Folha de S. Paulo
Não ocorreu cataclismo, mas
não dá para achar que o pior já acabou
A lista
de exceções à sobretaxa de 50% imposta pelo governo Donald Trump aos
produtos importados do Brasil mostrou o peso e a capacidade de mobilização das
empresas do setor privado do país. Ela pode ser tão efetiva quanto uma
negociação de governo e tende a ser um padrão mais frequente, daqui para a
frente, num cenário em que os canais de diálogo estão contaminados pelo ativismo
da família Bolsonaro na Casa Branca.
A decisão dos EUA de poupar da tarifa adicional produtos da Embraer retira um problema gigantesco para o governo administrar no curto prazo. O impacto de um eventual socorro à empresa traria custo elevado para as contas públicas e não resolveria o problema da empresa.
A fabricante de aeronaves é
estratégica e faz parte do grupo de empresas que seriam afetadas pelo tarifaço,
sem condições de migrar sua produção para outros mercados. O CEO da Embraer,
Francisco Gomes Neto, foi até os Estados
Unidos e abriu canais diretos com três secretários do governo Trump:
Scott Bessent (Tesouro), Howard Lutnick (Comércio) e Sean Duffy (Transportes).
Empresários de outros setores com poder de negociação também trabalharam, com
apoio dos seus parceiros no mercado americano, para ficar de fora do tarifaço.
A ação foi estimulada pelo governo Lula.
As exceções interessaram
aos americanos. O sentimento em Brasília é de um certo alívio. O principal
ficou de fora: aço, petróleo, derivados, aeronaves, laranja. O
que foi atingido é importante, mas globalmente não machuca tanto:
café, carne, açúcar e etanol.
Não significa que os danos estejam afastados. O governo vai gastar dinheiro
para socorrer as empresas afetadas. O "dia D" do tarifaço começou
antes. Não ocorreu cataclismo. Mas não dá para achar que o pior já acabou. A
disputa com Trump não vai esfriar e podemos ter novas surpresas, inclusive na
área financeira.
É hora de reunir com inteligência as cartas na manga que o Brasil tem na negociação,
sem tirar o foco de quem está fustigando o ataque ao país.
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