domingo, 16 de novembro de 2025

A guerra de Trump na Venezuela, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Presidente dos EUA parecerá derrotado por Maduro se não fizer nada agora, dizem analistas

Força militar reunida não basta para uma invasão, mas é similar a de outros ataques

O dito mais poderoso porta-aviões dos Estados Unidos, o Ford, chegou na semana passada ao Caribe. Em breve, estaria em posição de lançar aviões para atacar a Venezuela, assim como outros navios da frota poderiam atirar contra os venezuelanos. Na quinta, 13, Pete Hegseth, secretário (ministro) da Guerra, anunciou a operação Lança do Sul para a Nossa Pátria, por ordem de Donald Trump, com o objetivo de eliminar o "narcoterrorismo" da "vizinhança" e do hemisfério (as Américas). No dia 3 de novembro, Trump havia dito que "os dias de Maduro estão contados".

Analistas ou integrantes anônimos do governo americano entrevistados pela mídia dos EUA não veem ou não sugerem plano coerente para o amontoamento de tropas e navios no Caribe e a mobilização de tropas e unidades aéreas em território americano. Não se sabe o objetivo do movimento e os meios militares reunidos ainda não explicitam um plano.

Mas é quase geral a seguinte análise: os EUA precisam fazer algo depois de reunir tal força. No mínimo, destruir instalações e equipamentos de traficantes, matar alguns deles. Seria também um aviso a países da região que não tomam medidas contra o narcotráfico. Há analistas para os quais seria necessário obter concessão ou impor alguma derrota ao regime de Nicolás Maduro. Caso os EUA permaneçam na região, sem ação, ou saiam de lá com as mãos abanando, pareceria ter havido vitória do regime chavista.

Atacar os traficantes é mais fácil, em termos estratégicos e políticos. Depois da destruição, Trump poderia dizer que enfraqueceu o tráfico e que deu um recado a outros criminosos e aos governos das Américas. Desde 2 de setembro, os EUA explodiram 21 barcos, em 20 ataques no Caribe (14) e no Pacífico (6), matando pelo menos 80, perto da costa venezuelana. Segundo centros de estudos estratégicos e a mídia americana, a ação vai mudar de tamanho e objetivo. Mas atacar a Venezuela é mais complicado.

Segundo análise do CSIS (Center for Strategic and International Studies), "think tank" americano dedicado a estudos de segurança, não há recursos mobilizados suficientes para uma invasão da Venezuela ou mesmo para um ataque costeiro (há cerca de 15 mil tropas; seriam necessárias 50 mil, idealmente 150 mil). Embora tenham poder para arruinar a Venezuela, bombardeiros e apoio teriam de operar a certa altura ou distância, para evitar baixas —demoraria um tanto mais. Navios podem lançar mísseis, como os Tomahawk. Mas já há equipamento em quantidade comparável a outras intervenções americanas pontuais.

Poderia haver ações de forças especiais (as que estão no Caribe já operaram no Afeganistão, na Síria e no Iraque). Ou ataques a figuras-chave do regime de Maduro, à infraestrutura de defesa aérea, portos e a unidades militares mais qualificadas. Após a destruição limitada, haveria pedidos de trégua e intermediação —da ONU, do Brasil etc. Embora Trump não goste desse tipo de conversa, poderia se dispor, por esse meio, a conseguir concessões grandes de Maduro. Obviamente, é operação de risco: sem concessão enorme ou queda de Maduro, Trump teria sido derrotado. Assim, seria necessário ampliar a operação, a fim de abalar ou destruir as forças militares mais ligadas ao regime. Seria longo e perigoso.

Analistas não sabem o que vai sair da mobilização. Mas quase todos acham que alguma coisa vai sair daí —caso Trump não use a força militar, vai parecer fraco e derrotado.

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