Combater facções é fator crítico para preservar Amazônia
Por O Globo
Crime organizado se tornou um dos maiores
responsáveis pela devastação florestal, revelam estudos
O crime organizado é um dos maiores vetores
de destruição da Floresta Amazônica. As facções criminosas são responsáveis não
apenas pela explosão de violência na
região, mas também por dificuldades para reduzir as emissões de gases de efeito
estufa. Por isso se tornaram objeto de estudos recentes e tema de debates na
COP30, em Belém.
“O crime organizado se tornou um grande agente de desmatamento. Ele fragmenta a floresta e as comunidades”, diz o climatologista Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia (SPA), uma rede de cientistas e líderes indígenas. Em relatório recém-lançado, o SPA constata que as quadrilhas do tráfico, do garimpo ilegal e da grilagem encontraram na devastação florestal uma fonte de lucro, usado para ocupar território e lavar dinheiro, como relatou reportagem do GLOBO.
Cerca de 40% da cocaína mundial atravessa a
região amazônica, diz o relatório. O narcotráfico devasta a vegetação e usa
vias fluviais em áreas antes intactas. Mais de 4 mil pontos de mineração ilegal
se espalham por terras indígenas e unidades de conservação, correspondentes a
mais de 2.600km2 da Amazônia brasileira. O garimpo ilegal também provoca
devastação no território ianomâmi, com contaminação por mercúrio e danos
permanentes à saúde da população. Por fim, mais de 90 mil reses criadas em
áreas invadidas entraram no mercado formal de carne bovina, estima o estudo.
A situação é ainda mais preocupante, pois
grande parte da fronteira amazônica é aberta, sem vigilância. Muitos rios e
afluentes do Amazonas nascem noutros países. O relatório cita o avanço do
garimpo ilegal no Peru, responsável por destruir milhares de hectares de
floresta e por focos de desmatamento, e também pela Venezuela, no território
ianomâmi. Não adianta reprimir garimpo apenas em um lado da fronteira. É
urgente haver por parte de Brasília ação política e diplomática incisiva para
articular iniciativas com os vizinhos com o objetivo de preservar a floresta.
Fora a importância para a manutenção do
grande volume de água doce da região, as árvores da Amazônia armazenam o
equivalente a entre 15 e 20 anos de emissões globais de CO₂, segundo o
relatório. Faz sem dúvida sentido o lançamento do Fundo Florestas Tropicais
para Sempre (TFFF), para captar recursos destinados a conservar a floresta.
Além de programas de preservação, porém, será essencial enfrentar facções
criminosas. “Estamos convencidos de que a agenda climática deve incorporar a
questão do crime organizado”, diz o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP), Renato Sérgio de Lima.
Também na COP30, o FBSP lançou um estudo
relatando oito experiências promissoras de enfrentamento ao crime organizado na
região. São iniciativas como bases fluviais estabelecendo a presença permanente
do Estado no Amazonas e no Pará; o programa de rastreamento do ouro ilegal pela
Polícia Federal; a Operação Curupira, que usa rastreamento contínuo por
satélite para atuar nos municípios com maior desmatamento; uma força-tarefa
permanente de combate ao crime organizado; ou a presença no território ianomâmi
com um modelo que alia repressão ao garimpo e assistência humanitária. Tais
exemplos apontam caminhos promissores. Mas é preciso que ganhem escala e sejam prioridade
nacional. Deter as organizações criminosas é crítico também para salvar o
planeta.
Bancarrota da Oi expõe erros do estatismo e
acerto da privatização
Por O Globo
Governo jamais deixou de ter influência na
empresa — incapaz de se modernizar para ser competitiva
A falência da Oi foi decretada, em seguida
suspensa pela Justiça.
Qualquer que seja o desfecho, o episódio traz duas lições essenciais sobre o
capitalismo brasileiro. Primeira: os equívocos da política de campeões
nacionais levada a cabo nos primeiros governos do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. Segunda: o acerto da privatização das empresas de telefonia.
