sexta-feira, 25 de julho de 2025

Centrão deixa PL isolado - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Veto ao uso da Câmara como palanque de ex-presidente é claro sinal de isolamento dos bolsonaristas

Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado deixaram os bolsonaristas falando sozinhos quando decidiram vetar o uso das dependências do Congresso como palanque de retaliação ao Supremo Tribunal Federal e defesa de Jair Bolsonaro.

A rigor, a alegação formal de que o recesso impediria o funcionamento da Casa é questionável. Oficialmente, o período de férias só começa depois da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, e isso não aconteceu.

Houvesse alinhamento de Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP) com os propósitos do grupo, o acordo poderia ser anulado sob quaisquer justificativas. A crise deflagrada pela ameaça de imposição de sanções ao Brasil por Donald Trump seria uma delas.

Ademais, convocações extraordinárias têm previsão legal. Portanto, é evidente a razão do veto à cessão do espaço: o proselitismo bolsonarista no momento é contraproducente para o centrão, para a ala do PL que não tem comparecido aos eventos de louvor ao ex-presidente e para os governadores que depois do erro inicial trataram de se afastar do discurso de apoio a Trump. Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) mudou o rumo da prosa, Ronaldo Caiado (União-GO) calou-se e Romeu Zema (Novo-MG) criticou as ações de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos.

A ideia de dar abrigo ao deputado-filho em alguma secretaria estadual passou batida pelo Palácio dos Bandeirantes e estacionou no Guanabara, de onde o governador Cláudio Castro (PL) fez sondagens sobre a legalidade dessa nomeação no STF e foi desaconselhado.

Não quer dizer que algum outro não possa se apresentar à prestação de tal favor. Quem o fizer, contudo, precisará pesar e medir muito bem as consequências. Primeiro, junto à população, cujo dinheiro não será usado em estrutura de política pública e sim para proteger o mandato de um homem sustentado no exterior com R$ 2 milhões dados pelo pai. E, depois, o governador-empregador haverá de se ver com a Justiça quando for chamado a responder por ato com desvio de finalidade.

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