Folha de S. Paulo
Presidente dos EUA parecerá derrotado por
Maduro se não fizer nada agora, dizem analistas
Força militar reunida não basta para uma
invasão, mas é similar a de outros ataques
O dito mais poderoso porta-aviões dos Estados
Unidos, o Ford, chegou na
semana passada ao Caribe. Em breve, estaria em posição de
lançar aviões para atacar a Venezuela,
assim como outros navios da frota poderiam atirar contra os venezuelanos. Na
quinta, 13, Pete Hegseth, secretário (ministro) da Guerra, anunciou a operação
Lança do Sul para a Nossa Pátria, por ordem de Donald Trump,
com o objetivo de eliminar o "narcoterrorismo" da
"vizinhança" e do hemisfério (as Américas). No dia 3 de novembro,
Trump havia dito que "os dias
de Maduro estão contados".
Analistas ou integrantes anônimos do governo americano entrevistados pela mídia
dos EUA não veem ou não sugerem plano coerente para o amontoamento de tropas e
navios no Caribe e a mobilização de tropas e unidades aéreas em território
americano. Não se sabe o objetivo do movimento e os meios militares reunidos
ainda não explicitam um plano.
Mas é quase geral a seguinte análise: os EUA precisam fazer algo depois de
reunir tal força. No mínimo, destruir instalações e equipamentos de
traficantes, matar alguns deles. Seria também um aviso a países da região que
não tomam medidas contra o narcotráfico. Há analistas para os quais seria
necessário obter concessão ou impor alguma derrota ao regime de Nicolás
Maduro. Caso os EUA permaneçam na região, sem ação, ou saiam de lá
com as mãos abanando, pareceria ter havido vitória do regime chavista.
Atacar os traficantes é mais fácil, em termos estratégicos e políticos. Depois
da destruição, Trump poderia dizer que enfraqueceu o tráfico e que deu um
recado a outros criminosos e aos governos das Américas. Desde 2 de setembro, os
EUA explodiram 21 barcos, em 20 ataques no Caribe (14) e no Pacífico (6),
matando pelo menos 80, perto da costa venezuelana. Segundo centros de estudos
estratégicos e a mídia americana, a ação vai mudar de tamanho e objetivo. Mas
atacar a Venezuela é mais complicado.
Segundo análise do CSIS (Center for Strategic and International Studies),
"think tank" americano dedicado a estudos de segurança, não há
recursos mobilizados suficientes para uma
invasão da Venezuela ou mesmo para um ataque costeiro (há cerca
de 15 mil tropas; seriam necessárias 50 mil, idealmente 150 mil). Embora tenham
poder para arruinar a Venezuela, bombardeiros e apoio teriam de operar a certa
altura ou distância, para evitar baixas —demoraria um tanto mais. Navios podem
lançar mísseis, como os Tomahawk. Mas já há equipamento em quantidade
comparável a outras intervenções americanas pontuais.
Poderia haver ações de forças especiais (as
que estão no Caribe já operaram no Afeganistão, na Síria e no Iraque). Ou
ataques a figuras-chave do regime de Maduro, à infraestrutura de defesa aérea,
portos e a unidades militares mais qualificadas. Após a destruição limitada,
haveria pedidos de trégua e intermediação —da ONU, do Brasil etc. Embora Trump
não goste desse tipo de conversa, poderia se dispor, por esse meio, a conseguir
concessões grandes de Maduro. Obviamente, é operação de risco: sem concessão enorme
ou queda de Maduro, Trump teria sido derrotado. Assim, seria necessário ampliar
a operação, a fim de abalar ou destruir as forças militares mais ligadas ao
regime. Seria longo e perigoso.
Analistas não sabem o que vai sair da mobilização. Mas quase todos acham que alguma coisa vai sair daí —caso Trump não use a força militar, vai parecer fraco e derrotado.
.jpg)
Nenhum comentário:
Postar um comentário