No leilão do sistema Telebras, o consórcio
Telemar levou os serviços de telefonia fixa de Norte, Nordeste e Sudeste, com
exceção de São Paulo. Era a maior tele em abrangência territorial, presente em
16 estados. Desde o início, o negócio despertou dúvidas nos investidores. A
venda só se tornou possível porque o próprio governo deu um empurrãozinho via
participações acionárias de fundos de pensão de estatais e BNDES. A Telemar já
nasceu com a característica paraestatal que define certas corporações privadas
sobre as quais o governo ainda exerce influência.
Em 2007, foi rebatizada como Oi. Para o
governo, era o embrião de uma “supertele”, uma das campeãs nacionais que Lula
encarava como motores do crescimento. Em dificuldades, começou a ser inflada.
Em 2008, o Planalto mudou a legislação para permitir a fusão com a Brasil
Telecom, responsável pelas regiões Sul e Centro-Oeste. A regra vedava a união
de concessionárias de regiões distintas, para estimular a competição. Para os
desenvolvimentistas do PT, esse era um detalhe irrelevante no plano de estender
os poderes do Estado sobre o setor privado.
A Oi foi expandida artificialmente, com
crédito subsidiado pelo BNDES. Enquanto crescia, em vez de se concentrar no
avanço tecnológico que redesenhava o mundo das telecomunicações e em prestar
serviços de excelência, os planos mirabolantes tentavam resolver os problemas
por meio da política. Foi novamente sob as bênçãos do Planalto que a Portugal
Telecom entrou no capital da Oi e, na primeira gestão de Dilma Rousseff, as
duas empresas se fundiram. Depois, descobriu-se um rombo de € 897 milhões na
tele portuguesa, e a fusão implodiu.
Enfrentando concorrentes com mais capital,
mais competência técnica e melhor gestão, a Oi foi definhando. Em 2016, com
dívidas de R$ 65 bilhões, entrou na primeira recuperação judicial. Saiu em 2022,
mas meses depois entrou na segunda. Ficou no buraco desde então. Sobrevivia
graças a 4.664 contratos com órgãos públicos. Ainda é a única tele em 7.500
locais.
A Justiça reverteu a falência atendendo a pedido de credores. Os gestores continuam responsáveis por garantir que os serviços prestados sejam mantidos, sob supervisão da Anatel. É fundamental não prejudicar os usuários e o setor. Há o risco de o governo tentar reestatizar a Oi. Seria um desfecho lastimável, típico do intervencionismo estatal em que o contribuinte é chamado a arcar com prejuízos alheios. A alternativa razoável é vender partes da empresa a outras teles capazes de tocar o negócio. Graças à existência de um sistema privado robusto de telecomunicações, isso é possível sem repassar qualquer conta ao Erário — prova do acerto na privatização da telefonia.
Sem moderação, Lula correrá mais riscos em
2026
Por Folha de S. Paulo
Parcela ao centro do eleitorado, longe de
paixões ideológicas, decidirá resultado da sucessão presidencial
Num eventual quarto mandato, com relação
parlamentar ainda mais difícil, o petista teria de lidar com a dívida
monstruosa que fomentou
A recuperação da imagem do presidente Luiz
Inácio Lula da
Silva (PT)
parece encontrar o seu teto. As reações da opinião pública à operação policial
que causou a morte de 121 pessoas no Rio de
Janeiro representaram o estopim da reacomodação do quadro
político.
Pesquisa
recente da Quaest conectou os pontos —de um lado a crise na
segurança e, do outro, a estagnação da popularidade presidencial na fronteira
que divide quase à metade o eleitorado entre quem endossa e quem desaprova a
administração federal.
Dá para arriscar que o atingimento desse
platô ocorreria de qualquer maneira, a despeito da operação policial nas
favelas cariocas ou, ainda, que poderia ser provocado por outro acontecimento
de repercussão nacional.
O quadro geral que determinou o resultado
apertadíssimo das eleições de
2022 não dá mostras de ter-se diluído. Parcela francamente majoritária dos
50,9% que votaram em Lula naquele segundo turno continua a apoiá-lo como
presidente. Já os que o rejeitam correspondem quase matematicamente aos 49,1%
que votaram em Jair
Bolsonaro (PL).
