O Estado de S. Paulo
A China já se aproxima da fronteira tecnológica da produtividade. Resta estimular o amor
Em meio a uma corrida demográfica contra a Índia, as autoridades da China devem ter achado que está faltando amor aos casais chineses ao decidir dar um empurrãozinho para elevar a taxa de natalidade: oferecer dinheiro para os gastos com cada filho que nascer. Isso porque não bastou revogar, em 2016, a lei que limitava as famílias chinesas a um único filho – em vigor a partir do fim da década de 1970 – para evitar a queda e o envelhecimento da população.
O subsídio – equivalente a US$ 500 ao ano por
criança até três anos de idade – foi anunciado no fim de julho, na esteira da
notícia de que, em 2024, o número de casamentos na China atingiu o menor
patamar desde que essa estatística começou seu registro. No ano passado, a
queda nos casamentos foi de 20%. Ao contrário do que acontece no Brasil, é
extremamente raro para chineses ter filhos fora do casamento.
Muitos analistas chegam a falar em “crise
demográfica” para descrever o que está acontecendo na China. Em 2024, a
população do país registrou queda pelo terceiro ano consecutivo: menos 1,39
milhão de habitantes para um total de 1,408 bilhão. O êxodo rural, em curso nas
últimas décadas, contribuiu para a queda da taxa de natalidade, dado o custo
mais elevado para se viver nas cidades chinesas.
A Índia ultrapassou a China como o país mais
populoso do mundo em 2023, quando a ONU estimou em 1,429 bilhão o número de
habitantes naquele país do sudeste asiático. Isso agravou a tensão geopolítica
entre os dois países, uma vez que os chineses temem que o crescimento
populacional da Índia possa, no futuro, levar o PIB indiano a também
ultrapassar o tamanho da economia chinesa, hoje a segunda maior do mundo.
Com uma população bem mais jovem do que a
média de idade chinesa, a economia da Índia ainda deve se beneficiar do chamado
bônus demográfico. A China, por outro lado, enfrenta um ônus demográfico (22%
da população está acima de 60 anos), com impacto negativo, inclusive, para o
seu sistema previdenciário.
“O Brasil também enfrenta um ônus
demográfico, embora menos grave que o da China”, diz Bráulio Borges, economista
da LCA 4intelligence. Para compensar o efeito negativo sobre a oferta de mão de
obra e a taxa de poupança para financiar o crescimento, Borges recomenda ao
Brasil elevar a produtividade da economia, aprovando reformas estruturais, além
de incentivar a maior participação da mulher na força de trabalho. Como em
economias desenvolvidas, a China já se aproxima da fronteira tecnológica da
produtividade. Resta, agora, estimular o amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário