O Globo
Primeiro, seria necessário apreender as
joias que Bolsonaro levou com ele, porque entraram no país ilegalmente
O que fazer com as joias de R$ 16,5 milhões
que Bolsonaro recebeu? Creio que haverá uma discussão sobre isto: guardar no
acervo presidencial, leiloar como contrabando? Se conseguirmos responder à
pergunta inicial, creio que tenho uma sugestão. A pergunta inicial é esta: foi
mesmo um presente da Arábia
Saudita?
Na primeira entrevista, meio trôpega, que deu ao SBT sobre o tema, Bolsonaro disse que era um presente dos Emirados Árabes. Pode ser que confunda os dois países, como se costuma fazer com Brasil e Argentina. A confusão de Bolsonaro pode ter contribuído para lançar suspeitas sobre o fundo Mubadala, que já comprou o Porto do Açu, metrô e uma estrada no Brasil e, recentemente, uma refinaria no Recôncavo Baiano.
Mas o segundo pacote de joias, que entrou
clandestinamente, foi declarado como presente de Abdulaziz bin Salman, ministro
de Energia da Árabia Saudita. Portanto é preciso fazer uma sequência de
perguntas ao embaixador saudita no Brasil: vocês costumam dar presente de € 3
milhões a estadistas? Em caso positivo, pode lembrar alguns? Os presentes são
dados por um ministro, e não pelo chefe de governo? Por que não são
encaminhados via diplomatas? Por que não contêm um simples cartão
congratulatório?
Caso essas perguntas sejam respondidas
satisfatoriamente, com transparência, se as joias foram mesmo dadas pela Arábia
Saudita nessas circunstâncias informais e inadequadas, minha proposta é
devolvê-las numa solenidade. Em primeiro lugar, seria necessário apreender as
joias que Bolsonaro levou com ele, porque entraram no país ilegalmente. Em
segundo lugar, anexá-las ao patrimônio e submeter ao Congresso o ato de
devolução.
O fato de um ex-presidente da República ter
se envolvido num escândalo dessa natureza deveria ficar colado apenas à sua
biografia. O Brasil como país não precisa sofrer nenhum respingo. No ato de
devolução, deveríamos dizer aos sauditas que a troca de presentes é
absolutamente normal entre países e que continuaremos a fazer isso, mas dentro
das regras estabelecidas e por via diplomática, a escolhida para a devolução
das joias.
É uma forma também de nos livrarmos do
constrangimento de ver a estrutura do governo, com militares à frente, tentando
dar carteiradas na alfândega para liberar um lote de joias claramente destinado
a enriquecer o patrimônio pessoal. Seria também uma mensagem para o mundo,
mostrando que o Brasil tem regras claras para troca de presentes, como aliás
têm outros países democráticos, e que esse episódio foi uma exceção.
Uma decisão desse tipo não exclui,
evidentemente, o desfecho das investigações e a eventual punição dos culpados.
O que ela demanda é uma escolha política e uma delicada ação diplomática. É
preciso cuidado para não ofender os sauditas; mas, se for verdade a história do
ex-ministro Bento
Albuquerque, o procedimento de doação de presentes precisa mudar.
Um presente de R$ 16,5 milhões é muito
caro. Mas, no fundo, é algo insignificante se levarmos em conta o valor da
imagem do Brasil. Valeria a pena pagar muito mais por não ter passado esta
vergonha, pois, afinal, Bolsonaro era o presidente, e os militares que atuaram
nessa trama, inclusive o ex-ministro, pertencem a nossas Forças Armadas.
Espero que alguém, um deputado, senador, ou
mesmo diplomata, considere a sugestão e a leve adiante. A solenidade cordial de
devolução das joias será um exorcismo, realmente a única maneira nessa história
de ficar tudo joia rara.
No momento, tudo o que posso fazer é
pressão para que os sauditas sejam ouvidos, para que reconheçam ou não suas digitais
nesse estojo de joias. E sonhar com um tipo de saída que nos permita lembrar o
episódio até com um certo humor. Lembra-se daquelas joias, do cavalo de pernas
quebradas?
4 comentários:
Boas ideias.
Noto q tudo q se relaciona com o genocida carrrega junto pilantragem. Até presentes.
Sujou de novo, Bozo?
Acho que o colunista tem razão, o miliciano não sabe a diferença entre Emirados Árabes e Arábia Saudita. Se for fundo, é capaz até que o ex-ministro Ernesto Araújo, que se orgulhava de ter nos tornado párias na política global, também não soubesse a diferença!
Gostei da citação à ''Odara'' de Caetano Veloso.
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