Um segmento de eleitores independentes —que
ora oscila para um lado, ora para o outro— tem causado as idas e vindas na
aprovação do petista desde a posse, em janeiro de 2023. A movimentação pendular
prediz que essa fatia no centro do espectro ideológico vai decidir a sucessão
presidencial em outubro de 2026.
Trata-se de uma boa notícia para quem aspira
à moderação dos discursos e das práticas políticas no Brasil. Cavalgadas para
os extremos tendem a ser punidas nas urnas. O bolsonarismo radical, desfalcado de
seu líder por condenações judiciais, caminha para exercer influência
decrescente.
Arranques esquerdistas do presidente —como
a nomeação de
Guilherme Boulos (PSOL) para o ministério— terão custo eleitoral.
Elevar a dose da gastança implicará
mais risco de surto inflacionário e margem menor para queda
de juros.
Eleitores distanciados de paixões políticas votam contra o incumbente quando
estão insatisfeitos com a economia.
Dado o agigantamento do Congresso
Nacional, com seu domínio progressivo da execução orçamentária e o
controle pelas oligarquias partidárias das vultosas verbas públicas de
campanha, aumenta o peso do resultado da eleição parlamentar na balança da
governabilidade. O prognóstico é ruim para a esquerda nesse ponto.
Se confirmar o seu hoje discreto favoritismo,
Lula poderá conviver com um ambiente ainda mais hostil ao Planalto que o atual
em Brasília.
Some-se a isso a perspectiva de um presidente envelhecido, sem possibilidade de
reeleição, tendo que lidar com as consequências do monstruoso endividamento que
fomentou.
A melhor saída para Lula não é esperar 2027
para corrigir os rumos da política e da economia. Os sinais convergem para a
moderação. Seria o caso de praticá-la já, até em nome da própria sobrevivência
do governo petista.
Populismo impopular
Por Folha de S. Paulo
Sob avaliação negativa dos eleitores e risco
de perder maioria no Legislativo em 2026, Trump afrouxa tarifaço
Inflação está em 3% ao ano, com picos no café
(18,9%) e na carne bovina (14,7%); queda de tarifas pode favorecer exportações
do Brasil
Dias depois da derrota do
Partido Republicano em eleições municipais e estaduais, Donald Trump passou
a indicar que tomaria providências para conter preços de alimentos. Foi o que
fez na sexta-feira (14), ao afrouxar o
tarifaço imposto sobre importações de carne bovina, tomate,
café e banana.
A maioria dos americanos se queixa do custo
de vida, perde confiança na economia e
votou no Partido Democrata. No final do próximo ano, Trump pode perder a
maioria no Congresso, nas eleições de meio de mandato.
A avaliação do republicano é a mais baixa
desde que chegou à Casa Branca. Hoje, 41,4% dos americanos aprovam seu governo,
ante 54,8% que o desaprovam. Na posse, ele tinha um saldo favorável de 51,6% a
40%, segundo a média das pesquisas calculada pelo Silver Bulletin. A
insatisfação é mais alta nos quesitos inflação (61,7%)
e economia (58,2%).
O reputado índice de confiança do consumidor
da Universidade Michigan caiu para 50,3 pontos neste novembro, ante 71,8 pontos
no mesmo mês de 2024. É um nível quase tão baixo quanto o do pico inflacionário
de 2022 e um dos piores em quase 50 anos.
Os efeitos da paralisação do governo —o
shutdown recorde de 43 dias motivado por impasses orçamentários— também
contribuíram para o desgaste, ao prejudicar pagamentos de salários de
servidores e benefícios sociais, entre outros problemas.
A inflação está na casa de 3% ao ano. No caso
da comida, são 3,1%, com picos no café (18,9%) e na carne bovina (14,7%). Mas
os preços permanecem em patamar desconfortável desde o final da pandemia.
Aluguel, saúde e serviços de utilidade pública geram queixas e debate
eleitoral.
Desfazer parte do tarifaço tende a aliviar a
carestia, em movimento que pode favorecer o Brasil. Quanto à economia
americana, o resultado é mais incerto.
