Governo petista tenta novamente maquiar contas
O Globo
Proliferam tentativas de tirar gastos da
regra fiscal ou de implementar políticas por fora do Orçamento
No domingo, o ministro Flávio Dino,
do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o governo federal a emitir
créditos extraordinários, fora da meta fiscal, para o combate a incêndios. Ao
analisar a decisão, não se pode deixar a fumaça interferir no raciocínio. O
fogo tem se espalhado nesta temporada especialmente seca em razão da atuação de
criminosos e da resposta tímida do Estado (não apenas do governo federal, mas
também dos governos estaduais). Mas a inação resulta de má gestão, não da falta
de dinheiro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez escolhas erradas ao priorizar outras despesas. Diante da emergência atual, o governo ainda tinha margem de manobra para remanejar gastos e reforçar o combate ao fogo. Voluntarista, a decisão do STF terá, mais uma vez, o efeito deletério de permitir o drible nas regras fiscais. Não será a primeira vez que isso ocorre. Nem o governo Lula é o único a manifestar certa aversão por encarar as restrições orçamentárias.
É comum, entre os governantes, a noção de
fazer melhor com os recursos à disposição ser substituída pelo ímpeto de gastar
o possível e o impossível para obter apoio popular no ciclo eleitoral seguinte,
mesmo que isso signifique deixar a conta para as gerações futuras na forma de
uma dívida galopante. É por isso que a sociedade precisa se manter vigilante.
O terceiro mandato de Lula tem sido, numa
leitura generosa, dúbio nesse aspecto. Aprovou regras fiscais impondo novos
limites — bem mais elásticos que os anteriores — aos gastos públicos. Na
prática, porém, têm se tornado frequentes as tentativas de excluir despesas
desses limites para maquiar as contas. Isso tem ocorrido não apenas em
situações de emergência imprevistas, como as enchentes que devastaram o Rio Grande do
Sul ou os incêndios na Amazônia e
no Pantanal. Os dribles fiscais também têm afetado gastos permanentes, como o
auxílio para estudantes de baixa renda do ensino médio ou o auxílio-gás.
O Congresso com frequência tem sido cúmplice
da incúria. Na última investida, a Câmara aprovou em agosto um Projeto de Lei
(PL) para facilitar o crédito que cria mecanismos tortos de financiar políticas
públicas fora do Orçamento. O objetivo é usar recursos dos fundos de pensão de
Caixa, Petrobras, Banco do
Brasil e Correios para investir no setor imobiliário, prática
proibida depois de diversos escândalos. O PL autoriza uma estatal, a Empresa
Gestora de Ativos (Emgea), a comprar créditos imobiliários de instituições
privadas para revendê-los sem risco aos fundos de pensão. “Se os devedores não
pagarem seus financiamentos, os investidores podem continuar a receber seu
crédito devidamente remunerado. O prejuízo fica para a Emgea. Ou para o Erário,
dono da Emgea. Todos nós”, escreveram os economistas Marcos Lisboa e Marcos
Mendes.
Caso a ideia seja aprovada no Senado, estará
criada mais uma forma de “contabilidade criativa” similar às que grassavam no
governo Dilma
Rousseff. Na época, a erosão da credibilidade afetou as estatísticas
fiscais oficiais, que se tornaram peça de ficção. Ninguém no mercado acreditava
mais no compromisso do governo de gerenciar de forma responsável a dívida
pública. As consequências: juros mais altos, economia em ritmo mais lento,
menos oportunidades e menor renda. Não adianta maquiar os números. A conta pode
demorar, mas sempre chega.
Polarização política cobra preço cada vez
mais alto na forma de violência
O Globo
Nova tentativa de assassinato contra Donald
Trump expõe riscos associados ao clima político tóxico
O candidato republicano à Presidência
dos Estados
Unidos, Donald Trump,
chegou perto de ser alvo de uma nova tentativa de assassinato neste domingo.
Desta vez, as autoridades frustraram o atentado e prenderam o suspeito, que
chegara armado de fuzil a cerca de 400 metros de onde Trump jogava golfe numa
de suas propriedades na Flórida. Na tentativa anterior, em julho, Trump foi
atingido por um tiro de raspão enquanto discursava em comício na Pensilvânia.
