O Estado de S. Paulo
Só a má intenção, o dolo e a disforme concepção do que deva ser uma República civilizada podem aplaudir o desempenho dos desesperados do 8 de janeiro
Parecia pesadelo, mas era verdade. A
invasão da turba irada nos edifícios que o mundo inteiro admira, mercê da
criatividade de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, foi um episódio deplorável. O
século 21 o guardará como evidência da insanidade, da verdadeira loucura que
pode acometer o bicho-homem, quando fanatizado.
A quem teria servido esse miserável
espetáculo?
Aos autores da façanha parece que a prisão,
a perda da primariedade para aqueles que, eventualmente, ainda não tivessem
praticado crimes, não é um fato abonador. Seguirse-á um processo criminal por
infrações gravíssimas. Atentar contra a democracia, contra o Estado de Direito,
contra as instituições, contra o patrimônio público. Terrorismo, hediondez
evidente, a merecer adequada punição.
Mas também há os aspectos civis. Os
prejuízos e danos perpetrados contra aquilo que é de todos, é do povo, embora
de uso especial das autoridades eleitas ou no exercício de seus múnus, como é o
caso dos ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF), são algo com que não se pode transigir. Seja pelos fundamentos do Direito Penal, que é um ramo jurídico essencialmente sancionatório, seja pelo efeito dissuasório, para evitar que outros seres com anomalia mental sejam levados a condutas semelhantes.
Neste ponto, é de responsabilizar de
imediato os financiadores dessa conduta asquerosa. Houve uma logística
dispendiosa. Quem pagou os ônibus? Quem custeou a alimentação e o alojamento?
Quem respondeu pela convocação dos indignados? Estes têm responsabilidade até
maior, por incitamento de massa ignara e robotizada, após incessante campanha
contrária às urnas eletrônicas, evangelizadora do obscurantismo, do
terraplanismo, das teorias conspiratórias, e disseminadora de tudo o que é
falso, mentiroso e malintencionado.
Em seguida, apuração da omissão criminosa
de quem deveria ter evitado a depravação de espaços democráticos. A posse no
dia 1.º de janeiro foi uma demonstração de que um esquema de segurança
funciona. Por que não foi preservado na semana seguinte? O tom do mau gosto e
da grosseria veiculados nas mídias sociais era uma advertência de que a
esqualidez – vencida nas urnas – poderia exibir sua abjeta reação.
A sordidez que a mídia aberta e as redes
sociais exibiram no domingo, 8 de janeiro de 2023, desserviu ao Brasil. O
noticiário internacional, embora solidário ao governo legítimo, é um alerta aos
investidores e aos pretensos turistas de que no Brasil reina a bagunça e boa
parcela de seu povo prefere a imundície a aceitar a vontade da maioria. Vontade
inspecionada e legitimada por auditores internacionais e que sempre valeu nesta
terra, desde a sua redemocratização.
Perda reputacional imensa. Incalculável!
Quem responderá por ela?
Sofre a democracia um rude golpe. Seus
inimigos preferiram conduta torpe à regra de conquistar novos adeptos, até se
tornarem a maioria.
Perdem os que se envolveram nisso, pois o
efeito pretendido é exatamente o contrário. Somente a má intenção, o dolo e a
disforme concepção do que deva ser uma República civilizada podem aplaudir o
repugnante desempenho dos desesperados.
Daquela tarde pestífera se devem extrair
algumas lições. O que justifica uma covarde agressão a obras de arte produzidas
por nossos artistas? Que tipo de humano desprovido de alma tem coragem de
esfaquear um quadro? Destruir um relógio raríssimo, que chegou ao Brasil em
1808? Pensar que na repelente fúria poderiam estar alguns equivocados, que se
acreditam cristãos, mas nada aprenderam da mensagem dos Evangelhos! Não há
dúvida de que, entre os portadores de uma pútrida noção do que deva ser um
governo, existem servidores públicos: agentes pagos pelo povo para defender o
bem comum, não para destruir aquilo que foi construído, ornamentado, adornado e
produzido para a boa imagem da democracia brasileira! Não estariam entre eles
alguns indivíduos que foram execrados nos últimos quatro anos, por serem
minoria menosprezada por aquele a quem alegam servir? É surreal a participação
de tantas criaturas naquela pustulosa e cruel farsa domingueira.
A adjetivação que pode ser utilizada para
descrever o inenarrável é abundante: monstruosidade, abjeção, asquerosidade,
depravação, fealdade, feiura, horror, baixeza, indignidade, indecência, vileza.
O idioma pátrio possui muitos sinônimos para este nojento e mesquinho crime
praticado por uma coletividade, mas cujos mandantes, os verdadeiros arquitetos
e planejadores da infame tragédia, não será impossível de descobrir.
A República Federativa do Brasil tem de se
articular para a intensificação da inteligência, pois a falta dela ainda poderá
voltar a assustar a maioria: os bons brasileiros, que sabem ser o momento de
mudar os rumos da política, para a edificação da Pátria justa, fraterna e
solidária que todos queremos.
Ganhou, na verdade, o governo que quiseram
derrubar. A reação internacional granjeou o repúdio de toda a liderança
mundial. A democracia vai vencer. É a vontade do povo trabalhador. Aos
terroristas, a resposta a Justiça dará.
*Diretor-Geral da Uniregistral, docente da
pós-graduação da Uninove, é secretário-geral da Academia Paulista de Letras
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