A atividade deve desacelerar neste ano e no
próximo, em parte pela incerteza provocada por Trump. Setores produtivos seguem
caminhos díspares.
O investimento em inteligência artificial e
áreas relacionados cresce, assim como o ânimo das Bolsas de Valores com tais
empresas —o que, por sua vez, estimula o consumo do quinto mais rico da
população. Já os estratos pobres têm hoje maior dificuldade de encontrar
empregos.
Mesmo sem uma crise mais grave, o republicano experimenta as consequências de seu populismo desvairado antes de completar o primeiro ano do mandato. A ver se corrigirá erros, se dobrará a aposta ou se será contido por perda de apoio político.
A bagunça dos programas sociais
Por O Estado de S. Paulo
TCU mostra que políticas públicas são
dispersas e mal geridas, e a pobreza segue intacta. Uma governança eficiente
pode fazer mais pelos pobres do que qualquer aumento improvisado de gastos
O retrato traçado pelo Tribunal de Contas da
União (TCU) é incômodo: o Estado brasileiro é pródigo em gastos e pobre em
resultados. O mais recente Relatório
de Fiscalizações em Políticas e Programas de Governo revela um
país que despende centenas de bilhões de reais em programas sociais, e, no
entanto, vê a pobreza e a desigualdade persistirem quase intactas. O problema
do Brasil não é gastar pouco, mas gastar mal.
Falta coordenação entre ministérios, sobram
programas sobrepostos e a cultura de avaliação é praticamente inexistente. O
Cadastro Único, espinha dorsal da assistência social, permanece desatualizado e
vulnerável: parte dos registros não é revisada há anos e faltam mecanismos de
verificação cruzada entre os dados, o que compromete a focalização e gera
pagamentos indevidos. Na Previdência Rural, benefícios são concedidos sem
comprovação de vínculo, drenando recursos que deveriam amparar os mais pobres.
No Mais Médicos, há carência de indicadores de desempenho e falhas no
acompanhamento dos resultados. O Estado de bem-estar social brasileiro opera,
assim, como um conjunto de iniciativas bem-intencionadas, mas desgovernadas –
movidas por impulsos políticos, não por evidências.
Aprimorar sua eficiência não exige ruptura,
mas método. É possível auferir do diagnóstico do TCU soluções para reduzir
desperdícios dos programas sem alterar seu desenho: atualizar e integrar o
Cadastro Único às bases do INSS, da Receita Federal, da Educação e da Saúde;
monitorar continuamente resultados; padronizar metas e indicadores; e
fortalecer a capacidade técnica de Estados e municípios. Em suma, gastar melhor
com o que já se tem. Se o poder público não pode, no curto prazo, reformar todo
o seu modelo de proteção social, pode ao menos gerenciá-lo como se quisesse que
funcionasse.
A desordem, contudo, não é só técnica, é
cultural e política. A expansão da assistência social tornou-se um fim em si
mesma. Desde a redemocratização, nenhuma gestão explorou essa lógica com tanto
vigor – e tão poucos resultados – quanto as petistas. Em nome da “inclusão
social”, o País multiplicou programas, ampliou transferências e produziu uma
dependência estrutural que, em vez de emancipar, perpetua a vulnerabilidade. O
Bolsa Família, que deveria ser instrumento de transição, virou ativo eleitoral.
A política social converteu-se em plataforma de poder, não política sadia de
Estado. Decerto o populismo à direita também surfou nessa onda, mas foi a
hegemonia petista que consolidou a confusão entre compaixão e clientelismo. E
cobrou o preço mais alto: o de um país menos produtivo, mais endividado e cada
vez mais dependente do favor público.
Entre o bem-estar e o mal-estar social, o
Brasil construiu o pior dos dois mundos: um Estado generoso no gasto e pobre em
resultados. Enquanto 45% da população figura em cadastros de assistência, o
estoque de capital em infraestrutura encolheu de 53% do PIB para 34% nas
últimas quatro décadas. A produtividade se arrasta; o assistencialismo, não. A
falácia de que responsabilidade fiscal é oposta à responsabilidade social
continua a justificar políticas dispendiosas e ineficazes – e a afastar o País
da prosperidade.