Nas duas ocasiões, os agentes do serviço secreto responsáveis pela segurança
falharam na proteção do candidato, deixando Trump exposto a risco.
Virou lugar-comum citar a facilidade de
acesso a armas nos Estados Unidos para explicar esse tipo de ocorrência. Mas há
outros fatores em jogo. Os Estados Unidos são um país afeito à violência
política — dos 46 presidentes americanos, dez foram alvo de ataques e quatro
foram mortos no cargo. Também não é a primeira vez que desequilibrados se valem
da violência na expectativa de ganhar os holofotes. Mesmo assim, é notável que
tenha havido duas tentativas contra o mesmo candidato em período de tempo tão curto.
A razão mais provável para isso está nas
características não apenas da atual campanha eleitoral, mas da própria
sociedade americana. O surgimento de Trump coincidiu com o agravamento da
polarização política. Num país radicalizado ao extremo, cada lado passa a ver o
outro como inimigo a eliminar, e não simplesmente como adversário a derrotar
nas urnas. Ambos os lados se satanizam e despertam esse tipo de ódio. Cria-se
um caldo de cultura propício a que mentes desajustadas, com algum grau de
desequilíbrio emocional, tentem transformar o discurso em atos violentos.
Foi o caso do operário da construção civil
Ryan Wesley Routh, de 58 anos, suspeito preso depois do ataque frustrado. Como
no caso dos disparos contra Trump em julho, não há até o momento evidência de
que ele não tenha agido sozinho. No arbusto em que se escondia, foi encontrada,
além do fuzil, uma câmera de fotografia e filmagem para registrar o feito,
prova da busca doentia pela fama que move certa classe de assassinos.
É evidente que não pode haver nenhum espaço
nem tolerância com a violência num regime democrático. Qualquer agressão a
candidatos — ainda mais uma tentativa de assassinato — precisa ser repudiada
com energia, como atentado contra a própria democracia. Mas há um recado
adicional no episódio. Não se trata de culpar a vítima, mas o ódio destilado
por Trump em seus discursos, combustível da polarização, acabou por insuflar a
invasão do Capitólio e pôr em risco a democracia americana. Agora, ele próprio
se tornou alvo. Além de substituir o necessário debate entre ideias e propostas
políticas por um choque de narrativas e teorias conspiratórias, a polarização
também cobra preço cada vez maior na forma de violência.
Revisão de dívidas estaduais tem subsídio de
R$ 48 bi e juro zero
Valor Econômico
A União, que paga uma conta de juros em suas costas superior a R$ 800 bilhões anuais, concederá subsídios financeiros aos governadores que estavam cumprindo suas obrigações em dia
O novo projeto de renegociação das dívidas
dos Estados (PLP 121/2024) passou voando pelo Senado para pousar na Câmara. O
governo Lula aceitou a condução do projeto por seu autor, o presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), candidato ao governo de Minas Gerais em 2026 -
Estado que, por autorização do Supremo Tribunal Federal, não está pagando suas
dívidas. O nó das dívidas estaduais de R$ 765 bilhões, após sucessivas
revisões, é o comportamento dos maiores devedores - São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Rio Grande do Sul -, cujos débitos somam 90% do total. O governo
paulista não tem problemas para pagamentos, mas os outros, sim. Para acomodar
uma situação peculiar deles e não criar desbalanceamento, o PL estendeu
melhores condições de pagamento, em geral, para todos os demais Estados que
quiserem aderir.
O PLP permite que os Estados simplesmente
fiquem sem pagar juro algum. E se todos escolherem do cardápio de opções (três)
a que lhes for mais vantajosa - destinar toda a conta anterior de juros para um
fundo de equalização e para investimentos -, a União arcará com um subsídio de
R$ 48 bilhões anuais, pelos cálculos inéditos de Manoel Pires, do Observatório
Fiscal do FGV-Ibre (Valor,
13 de setembro).
O governo petista deu a senha para a revisão
de débitos ao lançar o programa Juros por Educação, sinalizando que aceitava
mexer nos encargos financeiros dos Estados se gastassem mais em educação
profissional. O PT não tem o menor problema em amortecer as condições de
pagamento dos Estados porque já procedeu assim no passado. Em 2014, no governo
Dilma, houve revisão que diminuiu os juros inclusive da Prefeitura de São
Paulo, com o PT.
