sexta-feira, 20 de junho de 2025

Apertem os cintos! - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Como negociação técnica não funciona, Haddad passou o manche para Gleisi e Costa. O piloto sumiu!

Numa semana de guerra entre Israel e Irã, BC elevando os juros a 15% ao ano e Congresso impondo três derrotas ardidas ao governo Lula, o piloto da economia brasileira sumiu! Não importa se com bons motivos ou não, o fato é que Fernando Haddad parece ter se cansado de problemas por todos os lados, tirou férias e entregou o manche para Gleisi Hoffmann e Rui Costa. Apertem os cintos!

Haddad errou nas mudanças do pix e teve de recuar, errou ao taxar o IOF sem debate prévio e teve de recuar, e errou ao assumir uma alternativa sem ter garantias da Câmara e do Senado.

Vai ter de recuar? O presidente Lula diz que não. Mas, como a racionalidade não funciona, Haddad jogou o pepino para Gleisi, sua adversária quando era presidente do PT, e Rui Costa, seu maior adversário no Planalto.

O ministro da Fazenda está esgotado e esgotou as possibilidades técnicas e deixou a “área política” se virar com o senador Davi Alcolumbre e, particularmente, com o deputado Hugo Motta, que sintetiza o que ocorre no Congresso: o Centrão se desgarrando do governo, reforçando a oposição e impondo derrotas a Lula.

Fiel da balança, não é de hoje, o Centrão manteve um pé no governo (e em ministérios) e outro no bolsonarismo. Ao sentir que os ventos sopram contra Lula, não teve o menor pudor – como nunca teve – de pular de barco.

Aos ventos e privilégios, tudo!

Em sequência, a Câmara aprovou urgência para derrubar o pacote do IOF, o Senado derrubou 12 vetos presidenciais e Alcolumbre leu o pedido de instalação da CPI mista das duas casas que, oficialmente, é para a prática salutar de investigar a roubalheira de aposentadorias e pensões do INSS, mas, na prática, é para azucrinar Lula.

Resumo da ópera: o Congresso se diz grande defensor do equilíbrio fiscal, mas derruba todas as propostas do governo de aumentar a arrecadação e aprova as suas próprias propostas de aumentar os gastos, especialmente os seus. Ao votar contra o IOF, o Congresso não apresentou nada para sustentar a receita. Ao derrubar os vetos de Lula, ampliou gastos de R$ 197 bilhões na energia e R$ 164,8 milhões no Fundo Partidário. Por fim, deu o bote da CPMI, que hibernou com revelações sobre o envolvimento do governo Bolsonaro e só sai agora, após as pesquisas mostrarem que o ônus caiu sobre o atual governo.

O piloto da economia sumiu, mas Lula continua voando por aí. “Se eu for candidato, é para ganhar”, disse no feriado ao podcast Mano a Mano, enquanto Tarcísio de Freitas comemorava 50 anos enrolado na bandeira de Israel e cantando para uma multidão espetacular na Marcha para Jesus em São Paulo. Sei não...

 

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