O verdadeiro Estado social não é o que
distribui mais, mas o que emancipa mais. E eficiência não é mera tecnocracia: é
justiça. Cada real mal gasto em fraudes e privilégios é um real a menos para
quem precisa. Diagnósticos como o do TCU deveriam servir de ponto de partida
para um pacto mínimo de racionalidade pública. Reformas estruturais, como as
propostas pelo projeto da Lei de Responsabilidade Social (que, por razões nada
republicanas, foi abandonado em algum escaninho do Congresso), poderiam
cimentar políticas de Estado que combinem metas de redução da pobreza com
disciplina fiscal e avaliação contínua.
De imediato, mesmo sem mudanças de fundo no
desenho das políticas sociais, o poder público pode fazer muito se
administrá-las com a seriedade que sempre reservou às suas promessas. Não há
incompatibilidade entre solidariedade e rigor, entre empatia e método. O
desperdício é a forma mais perversa de injustiça. Não se vence a pobreza com
discursos generosos, mas com governos capazes.
Apostando na impunidade
Por O Estado de S. Paulo
Ao premiar Bruno Henrique com uma multa
irrisória e liberá-lo para jogar, a Justiça Esportiva, na prática, legitima a
manipulação de apostas, conspurcando o futebol brasileiro
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva
(STJD) derrubou na quinta-feira passada a punição imposta ao jogador Bruno
Henrique, do Flamengo, por manipulação de apostas esportivas. Ao impor apenas
uma sanção pecuniária insignificante, a Justiça Esportiva na prática sinalizou
que fraudes nas chamadas bets são
desimportantes.
É um desastre sob diversos aspectos. Em
primeiro lugar, isso lança uma nuvem de dúvidas sobre o futebol brasileiro. Ao
não punir de forma adequada quem comprovadamente desvirtuou o jogo para auferir
ganhos pessoais, o STJD estabeleceu jurisprudência que incentiva outros
jogadores a delinquir. Ninguém saberá ao certo, nem torcedores nem apostadores,
se o que está acontecendo no jogo é resultado de uma disputa limpa ou se se
trata de armação.
Flagrado em investigações da Polícia Federal
(PF) combinando com o próprio irmão, para o fim de apostas esportivas (bets), forçar um cartão amarelo em
uma partida de 2023 contra o Santos, Bruno Henrique vinha atuando normalmente
pelo Flamengo por força de um efeito suspensivo.
Num primeiro julgamento, em setembro passado,
o STJD suspendeu o atleta por 12 partidas. Agora, Bruno Henrique foi absolvido
da acusação prevista no artigo 243-A do Código Brasileiro de Justiça Desportiva
(CBJD), que dispõe sobre condutas contrárias à ética esportiva com a intenção
de alterar o resultado de partida ou competição.
Apesar da contundência das mensagens
divulgadas pela PF (em certo momento, o irmão de Bruno Henrique fala em
“guardar o dinheiro” para garantir o que classificou de “investimento com
sucesso”), o STJD reformou sua decisão anterior, liberando o jogador para
atuar.
O STJD puniu Bruno Henrique apenas com uma
multa irrisória de R$ 100 mil, com base em artigo que prevê sanções para quem
descumpre ou dificulta o cumprimento de regulamentos de torneio.
A falta de critério do STJD salta aos olhos.
Em 2023, Eduardo Bauermann, então zagueiro do Santos, foi banido do futebol por
360 dias e impedido de jogar em qualquer lugar do mundo por combinar que
levaria um cartão amarelo num jogo do Campeonato Brasileiro para favorecer uma
quadrilha que manipulava apostas. E o zagueiro nem chegou a cumprir o combinado
com os bandidos. Embora os casos sejam idênticos, Bauermann e Bruno Henrique
foram punidos de forma totalmente diferente. Não se pode condenar quem suspeite
de que tenha havido leniência em favor do Flamengo em razão de seu poderio
econômico e social.