Mas a renegociação de dívidas dos Estados é
uma das caixas de Pandora complexas de abrir. Os governadores arrancam sempre
mais vantagens do que as inicialmente propostas e agora não foi diferente. O
esquema aprovado lembra o mecanismo do novo regime fiscal - o aumento de gastos
é o elixir que revigorará as receitas. Pelo PLP, os juros das dívidas, hoje de
4% mais o IPCA, poderão cair a zero. Nessa hipótese, considerada pelo
economista Manoel Pires a mais vantajosa para os Estados, os governos teriam de
destinar 2% a um Fundo de Equalização que será distribuído para investimentos
pelas 27 unidades da Federação, e 2% poderão ser investidos pelo próprio Estado
que fez a adesão, em um cardápio generoso e que é a verdadeira razão de ser das
obrigações do poder público: educação profissional, habitação, transportes,
saneamento, segurança pública, mudanças climáticas etc.
Os Estados mais ricos, com dívidas altas,
poderão jogar os encargos financeiros delas para a União e ampliar os
investimentos. Em geral, a União tem pouca capacidade, ou disposição política,
de verificar onde o dinheiro está sendo de fato gasto. A vigilância será feita
pelos Tribunais de Contas dos Estados, que não têm feito um serviço sequer
próximo do adequado nesse ponto.
Os Estados ganharam possibilidade de
empurrarem ativos para a União, entre eles participações societárias,
participação nas estatais, bens móveis ou imóveis, cessão de créditos inscritos
na dívida ativa e até mesmo direitos do Fundo Nacional de Desenvolvimento
Regional, instituído pela reforma tributária para compensar perdas com ela, que
só passarão a ter recursos na próxima década. A possibilidade de eliminar juros
ocorrerá quando os Estados entregarem ativos correspondentes a 20% dos débitos,
depositarem 1% no Fundo de Equalização e investirem 1%. Ou ainda, quando
entregarem 10% do total da dívida em ativos, 1,5% no Fundo e 1% em
investimentos. Na maior parte dos casos, mas não em todos, a economia com juros
é superior ao desembolso de caixa que teria de ser feito na ausência da
renegociação.
A exceção fica por conta dos Estados em
Regime de Recuperação Fiscal, como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas,
que não aderiu ainda e nada paga. Por este regime, os Estados pagam 20% da
parcela devida no primeiro ano, 40% no segundo até chegar aos 100% em cinco
anos. As mesmas condições serão estendidas aos que trocarem o RRF pelo novo
programa (Propag). A diferença a menor será incorporada ao saldo devedor após o
quinto ano. Caso os grandes devedores façam a adesão, a conta de subsídios
anual subiria para R$ 61,9 bilhões.
Há uma outra consequência da renegociação que
marca uma diferença em relação às demais. Para Pires, haverá enorme
redistribuição de recursos dos Estados mais ricos para os mais pobres e menos
endividados. São Paulo, por exemplo, economizará R$ 17,8 bilhões em juros, o
Rio, R$ 15,4 bilhões, Minas, R$ 9,1 bilhões, e Rio Grande do Sul, R$ 5,9
bilhões.
No fim das contas, a União transformará juros
devidos em investimentos nos Estados na esperança de que os maiores devedores
(exceto São Paulo, que está em dia) paguem ao menos o principal. Além disso, a
União, que paga uma conta de juros em suas costas superior a R$ 800 bilhões
anuais, concederá subsídios financeiros aos governadores que estavam cumprindo
suas obrigações em dia. A dívida bruta aumentará e as contas da União vão
piorar, sem garantia de que a dos Estados-problema melhorem.
Ataque de Datena a Marçal é péssimo exemplo
na política
Folha de S. Paulo
Agressão com uma banqueta durante debate é
fato inaceitável; ambos os candidatos têm colhido más notícias nas pesquisas
Há muito se sabe que José Luiz Datena (PSDB)
tem pouco respeito pelo eleitor de São Paulo.
Em 2016, 2018, 2020 e 2022, ele se apresentou para concorrer a cargos de
prefeito, vice-prefeito e senador, mas desistiu nas quatro ocasiões, deixando
como legado apenas a confusão que causou na disputa.
