sexta-feira, 20 de junho de 2025

Disputa presidencial – Rogério Wenerck*

O Estado de S. Paulo

O Congresso já não esconde a extensão da sua resistência à reeleição de Lula

Bem antes do que esperava, o presidente espanta-se com a conta proibitiva dos erros crassos que se permitiu cometer. Alarmado, o governo constata agora que está longe de dispor de apoio no Congresso para viabilizar a elevação de carga tributária com que contava, para reduzir a extensão dos bloqueios e contingenciamentos orçamentários que passaram a ser requeridos pelas regras do arcabouço.

Tendo descuidado da formação de uma maioria parlamentar confiável, o Planalto se vê hoje com uma bancada governista efetiva que não chega a um quarto do Senado ou da Câmara. Difícil vislumbrar como, com a posição hiper minoritária a que está reduzido no Congresso, o governo poderá enfrentar a longa travessia dos 15 meses que ainda faltam para as eleições de 2026.

O pior é que, nas últimas semanas, acumularam-se evidências de uma clara mudança de regime nas relações do governo com a maioria de centro-direita que hoje controla o Congresso. E que se mostra a cada dia menos disposta a resgatar o Planalto das dificuldades fiscais em que se meteu.

A perspectiva de antecipação do desfecho do julgamento de Jair Bolsonaro e o bom desempenho de governadores da oposição nas pesquisas de intenção de votos parecem ter desobstruído, afinal, o caminho para o surgimento de uma candidatura presidencial viável de centro-direita. Ainda é cedo para saber ao certo se é mesmo essa a razão primordial da mudança de regime na relação do Congresso com o governo. Se for, o governo precisa ter cuidado. E repensar sua precipitada disposição de dobrar a aposta no ruidoso embate que vem travando com o Congresso.

Já não há mais dúvida, a essa altura, de que o governo, de um lado, e a maioria de centro-direita do Congresso, de outro, terão candidatos concorrentes na disputa presidencial. É verdade que Lula contará com as vantagens habituais do incumbente. E, no limite, poderá vir a “fazer o diabo”, como disse Dilma Rousseff em 2013. Mas, nas condições atuais, em que o incumbente tem uma base parlamentar tão reduzida, sem nenhuma capacidade de bloqueio, o Congresso poderá cercear em grande medida o espaço fiscal com que espera contar para “fazer o diabo” no ano eleitoral. No limite, mais do que lhe impor uma restrição orçamentária bem mais rígida, poderá lhe fazer a vida impossível. E deixá-lo a pão e água.

A julgar pelas bravatas e ameaças que têm pautado as manifestações irritadas da ministra de Relações Institucionais e do ministro da Fazenda contra o Congresso, o governo ainda não parece ter se dado conta disso.

*Economista, doutor pela Universidade Harvard, é professor titular do departamento de economia da PUC-Rio

Nenhum comentário: