sexta-feira, 20 de junho de 2025

Quem avisa - Bernardo Mello Franco

O Globo

Lula precisa fazer mudanças drásticas no governo se quiser evitar uma derrota em 2026. O alerta não é da oposição. Vem de três dos quatro candidatos à presidência do PT.

Às vésperas das eleições no partido, Rui Falcão, Valter Pomar e Romênio Pereira traçam um cenário sombrio para o Planalto. Preferido de Lula, Edinho Silva está sozinho na defesa da gestão atual.

“Ou o governo muda ou o povo muda de governo”, disse Romênio na noite de terça, em debate no Rio. Secretário de Relações Internacionais do PT, ele cobrou respostas para a alta taxa de reprovação a Lula. “A gente só gosta de ver pesquisa quando ela é boa”, ironizou.

“Precisa ter mudança na linha política do governo e na linha do partido”, concordou Pomar. “Estamos perdendo apoio em nossa base social e eleitoral, como confirmam todas as pesquisas”, prosseguiu.

“Há ilusões entre nós pelo fato de as pesquisas ainda demonstrarem o presidente Lula liderando”, alertou Falcão, que já comandou três vezes o PT. “Com tudo o que já fizemos, nossa popularidade está muito baixa, e isso nos preocupa. É preciso haver uma mudança de rota. É preciso acabar com a modorra e o alheamento”, advertiu.

“Sabemos que a conjuntura não é favorável a nós”, reconheceu Edinho. Na defensiva, ele admitiu que o Planalto é refém de um Congresso movido a emendas e hostil ao PT. “Não estamos vivendo mais num regime presidencialista”, protestou. “Mesmo numa coalizão, estamos vendo a dificuldade do presidente Lula para governar.”

Os candidatos divergiram sobre o que fazer até 2026. Favorito a vencer a eleição interna, Edinho disse que as críticas ao governo ajudariam a oposição: “Isso está sendo recortado para usarem contra nós”.

O apelo não comoveu os demais concorrentes. “Quem avisa amigo é. O eleitor pode nos demitir e nos mandar para um destino que não queremos”, avisou Romênio. “Lula disse que não queria saber de puxa-saco nem de tapinha nas costas. Estou seguindo rigorosamente a orientação do nosso presidente”, provocou Rui.

Num momento constrangedor, Pomar acusou o capo do PT fluminense, Washington Quaquá, de “promiscuidade com milicianos” e “enriquecimento incompatível com a atividade política”. Ninguém se animou a defender o prefeito de Maricá, que apoia Edinho. Mais tarde, num grupo de mensagens, ele chamou Pomar de “vagabundo” e “caluniador”.

 

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