No domingo (15), contudo, o apresentador
ergueu seu desapreço a um novo patamar ao agredir
Pablo Marçal (PRTB) com uma banqueta durante debate promovido
pela TV Cultura entre
candidatos à prefeitura da capital paulista —também participaram Ricardo Nunes (MDB), Guilherme
Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e Marina
Helena (Novo).
Seu gesto abominável provocou a interrupção
momentânea do encontro, mas isso é o de menos; mais grave é o péssimo exemplo
que dá sobre o uso da violência na esfera política.
De nada adiantou que o evento tenha sido
norteado por regras mais rígidas —motivadas, é bom que se diga, pela
insatisfação generalizada com o comportamento abjeto e reiterado do próprio
Marçal em debates anteriores.
A reação virulenta de Datena ocorreu após uma
série de ofensas desferidas por Marçal, a quem não falta repertório nem
imaginação quando se trata de rebaixar a eleição a um campeonato de
obscenidades e vilanias.
O que mais perturbou o candidato do PSDB foi
o resgate
de uma denúncia datada de 2019. Na época, uma repórter do programa
de Datena, na Band, disse ter sofrido assédio sexual pelo hoje tucano. O
jornalista respondeu que o caso não foi confirmado pela polícia, mas atingiu
sua família e levou à morte de sua sogra.
Nada disso justifica a banquetada, e Datena
deveria ser o primeiro a reconhecê-lo. Mas não: em nota nesta segunda-feira
(16), embora tenha admitido o erro, ele afirmou não se arrepender do ataque
perpetrado contra o autointitulado ex-coach.
Marçal, como é de seu feitio, procurou colher
todos os dividendos possíveis do episódio, testando qual figurino serviria
melhor aos seus propósitos. Sem nenhum medo do ridículo, até chegou a se
comparar, pela posição de vítima, a Jair
Bolsonaro (PL) e Donald Trump,
que sofreram atentados contra suas vidas.
Datena não ficou muito atrás. De olho nas
pesquisas de intenção de voto, tanto ele quanto Marçal sabem que as
oportunidades estão se fechando. O apresentador, mais que o influenciador, tem
pouco a perder —até agora, ele não fez mais que despencar nos levantamentos
eleitorais.
No Datafolha mais recente, Datena apareceu
com 6%, numericamente em quinto lugar. Na parte de cima da tabela, Nunes e
Boulos se isolaram na ponta, deixando o influenciador na terceira
posição e com rejeição em alta.
Entende-se a repulsa crescente que Marçal
provoca: ele faz quase de tudo para atrair a atenção das pessoas e não mostra
escrúpulos nesse mister; só o que não faz é debater os problemas da cidade que
diz querer administrar.
Internet segura para os mais jovens
Folha de S. Paulo
Para maioria dos pais, crianças não devem
acessar redes sociais, aponta Datafolha; estimular uso responsável é sensato
Novas tecnologias de comunicação
historicamente costumam levantar preocupações, principalmente em relação à
população mais jovem. Foi assim com o cinema, a televisão, os computadores e,
agora, o aparelho celular com acesso à internet e
às redes sociais.
Segundo pesquisa do Datafolha,
58% dos brasileiros com filhos de até 17 anos acham que crianças
menores de 14 anos não deveriam ter celular ou tablet próprio nem
acessar aplicativos de mensagens como o WhatsApp.
A objeção ao uso de redes sociais como Instagram e TikTok é
ainda maior, com 76%, mesma porcentagem dos que consideram que esse estrato não
deveria assistir a vídeos no Youtube sem
supervisão dos responsáveis.
O levantamento TIC Kids Online Brasil feito
em parceria com a Unesco mostrou
que, no ano passado, 71% das crianças de 9 e 10 anos de idade no país acessavam
YouTube; 51%, WhatsApp; 50%, Tik Tok; e 26%, Instagram. Entre as de 11 e 12
anos, os índices saltam para 90%, 70%, 55% e 52%, respectivamente.
De fato o ambiente online intensifica
práticas que podem impactar a saúde mental dos mais jovens, como o bullying, a
imposição de padrões de beleza e estilos de vida e a desinformação.
Não há consenso científico sobre a
possibilidade de que as redes sociais causem problemas psicológicos, mas
pesquisas já apontam indícios dessa relação.
Casos de depressão, ansiedade, transtornos
alimentares e automutilação em crianças e adolescentes vêm aumentando
globalmente desde o início do século.
