
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