Correio Braziliense
Bem ao seu estilo, Marçal compara a cadeirada
que levou à facada recebida por Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e
ao tiro que Donald Trump levou de raspão, na orelha, num comício
O jornalista, cineasta e escritor Jorge
Oliveira acaba de lançar mais um livro-reportagem, Arena de Sangue, disponível
na Amazon. Trata da influência dos políticos de Alagoas na vida nacional.
Segundo ele, desde o início da Primeira República, o estado "não desgruda
do poder como carrapato". Alagoas produziu os dois primeiros presidentes
da República, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.
Também esteve à frente do complô para matar Prudente de Morais, o primeiro presidente civil da República; influenciou o Estado Novo com o general Góes Monteiro; marcou presença na redemocratização do país com Fernando Collor de Mello, eleito presidente pelo voto direto em 1989; e com o senador Renan Calheiros (MDB), que presidiu o Senado, e os deputados Aldo Rebelo e Arthur Lira (PP), à frente da presidência da Câmara dos Deputados.
Mas o caso que nos interessa ocorreu há mais
de 60 anos, em 4 de dezembro de 1963, uma quarta-feira, na nova capital
federal, Brasília. O senador Arnon de Mello, pai do ex-presidente Collor,
disparou contra o parlamentar Silvestre Péricles de Gois Monteiro no plenário.
O segundo disparo, no entanto, acertou o abdômen do congressista José Kairala
(PSD-AC), que não resistiu aos ferimentos e morreu horas depois do tiro, no
Hospital Distrital de Brasília. Kairala não tinha nada a ver com a briga.
O político acreano era suplente de José
Guiomard, que havia tirado licença médica e tinha levado a família de Basiléia
para a nova capital da República para vê-lo no exercício de senador. Falta de
diálogo, brigas e ameaças de morte permeavam o clima no Senado naquele dia.
Péricles havia prometido matar Arnon, que pôs um revólver Smith Wesson calibre
38 na cintura e marcou discurso para desafiá-lo.
"Senhor presidente, permita Vossa
Excelência que eu faça meu discurso olhando na direção do senhor senador
Silvestre Péricles de Gois Monteiro, que ameaçou de me matar, hoje, ao começar
meu discurso", disse Arnon. Péricles partiu para cima de Arnon, gritando
"crápula". Arnon sacou o revólver, mas antes que atirasse, Péricles
jogou-se ao chão, enquanto sacava sua própria arma.
O senado João Agripino (UDN-PB) atracou-se
com Péricles para tirar-lhe a arma. Kairala tentou ajudar, mas foi atingido
pelo segundo disparo de Arnon. Quando presidente do Senado, Auro de Moura
Andrade, reassumiu o controle da situação e pediu que removessem os dois rivais
do plenário, ouviu-se o grito: "Há um ferido, Excelência!"
Arnon chegou a ficar algumas horas preso, mas
foi liberado sob alegação de que agiu em legítima defesa. O político disse que
vinha sendo ofendido e ameaçado por Silvestre Péricles há anos e que também foi
insultado durante discurso no plenário.
Marçal e Datena
A violência, que já foi uma característica da
política de Alagoas, parece ter migrado para São Paulo. Até agora, ninguém
morreu. Entretanto, a virulência dos ataques pessoais entre os candidatos,
protagonizada sobretudo pelo influenciador
Parlo Marçal (PRTB) marca os debates eleitorais.
Domingo à noite, descambou para a violência
física. O apresentador
José Luiz Datena (PSDB) não chegou a puxar uma arma, mas
agrediu Marçal com uma cadeira, no debate realizado na TV Cultura. O caso foi
registrado no 78° Distrito Policial (Jardins) após a confusão. Marçal chegou a
ser hospitalizado, com traumatismo no tórax e ferimento na mão.
Marçal também anunciou que processará Datena
por agressão e pedirá a cassação do registro de sua candidatura. O advogado de
Datena, Eduardo Cesar Leite, afirmou que representará criminalmente contra
Marçal, por calúnia e difamação.
O episódio foi o desfecho de um debate
pautado por agressões pessoais, cuja gota d'água foi um desafio de Marçal:
"Você é um arregão. Você atravessou o debate esses dias para me dar tapa e
falou que você queria ter feito. Você não é homem nem para fazer isso. Você não
é homem".
Na sequência, Datena agrediu Marçal com uma
cadeira. A turma do deixa-disso evitou uma segunda cadeirada e o programa foi
interrompido pelo apresentador Leão Serva.
A sequência completa do bate-boca está
bombando nas redes sociais. Bem ao seu estilo, Marçal compara a cadeirada que
levou à facada recebida por Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e ao
tiro que Donald Trump levou de raspão, na orelha, num comício de campanha pela
volta à Presidência dos Estados Unidos.
Datena admite que errou, mas diz que faria
tudo outra vez, nas mesmas circunstâncias. Nas redes sociais, esse é o assunto
mais comentado no Brasil, com surpreendente vantagem para o candidato tucano,
que parecia um candidato prestes a jogar a toalha. O prefeito Ricardo Nunes
(MDB), candidato à reeleição, Guilherme Boulos (PSol), Tabata Amaral (PSB) e
Marina Helena (Novo) lamentaram a baixaria, responsabilizaram Marçal pela
escalada das agressões. Porém, condenaram Datena pela agressão física.
Fora do ar
Enquanto isso, o WhatsApp da Lex, personagem da inovadora candidatura a vereador de Pedro Markun (Rede), criada com inteligência artificial, para debater propostas com os eleitores nas eleições de São Paulo, foi retirada do ar pela Meta. O candidato notificou a big tech e quer saber a razão da interdição. A Meta é dona do Facebook Messenger, Facebook Watch e Facebook Portal. Também adquiriu o Instagram, o WhatsApp, o Oculus VR, o Giphy e o Mapillary.
Um comentário:
Gostei do ''Parlo'' Marçal - Maria Helena culpa Datena,não vi ela culpando Marçal de nada.
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