No Brasil, o Ministério da
Saúde emitiu alerta para o problema em 2022. De 2016 a
2021, a taxa de
suicídios de pessoas entre 10 e 14 anos subiu 45% e, entre 15 e
19 anos, 49% —na população total, a alta foi bem menor (17,8%).
A proibição total não é uma solução sensata
para o problema. Afinal, o mundo contemporâneo, da cultura à economia, é regido
pelas tecnologias, e as crianças precisam aprender a dominá-las para usufruir
do melhor que elas podem oferecer.
Pais podem se valer das ferramentas
disponíveis em sites e aplicativos para monitorar como os jovens usam as redes
sociais e adotar restrições de tempo e conteúdo. Ademais, cabe diálogo aberto
sobre adversidades que os filhos estejam enfrentando no universo online.
As escolas têm o papel importante de promover
a educação midiática,
que ensina os alunos a reconhecerem práticas abusivas —informações falsas,
discursos de ódio, bullying, assédio— e a se protegerem contra elas.
O ‘conforto’ de Lula é a miséria da República
O Estado de S. Paulo
Petista fez saber que estaria ‘confortável’
com o protagonismo do ministro Dino para definir ações de combate às queimadas.
A tibieza de um orna perfeitamente com a vaidade de outro
O ministro novato Flávio Dino claramente não
entendeu que o assento no Supremo Tribunal Federal (STF) não lhe confere poder
ilimitado para agir sob qualquer pretexto – poder este do qual nenhuma
autoridade dispõe na República. Dino não pode acordar num belo dia, por
exemplo, e, ao tomar conhecimento de que mais da metade do País está coberta
por uma espessa nuvem de fumaça, determinar o que o governo federal deve fazer
para combater as queimadas na Amazônia e no Pantanal. Nem muito menos cabe a
ele dizer de onde hão de vir os recursos para custear as ações, como Dino fez
no dia 15 passado ao “autorizar” a abertura de créditos extraordinários para
essa finalidade.
Outra hipótese, não menos problemática, é que
Dino possa pensar, talvez se mirando no mau exemplo de alguns de seus colegas
veteranos na Corte, que está normalizado o fato de um ministro do STF
imiscuir-se em temas que não lhe são afeitos, como é o caso da definição e
implementação de políticas públicas para lidar com a tormenta climática. Seja
como for, a decisão monocrática do sr. Dino indica que essa bagunça
institucional instalada no Brasil dificilmente será arrumada até que a vaidade,
as opiniões pessoais e as agendas políticas de indivíduos investidos do múnus
público sejam postas de lado diante da premente necessidade de recobrar o
decoro e a institucionalidade no País.
Como o Estadão antecipou que o
ministro o faria, Dino deu aval à abertura de créditos extraordinários, “a
critério do Poder Executivo”, a fim de bancar os gastos do governo com o
combate às queimadas. Ou seja, com uma canetada, Dino permitiu a criação de
mais uma exceção às regras do maltratado arcabouço fiscal, autorizando a
criação de dinheiro mágico, ou seja, inexistente no planejamento oficial, com o
evidente propósito de evitar que o presidente Lula da Silva incorra em crime de
responsabilidade.
Quando sentiu o cheiro de queimado e acordou
para o problema, entendendo que talvez fosse melhor agir como um presidente da
República, Lula se deu conta de que não dispunha de recursos orçamentários para
combater os incêndios sem cortar outras despesas do Orçamento da União, o que o
petista, como é notório, reluta em fazer por cacoete ideológico, em muitos
casos, ou por interesses político-eleitorais, em outros.
Nesse sentido, a decisão de Dino soa como
música para os ouvidos de um presidente tíbio na defesa do meio ambiente, a
ponto de Lula ter feito chegar ao público a informação de que estaria
“confortável” com o protagonismo de seu ex-ministro da Justiça e Segurança
Pública na definição de medidas a serem adotadas para debelar os focos de
incêndio País afora. Evidente que está, pois o vácuo de governança deixado pelo
Executivo orna com a vaidade e o voluntarismo de um juiz que jamais deixou de
ser político – e que foi indicado ao STF por Lula exatamente por isso. Logo, o
“conforto” de Lula, que nada fez para evitar o pior e agora terceiriza
responsabilidades para quem não as tem, é a miséria da República.