Não bastasse ser ruim, a decisão do STJD
ocorre com um atraso inexplicável. Entre apelações, arquivamento, reabertura e
pedidos de vista, o caso de um cartão amarelo forçado em novembro de 2023 só
foi concluído dois anos depois.
Enquanto isso, em outros países, o vínculo
entre apostas esportivas e cartões amarelos suspeitos tem provocado discussões
bastante relevantes. Na Austrália, por exemplo, jogadores pediram à
confederação de futebol local que apostas esportivas relacionadas a cartões
amarelos fossem proibidas, algo em que o Brasil faria bem em se inspirar.
O motivo é óbvio: jogadores podem provocar
deliberadamente situações de jogo que são passíveis de advertência com cartão
amarelo. Logo, não são eventos aleatórios, mas provocados, o que é claramente
passível de manipulação.
Esse é um dos tantos aspectos problemáticos
da indústria de apostas esportivas que se instalou no Brasil e é onipresente no
futebol e na publicidade. Este jornal desde sempre se posicionou contra a
liberação das bets no
País, por ser danosa para o bolso e a saúde mental dos cidadãos e por abrir uma
avenida para a lavagem de dinheiro do crime organizado. Uma vez que a jogatina
foi liberada, que ao menos seja objeto de dura regulação.
Não é isso o que se vê, contudo. Além de
promover modalidades de apostas que são sujeitas a manipulação, as bets são taxadas em irrisórios
12%. Quando o governo quis elevar a alíquota para 18%, o Congresso rejeitou,
mostrando a força do lobby das apostas online.
Tudo isso deixa claro como o Brasil ainda
está longe de ter um arcabouço jurídico e tributário adequado para lidar com o
fenômeno corrosivo das apostas esportivas. A punição risível a Bruno Henrique
amplia a sensação de que, nesse esporte, quem joga conforme as regras é bobo.
Jovens ignoram a COP-30
Por O Estado de S. Paulo
Desconhecimento de alunos sobre a cúpula do
clima mostra que escolas passam ao largo do tema
Entre agosto e setembro, quando o País
acertava os últimos preparativos para a conferência mundial do clima, 90% dos
estudantes brasileiros, do ensino fundamental ao médio, desconheciam o que era
a COP-30. Na rede particular a situação era um pouco melhor, mas, de cada 10
alunos, apenas 4 sabiam do que se tratava. E mais: somente 25% dos estudantes
conseguem explicar o que são as mudanças climáticas, enquanto 1/3 deles admite
não saber nada sobre o assunto.
O levantamento, feito pela Equidade.info,
instituição presidida pela educadora Claudia Costin, em parceria com a Frente
Parlamentar Mista da Educação, mostra que promover a conscientização ambiental
não é tarefa simples. Mais do que isso, revela que as escolas, que deveriam
funcionar como catalisadoras, disseminando conhecimento e fomentando debates,
passam ao largo do tema. Desde a primeira COP, em 1995, na Alemanha, o mundo
busca firmar consenso sobre como reduzir ou retardar os efeitos da emissão de
gases que aceleram o aquecimento do planeta, mas o debate existe há mais de
quatro décadas.
De acordo com a pesquisa, que além de mais de
3 mil estudantes ouviu também professores e gestores em todo o País, a ampla
maioria não vê a atividade escolar como palco de discussão dos desafios
climáticos. Entre os alunos, 64% avaliam que a escola prepara pouco ou nada
sobre as mudanças no meio ambiente. Entre os docentes, a percepção da falta de
preparo é ainda maior, chegando a 69%.
O ativismo ambiental juvenil ganhou
notoriedade mundial em 2018, quando a sueca Greta Thunberg, então com 15 anos
de idade, iniciou uma série de protestos solitários contra o aquecimento
global. Sem entrar no mérito das ideias ou utopias de Greta, pode-se dizer que,
no Brasil, ela seria exceção.
A desconexão do cotidiano estudantil com o esforço
de combate às transformações do clima reforça a complexidade de mobilização da
própria sociedade em relação a ações concretas para enfrentar e conter os
extremos climáticos. Os dados deixam claro que não existe hoje preocupação em
formar consciência crítica sobre o que provoca alterações tão graves a ponto de
colocar em risco a própria existência humana no futuro.
