quinta-feira, 31 de julho de 2025

Mordida feroz é seguida por alívio onde convém para Trump - Álvaro Fagundes

Valor Econômico

Cerca de 40% das vendas brasileiras aos EUA em 2024 não pagariam tarifa adicional de 40%

lista de isenção da tarifa adicional de 40% é liderada exatamente pelo produto que o Brasil mais vende para os EUA: o petróleo. No ano passado, os barris brasileiros exportados aos americanos somaram US$ 6,5 bilhões, segundo cálculos do próprio governo dos EUA. Pelas contas do governo brasileiro, os Estados Unidos responderam por 13% das exportações da commodity, atrás dos 44% da China.Os Estados Unidos apresentaram nesta quarta-feira uma lista de 694 itens que só estão sujeitos à tarifa de 10% anunciada em abril. Desse grupo, pouco mais de 400 foram mercadorias compradas do Brasil no ano passado. No cenário de 2024, US$ 18,4 bilhões se encaixariam na isenção dos 40% - o que equivale a 42,5% dos embarques brasileiros aos Estados Unidos no ano passado. No total, as exportações do país para a maior economia global era formada por pouco mais de 6 mil produtos em 2024.

A mordida adicional de 40% inclui, porém, mercadorias de que os americanos são até mais dependentes do Brasil que no caso do petróleo, em que o país foi o quarto maior fornecedor ano passado, atrás de Canadá, México e Arábia Saudita - além de os EUA serem um gigante global na produção da commodity.

No caso do café arábica, por exemplo, o Brasil foi o país que mais vendeu para os americanos no ano passado, respondendo por cerca de um terço das vendas, à frente de Colômbia, Guatemala e Honduras. A presença do produto aconteceu mesmo após o secretário americano de Comércio, Howard Lutnick, afirmar na terça-feira (29) que o café, assim como outros produtos que os EUA não cultivam, poderia estar isento das tarifas de importação impostas pelo governo Trump sobre seus parceiros comerciais.

Os EUA são os maiores compradores do café brasileiro.

A carne bovina congelada desossada também entrou na lista americana de tarifa de 50%, mesmo representando 20% das compras dos EUA em 2024, muito perto dos líderes Austrália e Nova Zelândia. Nesse caso, assim como o petróleo, a importância americana é modesta: 9% das exportações brasileiras do produto em 2024, ante 60% da China.

A tarifa americana de 50% também chama atenção porque é muito maior do que as anunciadas recentemente por Trump, ainda mais que o Brasil tem constantemente déficit no comércio de bens com os EUAFilipinas, Vietnã e Indonésia fecharam acordos muito mais vantajosos, com tarifa de 19% a 20%, apesar de os três asiáticos terem superávit na relação comercial com os EUA.

O cenário é muito diferente daquele apresentado por Trump em abril, quando colocou o Brasil na lista dos países que pagariam tarifa mais baixa (10%). Naquele momento, a decisão da Casa Branca era que Vietnã pagaria tarifa de 46%, uma das mais altas, e a Indonésia, 32%.

Trump já anunciou tarifa de 145% para a rival China, mas foi reduzida para 30% após os dois países anunciarem uma trégua enquanto buscam acordo.

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