Cheio de brios, disposto a apagar com tinta
de caneta as queimadas que consomem a Amazônia e o Pantanal, Dino, por sua vez,
não tem perdido uma oportunidade de chamuscar a Constituição com um populismo
que seria apenas compreensível fosse ele um político stricto sensu, mas é
inconstitucional e antirrepublicano sendo ele quem é. Para justificar o
injustificável, Dino chegou a comparar os incêndios – criminosos em sua maioria
– às enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, como se o governo Lula da
Silva não tivesse recebido inúmeros alertas ao longo deste ano sobre o
descontrole das queimadas e os riscos trazidos pelo clima seco, enquanto as
chuvas que caíram sobre os gaúchos eram absolutamente imprevisíveis naquele
volume.
Para coroar a desordem, as decisões de Dino
têm sido proferidas após audiências de “conciliação”, como se o STF fosse mero
mediador ou órgão consultivo, no âmbito de uma Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) que, pasme o leitor, já foi julgada pelo plenário
da Corte em março deste ano, mas que Dino, sabe-se lá por que, ainda mantém sob
seu poder – e sem ser contestado.
BC tem obrigação de se comunicar com clareza
O Estado de S. Paulo
Banco Central tem várias opções sobre o que
fazer com a Selic na reunião desta semana, mas, seja qual for, deve ser
comunicada de forma clara, o que não vem ocorrendo nos últimos tempos
À medida que a decisão mais importante do
Comitê de Política Monetária (Copom) em 2024 se aproxima, não faltam
argumentos, concorde-se com eles ou não, para que o Banco Central (BC) eleve a
taxa Selic ou para que a deixe em 10,5%. Se do ponto de vista técnico há espaço
para que se opte pela elevação ou pela manutenção, do lado da comunicação só há
um caminho: clareza, de modo que a decisão que o comitê vier a tomar seja não
só estritamente técnica, mas informada de modo a não gerar ruídos.
Se estiver em dúvida sobre como se comunicar,
o BC já conta com um guia informal do que não se deve fazer. É impossível não
voltar à fatídica reunião de maio, quando os membros do comitê se dividiram –
os quatro diretores indicados por Lula da Silva votaram por uma queda de 0,50
ponto porcentual (p.p.) da Selic, enquanto os outros cinco, por uma redução de
0,25 p.p. Decisões divididas por si sós podem gerar inquietação no mercado e
não será diferente agora em setembro, se o Copom não votar de forma unânime. Em
maio, contudo, a decisão dividida causou menos ruído do que o comunicado
lacônico após a reunião.
A mensagem, de 8 de maio, não trouxe uma
mísera linha sinalizando os motivos que levaram à divergência, algo que só foi
esclarecido alguns dias depois (uma eternidade, quando se trata de tema tão
fundamental), quando da divulgação da ata, em 14 de maio. Além disso, não
faltaram manifestações desalinhadas de membros do Copom, que ora serviram para
acalmar o mercado, ora para atiçar o sentimento de confusão.
Para o encontro que está prestes a acontecer,
é essencial que os diretores tenham consciência de que precisam comunicar a
decisão que tomarem de forma clara, efetiva e coordenada. A próxima reunião não
é trivial. Ocorre em momento em que os juros nos EUA finalmente cairão, o que
reforça o argumento da ala de especialistas que entendem que, com o alívio do
Federal Reserve (Fed, o banco central americano), a Selic, já bastante elevada
no Brasil, não precisa subir ainda mais. Por outro lado, há o coro, majoritário,
dos que veem o cumprimento da meta de inflação de 3% cada vez mais ameaçado,
tanto por velhos fatores como por outros relativamente novos, como o impacto,
nos preços de energia, da seca sem precedentes que assola o País.
O cenário para a decisão de setembro do Copom
não é nada simples, como também não vinha sendo para as autoridades monetárias
de EUA e Inglaterra, mas do ponto de vista da comunicação os bancos centrais
daqueles países oferecem um guia do que fazer: comunicação clara e rápida – os
presidentes do Fed e do Bank of England (BoE) concedem entrevista coletiva no
mesmo dia em que tomam suas decisões de política monetária.