Considerando que a ignorância é terreno
fértil para a propagação de teorias sem respaldo científico, o desconhecimento
de crianças e adolescentes sobre a COP-30 e sobre a própria questão ambiental é
um duplo prejuízo. Primeiro, por minar o interesse em torno do principal fórum
para definição de estratégias e compromissos para contenção do aquecimento
global. O despreparo favorece também a propagação de campanhas negacionistas,
mais frequentes a partir da ascensão de Donald Trump à Presidência dos EUA – o
segundo maior emissor de gases poluentes do mundo.
Embora a maioria dos estudantes entrevistados afirme ao menos já ter ouvido falar sobre mudanças climáticas, isso não diz muita coisa, sobretudo porque poucos conseguiram explicar o que isso significa, mas já é um começo. Cabe à sociedade mobilizar-se para que esta geração saiba o que o futuro lhe reserva.
O problema da IA no meio ambiente
Por Correio Braziliense
Vista como uma ferramenta importante para
enfrentar os desafios da crise climática, a IA demanda quantidades
significativas de água e energia
O uso de inteligência artificial é um enigma
de duas faces no debate sobre sustentabilidade. De um lado, a nova tecnologia
tem sido vista como uma ferramenta importante para enfrentar os desafios da
crise climática. De outro, representa uma ameaça ambiental ao planeta, na
medida em que demanda quantidades significativas de água e energia.
Considerando a popularização desse instrumento em escala global, convém
governos avançarem na regulamentação dessa tecnologia, hoje controlada pelas
big techs.
A inteligência artificial tem sido útil em
diversas situações. A partir da análise de grande quantidade de dados, os
modelos têm auxiliado cientistas a prever com mais precisão os impactos de
algum desastre meteorológico, como furacões, enchentes e incêndios florestais.
Esse avanço ajuda a salvar vidas em momentos de extremos climáticos. Ao
identificar com antecedência as possíveis áreas afetadas, governos e órgãos
ligados à Defesa Civil têm mais tempo para retirar famílias.
Os modelos desenvolvidos de IA também
auxiliam no monitoramento de espécies da flora e fauna atingidos pelo
desmatamento e pela poluição. Os sistemas conseguem produzir informações para
reprimir, por exemplo, a caça ilegal ou a mineração predatória. Contribuem,
ainda, para a melhor estratégia de mitigação de secas ou outros fenômenos
meteorológicos, com benefícios à produção agrícola.
Existem, contudo, questões prementes em
relação a essa novidade tecnológica. É amplamente reconhecido que a
inteligência artificial tem impacto severo no consumo de água e na produção de
energia. Os data centers que desenvolvem a aprendizagem dos modelos de IA
precisam de uma refrigeração em proporções gigantescas, por causa do
superaquecimento dos computadores. Esses centros têm sido, em diferentes partes
do mundo, alvo de protestos em regiões com escassez hídrica ou com economia
centrada na produção agrícola.
Com a disseminação de ferramentas como
ChatGPT e Dall-E, utilizadas até para atividades triviais, como trabalhos
escolares, o impacto ambiental provocado por essas megafábricas de dados tem
crescido de forma exponencial. Em 2022, calcula-se que os data centers
figuravam como o 11º maior consumidor de energia do mundo — o equivalente ao
consumo da França. Há uma expectativa de que, em 2026, essas centrais digitais
passem a ocupar o quinto lugar em consumo de energia, ombreando com Rússia e
Japão. Apenas uma das big techs que atuam com IA tem mais de cem data centers
espalhados pelo mundo, cada um com cerca de 50 mil servidores que processam informações.
O mais preocupante é que o uso de IA está
concentrado nas mãos do seleto grupo de empresas que investem bilhões no
negócio da informação. E não há sinal de que as big techs pretendam recuar de
seus objetivos financeiros em nome da sustentabilidade. Nada fizeram quanto à
ascensão do discurso do ódio e à ocorrência de outros crimes nas redes sociais;
pouco se incomodaram com a disseminação de fake news e enfraquecimento do
jornalismo profissional no planeta.
