quinta-feira, 31 de julho de 2025

Lista de exceções no tarifaço traz alívio - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Não ocorreu cataclismo, mas não dá para achar que o pior já acabou

lista de exceções à sobretaxa de 50% imposta pelo governo Donald Trump aos produtos importados do Brasil mostrou o peso e a capacidade de mobilização das empresas do setor privado do país. Ela pode ser tão efetiva quanto uma negociação de governo e tende a ser um padrão mais frequente, daqui para a frente, num cenário em que os canais de diálogo estão contaminados pelo ativismo da família Bolsonaro na Casa Branca.

A decisão dos EUA de poupar da tarifa adicional produtos da Embraer retira um problema gigantesco para o governo administrar no curto prazo. O impacto de um eventual socorro à empresa traria custo elevado para as contas públicas e não resolveria o problema da empresa.

A fabricante de aeronaves é estratégica e faz parte do grupo de empresas que seriam afetadas pelo tarifaço, sem condições de migrar sua produção para outros mercados. O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, foi até os Estados Unidos e abriu canais diretos com três secretários do governo Trump: Scott Bessent (Tesouro), Howard Lutnick (Comércio) e Sean Duffy (Transportes).

Empresários de outros setores com poder de negociação também trabalharam, com apoio dos seus parceiros no mercado americano, para ficar de fora do tarifaço. A ação foi estimulada pelo governo Lula.

As exceções interessaram aos americanos. O sentimento em Brasília é de um certo alívio. O principal ficou de fora: aço, petróleo, derivados, aeronaves, laranja. O que foi atingido é importante, mas globalmente não machuca tanto: café, carne, açúcar e etanol.

Não significa que os danos estejam afastados. O governo vai gastar dinheiro para socorrer as empresas afetadas. O "dia D" do tarifaço começou antes. Não ocorreu cataclismo. Mas não dá para achar que o pior já acabou. A disputa com Trump não vai esfriar e podemos ter novas surpresas, inclusive na área financeira.

É hora de reunir com inteligência as cartas na manga que o Brasil tem na negociação, sem tirar o foco de quem está fustigando o ataque ao país.

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