Uma comunicação eficiente e ágil do BC
brasileiro se faz ainda mais necessária diante do contexto de politização das
ações do Copom. Em boa parte deste ano, o presidente Lula da Silva atacou o
“exagero” dos juros altos e, mais particularmente, seu desafeto na presidência
da autarquia, o “insensível” Roberto Campos Neto. No meio desse imbróglio,
Gabriel Galípolo, apadrinhado de Lula que vai substituir Campos Neto, viu-se
compelido a demonstrar ao mercado que será firme no combate à inflação,
declaração dada tantas vezes que praticamente consolidou a expectativa de que a
Selic voltará a subir.
Comunicação clara e ágil e excesso de
declarações não são sinônimos. De um modo geral, alguns membros do Copom falam
demais, muitas vezes sem delimitar quando estão se pronunciando de forma
pública, privada, pessoal ou em nome do colegiado. No caso de Galípolo, é de
certa forma compreensível que, com currículo menos vistoso que o de outros
presidentes do BC e por se encontrar no meio do tiroteio do governo contra
Campos Neto, tenha buscado tranquilizar o mercado de que, uma vez no leme do
BC, agirá de forma técnica.
Que assim seja. Que a política não contamine
as ações do Banco Central, e que este as comunique com clareza e agilidade.
Cadeirada no eleitor
O estado de S. Paulo
Agressão deve estimular os candidatos que
prezam a política a se dissociar desse circo
Diz um adágio popular que nunca se deve lutar
contra um porco na lama, porque ambos se sujam, mas só o porco gosta. Pois o
candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal, está desde o
princípio tentando arrastar a campanha eleitoral para a pocilga, e no domingo,
num debate na TV Cultura, conseguiu que um dos candidatos, o igualmente novato
José Luiz Datena (PSDB), afinal se emporcalhasse: o tucano esqueceu as regras
do debate e da civilidade e atirou uma cadeira em Marçal.
Ao fazê-lo, o sr. Datena atingiu não apenas o
adversário que o ofendia, mas também, e principalmente, o eleitor. É claro que
não se espera que políticos tenham sangue de barata e que não reajam de alguma
forma ao que consideram uma injúria, mas a atividade política só faz sentido se
for exercida por meio da palavra, mesmo num ambiente tenso. Aliás, é exatamente
para isso que serve a política: para que divergências sejam eventualmente
superadas de forma razoavelmente civilizada e conforme regras aceitas por todos.
Fora disso, é briga de rua – e os rufiões que hoje investem na truculência e na
desagregação para angariar a simpatia de eleitores desencantados com a política
devem ser contestados no discurso e no voto, jamais na violência.
Felizmente, ao que parece, o mesmo debate em
que o sr. Marçal e o sr. Datena rolaram na lama mostrou que, a despeito da
pobreza de ideias que até aqui tem sido a tônica desses encontros, os eleitores
têm alternativas, digamos, tradicionais, à esquerda, à direita e ao centro.
Cabe a esses candidatos se dissociarem o
quanto antes do circo protagonizado pelo sr. Marçal e que agora tem o sr.
Datena como coadjuvante. Cada provocação de Marçal, que avacalha os debates
para ganhar os holofotes que lhe faltam na propaganda eleitoral na TV, deve ser
respondida com indiferença, por mais que eventualmente fira a honra e a
dignidade, que é precisamente o objetivo do candidato do PRTB.
Para isso, está mais do que na hora de os
demais candidatos pararem de insinuar que seus adversários consomem drogas e
agridem cônjuges, entre outros assuntos totalmente irrelevantes para a cidade.
A continuar nessa toada, os eleitores talvez tenham que votar naquele que
restar de pé no ringue, como sobrevivente da baixaria generalizada, e não no
candidato com as melhores ideias para uma cidade tão complexa como São Paulo.
De tudo que se viu nesta campanha até aqui, e
particularmente com a deprimente cena da cadeirada, pode-se dizer que não
tivemos propriamente uma disputa por votos, mas por “likes” – cujo nível de
acumulação parece ter se tornado sinônimo universal de sucesso ou de fracasso.
E, como todos sabemos hoje, quem investe no ultraje tem conseguido fazer dos
algoritmos das redes sociais seus maiores cabos eleitorais, ao criar um círculo
vicioso que recompensa o desrespeito e a brutalidade.