Não resta dúvida que a inteligência artificial
pode ser um instrumento precioso para a humanidade enfrentar a crise climática
com mais eficácia. É preciso, contudo, que o poder público se debruce com
critério e seriedade sobre essa tecnologia. Até aqui, ela tem sido utilizada,
em larga escala, para conglomerados auferirem mais lucros.
No caso da COP30 e das próximas convenções do clima, urge ir além do lado pitoresco representado pela arara Macaozinho. Lançada na semana passada em Belém, a ferramenta de IA fornece informações confiáveis sobre a crise climática, a partir de dados oficiais da Organização das Nações Unidas.
13º salário: o extra para aquecer o comércio
Por O Povo (CE)
O benefício deve injetar na economia cearense
cerca de R$ 9,2 bilhões entre novembro e dezembro
Até o fim deste mês, milhões de brasileiros
receberão o pagamento obrigatório da primeira parcela do 13º salário. O
benefício deve injetar na economia cearense cerca de R$ 9,2 bilhões entre
novembro e dezembro. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 3,3 milhões de pessoas devem receber a
gratificação, que é garantida por lei.
Desses beneficiados, 56% são empregados do
mercado formal, celetistas ou estatutários. O 13º salário é um direito
garantido por lei para pessoas que trabalham com carteira assinada, aposentados
e pensionistas do INSS. Segundo o calendário oficial do pagamento, a primeira
parcela deve ser depositada na conta do trabalhador até o dia 30 de novembro. A
segunda parcela deve ser depositada até o dia 20 de dezembro.
O pagamento dessa parcela é sempre esperado
pela população em geral, visto que representa um dinheiro extra para quitar ou
adiantar pagamentos, comprar presentes de fim de ano ou ser uma poupança extra.
Para o comércio, também é uma oportunidade de aquecer as vendas, que já
aumentam naturalmente com a chegada do fim do ano. Junto com as promoções das
festas, cria-se uma chance a mais de realizar compras a partir do dinheiro
recebido.
Assim, é interessante que haja, de algum modo,
uma tentativa de educar financeiramente a população no sentido de orientá-la a
fazer bom uso desse dinheiro. Seja pagando dívidas, seja comprando algo de que
necessitem, as pessoas precisam saber pesquisar com cautela e estar atentas às
promoções para identificar se valem, de fato, a pena.
É válido lembrar que o 13º salário é uma
gratificação garantida em lei sancionada pelo presidente João Goulart em 13 de
julho de 1962. Mas, desde a década de 1950, a luta pelo "abono de
Natal" já havia se iniciado. Chegou forte aos anos 1960, em meio ao avanço
da inflação, empoderamento dos sindicatos e contexto político inflamado pelas
disputas ideológicas da Guerra Fria. Na verdade, no Brasil, os primeiros
registros de greves e demandas pelo abono de Natal são de 1921, na Cia.
Paulista de Aniagem e na indústria Mariângela - ambas empresas do segmento
têxtil.
Em dezembro de 1961, os trabalhadores se
mobilizam em greve pelo abono de Natal, num protesto liderado pelos sindicatos
dos metalúrgicos e dos têxteis de São Paulo. A greve foi duramente reprimida
com mais de 1.300 presos, e o movimento grevista foi declarado ilegal pelo
governo. Enquanto isso, a Câmara dos Deputados, que havia aprovado o projeto em
primeira votação, entrou em recesso. Assim, o projeto só foi aprovado em
segundo turno na Câmara em abril de 1962 e no Senado em junho daquele ano.
Faltava, porém, a sanção presidencial. Então,
veio a greve geral de 5 de julho de 1962. A manifestação foi fundamental para
pressionar o governo a aprovar o benefício. Desse modo, é relevante mencionar
que a gratificação foi conquistada a partir de muita luta dos trabalhadores até
se transformar num direito social e fundamental como é hoje, aguardado também
pelo comércio para ajudar a movimentar a economia.

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