segunda-feira, 20 de abril de 2009

''Doutrina Obama'' inicia nova era nas relações com América Latina

Patrícia Campos Mello
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Estratégia de diálogo aberto até com líderes antiamericanos conquista países que viam EUA com suspeita

A estreia da "Doutrina Obama" na América Latina foi festejada como "uma nova era" no relacionamento entre os EUA e o resto do hemisfério. O presidente americano, Barack Obama, deixou a Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago elogiado por quase todos os líderes da esquerda, que viam com muitas reservas seu predecessor, George W. Bush. O novo líder americano comemorou o resultado de sua estratégia de se aproximar de países adversários. "Nos últimos dias, vimos sinais positivos na natureza das relações entre os EUA, Cuba e Venezuela", disse. Segundo ele, a neutralização das tensões na região fortalece os EUA. "Fica muito mais fácil para países amigos colaborarem conosco porque seus vizinhos e populações nos veem como uma força do bem ou, pelo menos, não como uma força do mal."

Nos EUA, porém, a aproximação de Obama e Chávez causou ruídos. Ontem o senador republicano John Ensign descreveu como "irresponsável" o presidente ser visto sorrindo ao lado de "um dos líderes mais antiamericanos do mundo". Em resposta, Obama reconheceu discordar de Chávez sobre política econômica e externa e sobre a inflamada retórica antiamericana do venezuelano, mas defendeu a nova "relação mais construtiva" com Caracas. "Venezuela é um país cujo orçamento de Defesa é provavelmente ínfimo se comparado ao dos EUA... é improvável que apertar a mão ou ter uma conversa educada com Chávez seja uma ameaça aos interesses estratégicos dos EUA", disse.

Obama defendeu sua doutrina de conversar com nações adversárias, lançada durante a campanha, quando o então candidato declarou que se aproximaria de Irã, Síria, Cuba e Venezuela. "Não concordo com todos os líderes em todas as questões, mas demonstramos aqui que é possível avançar quando há disposição de esquecer discussões antigas e velhas ideologias que têm distorcido o debate neste hemisfério."

A mensagem ecoou. No sábado, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse que Obama era "inteligente" e o abordou afirmando "quero ser seu amigo". Manuel Rosales, presidente de Honduras, país-membro da Alternativa Bolivariana para as Américas, afirmou: "A chegada de Obama significa uma nova era no relacionamento entre os EUA e a América Latina."

Alguns, porém, continuaram reticentes. Em reunião da Unasul, o presidente boliviano, Evo Morales, afirmou esperar que Obama "repudiasse" uma suposta tentativa de golpe que teria sofrido com apoio americano. Obama respondeu enfaticamente ao apelo: "Condeno qualquer tentativa de derrubar governos eleitos democrativamente. Essa não é uma política de nosso governo."

O líder americano também admitiu que apertos de mão e sorrisos para foto não serão suficientes . "O teste para todos nós não são simplesmente as palavras, mas os atos." Na Europa, por exemplo, Obama foi recebido como estrela, mas saiu de mãos vazias, sem conseguir um aumento significativo de tropas da Otan para o Afeganistão. "Na Europa, a política deles dificulta que líderes apoiem o envio de mais soldados. Isso não mudará por eu ser popular lá ou porque os líderes acham que eu tenho respeito por eles."

Obama também salientou que pretende mudar a política americana para a América Latina. "Se nossa única interação com esses países for de combate a drogas ou militar, nós não vamos aumentar nossa influência na região", disse. "Reconhecemos que ações militares são apenas um tipo de poder, e nós precisamos usar o poder diplomático e de ajuda ao desenvolvimento para que as pessoas vejam melhoras concretas em suas vidas em consequência da política externa americana."

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