É bom lembrar, contudo, que governar São Paulo demanda muito mais do que competência para induzir os algoritmos das redes sociais a criar a falsa sensação de apoio eleitoral. É preciso conhecer a cidade e seus problemas.
Focos de incêndio avançam no país
Correio Braziliense
Diferentemente dos que usam da violência nas disputas políticas e ideológicas, a transformação do planeta não tem partido nem é seletiva. Todos, sem distinção, são afetados. É hora de repensar o relacionamento com a Mãe Terra, para que não sejamos a próxima vítima
Entre quarta-feira (11/9) e sexta-feira
(13/9) da semana passada, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
identificou 7.322 focos de incêndio no Brasil, concentrando 71,9% dos incêndios
que ocorrem na América Latina. Desde o início deste ano, foram 180.137 focos,
108% maior na comparação com igual período do ano passado, o que representa
50,6%.
Nesta segunda-feira, a capital da República
amanheceu com uma parede de fumaça a 10km de distância do centro da cidade,
devido ao incêndio na Parque Nacionall de Brasília (Flona). Ainda no período da
manhã, 700 hectares de vegetação do Cerrado foram consumidos, o que reforça a
suspeita de incêndio criminoso.
Nas proximidades do parque, estão a Granja do
Torto, que abriga uma das residências da Presidência da República, o paiol do
Exército e o Parque da Água Mineral, uma das fontes de abastecimento de
Brasília. Na semana passada, na área de preservação da Floresta Nacional
(Flona), entre as regiões administrativas de Taguatinga e Ceilândia, perdeu
mais de 2,5 mil hectares, com uma queimada provocada, segundo moradores
vizinhos à floresta.
O fogo se alastra pelo país. Pelo menos 10
milhões de brasileiros foram afetados pelas queimadas, na avaliação da
Confederação Nacional do Municípios. A situação é mais grave nos estados de São
Paulo, Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nesses estados, além dos danos
ambientais, há efeitos negativos na economia. Os cálculos preliminares avaliam
que os prejuízos são bilionários.
Em São Paulo, o setor agropecuário foi um dos
mais atingidos nessa onda de incêndios. A Secretaria de Agricultura e
Abastecimento avalia que os prejuízos somam cerca de R$ 2 bilhões. Cerca de 181
mil hectares de canaviais foram consumidos pelo fogo, comprometendo a produção
de açúcar, álcool, biocombustível e outros derivados, com prejuízo estimado em
R$ 1,2 bilhão. A rebrota da cana também foi afetada pelas queimadas e os
produtores preveem que haverá repercussão na safra do próximo ano.
No Centro-Oeste, o Pantanal Mato-grossense, a
maior planície úmida do planeta, é vítima tanto das queimadas quanto do
desmatamento provocado pela expansão do agronegócio. Áreas de produção de grãos
têm sido transformadas em pastos. As queimadas em Mato Grosso impactam a
saúde, dispersam material particulado, que contamina o ar com mercúrio e outros
elementos tóxicos que afetam a saúde humana. A destruição ambiental empobrece o
solo e tem reflexo na produção agrícola, sem contar a negativa contribuição de
aumento dos gases de efeito estufa.
Nos primeiros oito meses deste ano, os
focos de incêndio na Amazônia chegaram a 53.620, um aumento de 80% na
comparação com igual período de 2023, quando foram registrados 29.826 focos.
Além das queimadas, a região enfrenta uma das piores secas da sua história. Os
primeiros levantamentos indicam que mais 330 mil pessoas sofrem com a
escassez de água. Rios Madeira, Negro, Solimões, Juruá e Purus estão
secando enquanto o desmatamento em áreas no Baixo Amazonas avança. Os
povos originários reivindicam ao governo federal a declaração de emergência
climática.
As investidas contra o patrimônio ambiental,
sem dúvida, provocam o poder público à tomada de medidas mais severas, contra
os que agridem o meio ambiente Provavelmente, são pessoas que têm dificuldade
de entender que toda a população e elas estão expostas aos efeitos das mudanças
climáticas, cada vez mais rigorosas com os humanos. Diferentemente dos
que usam da violência nas disputas políticas e ideológicas, a transformação do
planeta não tem partido nem é seletiva. Todos, sem distinção, são afetados. É
hora de repensar o relacionamento com a Mãe Terra, para que não sejamos a
próxima vítima.
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