sexta-feira, 20 de junho de 2025

O esticão nos preços do petróleo - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

A commodity mais exposta ao impacto da guerra entre Israel e Irã é o petróleo. É o principal produto de exportação do Irã e da maioria dos países da região.

Por enquanto, o bombardeio de Israel não atingiu campos importantes de produção de petróleo e gás do Irã, nem há registro de que refinarias tenham sido duramente danificadas.

Ainda assim, os preços do petróleo tipo Brent subiram 26% em junho. Por toda parte, analistas farejam novos riscos, já que não há clareza sobre como evoluirão as hostilidades. Daí, a forte volatilidade das cotações.

O principal risco para o fluxo do mercado seria o bloqueio do Estreito de Ormuz, que liga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã. Por lá passam entre 20% e 30% do petróleo consumido no mundo. Caso o bloqueio ocorra, esse petróleo teria de ser escoado por rotas muito mais longas – o que elevaria custos.

A possível derrubada do regime dos aiatolás não elimina as dúvidas, pois não se sabe como se organizaria um governo no Irã a partir das forças que hoje estão na oposição. É preciso saber, ainda, qual seria a reação do cartel da Opep à eventual persistência da alta dos preços. Se a decisão for aumentar a produção e a oferta de petróleo e gás, os preços poderiam voltar a ceder.

Um dos efeitos da queda das cotações de petróleo registrada antes da deflagração da guerra foi a grande perda de competitividade do petróleo de xisto produzido nos Estados Unidos, que opera a custos superiores a US$ 65 por barril. O presidente Trump tinha interesse em estimular a produção desse petróleo. Mas o tarifaço produziu efeito contrário, ao apontar para uma desaceleração da produção econômica global e, a partir daí, para uma queda no consumo de petróleo. Essa desaceleração do PIB explica o tombo das cotações no período imediatamente anterior ao início da guerra.

Quando a Opep aumenta a produção e, assim, provoca queda nos preços, pode não estar trabalhando contra seus interesses. Pode estar trabalhando a favor, pois tende a alijar do mercado produtores que operam com custos mais altos.

A Petrobras exporta hoje pouco mais de 50% do petróleo bruto que produz no Brasil. Nesse sentido, uma alta consistente nos preços do petróleo não só poderia beneficiá-la, como também aumentaria a receita do governo com royalties, que se baseiam nos preços em dólares.

No entanto, essa alta não arma toda a equação, porque é preciso observar como se ajustam os preços no mercado local. A Petrobras trabalha hoje com regras obscuras de fixação dos preços dos combustíveis internos. É o que o presidente Lula chamou de “abrasileiramento” da Paridade dos Preços Internacionais, cujo objetivo é aliviar o custo de vida da população.

 

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