domingo, 16 de novembro de 2025

Tarcísio de volta ao jogo, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Quanto mais pesadelo Lula tem, mais Tarcísio sonha com o Planalto em 2026

O impacto da operação policial mais letal da história não apenas conteve o embalo do presidente Lula como empurrou o governador Tarcísio de Freitas de volta para a disputa de 2026. Depois de sucessivos erros, idas e vindas e pedidos de desculpas, Tarcísio está se poupando e avaliando para onde os ventos – e as candidaturas – vão.

Desde o início, Tarcísio e seu principal mentor político, Gilberto Kassab, combinam duas táticas. A primeira é jamais admitir uma candidatura presidencial já em 2026, para evitar as chuvas, trovoadas e ataques, naturais contra quem se destaca. A outra é monitorar quais as condições de vitória, antes de qualquer decisão.

Com Lula franco favorito, o foco é, ou era, a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes. Com Lula cambaleando, como agora, o céu é o limite. Ou melhor, a meta é o Planalto. A estratégia atende a um cronograma milimetricamente desenhado e focado na hora de decidir: vai ou não? O limite é abril, prazo final para desincompatibilização de governadores em disputa pela Presidência.

Vejamos pela Quaest a quantas anda o lugar de Tarcísio na chapa de 2026. Num segundo turno entre os dois, Lula tinha 52% e Tarcísio 26% em dezembro de 2024, o dobro. Em maio deste ano, a diferença esfarelou e chegou a 41% a 40%, empate técnico. Lula, porém, se recuperou, com 45% a 33% em outubro. Logo, ele esteve sempre à frente, mas a disputa com Tarcísio é uma montanha russa.

E neste novembro? Em apenas um mês, a distância entre os dois despencou de 12 para 5 pontos no segundo turno, Lula 41%, Tarcísio 36%. Pela estratégia Tarcísio-Kassab, portanto, o governador de São Paulo está de volta ao jogo. Mas evitando bolas divididas e mantendo os demais governadores em campo, impedindo vitória de Lula no primeiro turno e somando seus votos no segundo.

A intenção é estar próximo o suficiente de Jair Bolsonaro para atrair seu eleitorado (sem esses votos, Tarcísio não é nada...) e longe o bastante para não ganhar hematoma, torção, quem sabe uma maca para sair de campo. O clã Bolsonaro afunda, mas o eleitor anti-PT, evangélico, com ojeriza a beijo gay em novela e querendo sangue contra o crime continua à tona, e forte.

Do outro lado, Lula enfrenta temas como violência e INSS, suspeitas contra agregados e a notícia do Estadão de que o governo contratou para a cobertura jornalística da COP 30, por R$ 26 milhões, uma organização ligada ao PT e a Janja. Pode ter justificativa, mas essas coisas trazem de volta os piores pesadelos de Lula. Quanto mais pesadelo Lula tem, mais Tarcísio e Kassab sonham com 2026.

 

Nenhum comentário: