domingo, 24 de dezembro de 2023

Hélio Schwartsman - Uma história da mente

Folha de S. Paulo

Paul Bloom transforma em livro curso que atrai multidões em Yale

"Psych", o novo livro de Paul Bloom, é um daqueles cujo sucesso já estava garantido antes mesmo de ser escrito. É que a obra nada mais é do que a transferência para o papel do curso de introdução à psicologia que o autor ministra em Yale, que sempre atraiu multidões, tanto na versão presencial como na disponibilizada pela internet para o grande público.

E há boas razões para o sucesso. Bloom consegue ser profundo e didático. Combina de forma equilibrada questões práticas (devo procurar uma terapia?) com inquietações filosóficas (onde buscar a felicidade?), tudo temperado com muito humor. Bloom ainda escreve melhor que a média dos divulgadores científicos que escrevem bem.

Contrariando a tradição vigente na América do Norte de ignorar a história da disciplina, Bloom começa o livro tentando mostrar onde Freud, Skinner e Piaget acertaram. Piaget nem tanto, mas Freud e Skinner se tornaram sacos de pancada nas faculdades de psicologia dos EUA. E é claro que Bloom não se limita à história. Ele também aborda tópicos difíceis (consciência, emoções) e polêmicos (inteligência, hereditariedade).

O autor não esconde os segredos sujos da psicologia. Ele é bastante franco em relação à crise de reprodutibilidade de alguns dos principais experimentos da área e confessa que ele mesmo já "massageou" os dados de suas pesquisas para extrair conclusões mais sedutoras. A prática, embora não envolva violações éticas, é apontada pelos estatísticos como um dos fatores que contribui para a crise, já que aumenta as chances de resultados espúrios ganharem estatuto de "verdade".

Gostei particularmente das passagens em que Bloom problematiza a noção de doença mental. Aí, mais do que em outros campos da medicina, fatores biológicos se confundem com preferências sociais, transformando diagnósticos (ou a ausência deles) em instrumentos de poder, isto é, em ferramentas de inclusão ou segregação.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Uma psicologia sob viés espírita,só assim será confiável.Fui.