Houve um momento nesta turbulência econômica em que a Islândia assustou a Europa. Agora, a preocupação é com a Letônia. No mundo globalizado é assim: tamanho é relativo. Mas o que é que a Letônia tem? O risco de um colapso do câmbio fixo que pode contaminar outros países da região e depois a Europa oriental. Ela parece ser o elo perdido entre as crises, porque a dela lembra mais os problemas dos anos 90, que ficaram conhecidos como "a crise da Ásia".
O economista Nouriel Roubini, incansável colecionador de más notícias, fez uma pergunta num boletim distribuído quarta-feira aos assinantes: será que o colapso da Letônia pode provocar o mesmo contágio que a quebra do baht tailandês espalhou em 1997? "Os olhos estão focados na pequena economia do Báltico, em meio a crescentes rumores sobre desvalorização, por causa do potencial de contágio sobre seus vizinhos bálticos, na Suécia, e mais amplamente na Europa Oriental", disse ele.
Na época do baht tailandês, quando ele teve que ser desvalorizado em julho de 1997 acabou detonando um processo que levou em sequência várias economias asiáticas como as da Indonésia e Coreia. Chegou à Rússia em 1998 e seis meses depois, no começo de 1999, desembarcou no Brasil. Os processos de contágio às vezes nem respeitam a geografia, se espalham pelas similaridades das fraquezas econômicas.
A Letônia era uma queridinha dos investidores nos tempos anteriores à crise. Um desses casos estranhos que só acontecem em épocas de exuberância irracional. Mesmo assim, seu forte crescimento foi acompanhado por sérios desequilíbrios: o maior déficit em transações correntes do mundo: 25% do PIB. A dívida externa chegou a 140%. Péssimos números para entrar numa crise global. O que piora a situação é que o Lat, a moeda local, tem um peg, um câmbio fixo com o euro, com uma banda de flutuação de 1%. Foi assim, com este regime cambial, que o Brasil entrou na crise de 99. Usado aqui para sair da armadilha inflacionária, ele acabou criando uma camisa de força que impediu políticas para nos proteger quando outros países de câmbio fixo caíram na Ásia. No caso da Letônia, a política cambial foi estimulada como pré-requisito para adotar o euro como moeda.
O FMI e a Europa deram ao país um empréstimo de US$10 bilhões num pacote de resgate da economia há seis meses e exigiram condições draconianas de corte de gastos públicos para liberar novas parcelas. A previsão era de que o PIB do país encolheria 5%, mas os temores agora são de que caia 18%. E porque cai tanto não consegue atingir as metas. De novo, a lembrança: na crise da Ásia o encolhimento do PIB da Indonésia foi mais ou menos dessa ordem.
O problema não é a Letônia em si. O país é mínimo. Alguns dados do Banco Mundial mostram isso. Ex-integrante da União Soviética, a Letônia ficou independente no ano seguinte à queda do Muro de Berlin. Tem cerca de 2,3 milhões de habitantes, menos que o Distrito Federal, e ocupa uma área de 64 mil Km. Fosse um estado brasileiro, seria apenas o 21º maior. Seu PIB, de US$26 bilhões, ao câmbio de hoje seria do tamanho do Espírito Santo, ou um quinto do PIB do Rio de Janeiro. O espanto é ser um pólo de atração de capital como foi nos anos anteriores à crise. Só isso mostra que o mundo vivia um delírio.
O problema é que se o país não receber a última parcela do empréstimo do FMI pode ter que desvalorizar abruptamente sua moeda, provocando uma onda de falências. Ela tem muito comércio e transações financeiras com seus companheiros da região: Lituânia e Estônia. Mas a Suécia também está muito "exposta" ao risco Letônia: tem enorme participação no mercado bancário do país e dos dois vizinhos.
Se os contágios pudessem ser confinados na economia globalizada, tudo bem. Mas para além dos Bálticos e da Suécia, há risco de se espalhar por outros países já fragilizados pela crise: Hungria, Bulgária, Romênia, República Tcheca, Eslováquia, que têm também fragilidades semelhantes e um comércio intenso entre si. A Polônia já foi buscar dinheiro do FMI.
Em março, a correspondente Graça Magalhães-Ruether avisou que a crise econômica na região tinha virado crise política. A instabilidade derrubou governos em efeito dominó. Caíram os governos da Letônia, Hungria e República Tcheca, em menos de um mês. O tcheco era o presidente da União Europeia, mesmo assim a instabilidade financeira e política não teve piedade: ele perdeu o emprego.
A grande dúvida é: se espalhar assim pelos outros países do Leste, a crise dos bálticos pode também enfraquecer mais ainda a Europa? Risco existe, porque os bancos da Europa controlam o mercado bancário dos países do Leste através de instituições financeiras das quais eles têm a maioria do capital.
Nunca se sabe como terminam as crises econômicas em um mundo globalizado. Nos Estados Unidos começam a aparecer notícias que, se não são boas, pelos menos acalmam um pouco, como as do Livro Bege do Fed, na quarta-feira, informando que a economia está ainda em queda, mas num ritmo menor. É bom lembrar que há outros pontos de fragilidade no mundo e eles podem produzir mais tremores.
O economista Nouriel Roubini, incansável colecionador de más notícias, fez uma pergunta num boletim distribuído quarta-feira aos assinantes: será que o colapso da Letônia pode provocar o mesmo contágio que a quebra do baht tailandês espalhou em 1997? "Os olhos estão focados na pequena economia do Báltico, em meio a crescentes rumores sobre desvalorização, por causa do potencial de contágio sobre seus vizinhos bálticos, na Suécia, e mais amplamente na Europa Oriental", disse ele.
Na época do baht tailandês, quando ele teve que ser desvalorizado em julho de 1997 acabou detonando um processo que levou em sequência várias economias asiáticas como as da Indonésia e Coreia. Chegou à Rússia em 1998 e seis meses depois, no começo de 1999, desembarcou no Brasil. Os processos de contágio às vezes nem respeitam a geografia, se espalham pelas similaridades das fraquezas econômicas.
A Letônia era uma queridinha dos investidores nos tempos anteriores à crise. Um desses casos estranhos que só acontecem em épocas de exuberância irracional. Mesmo assim, seu forte crescimento foi acompanhado por sérios desequilíbrios: o maior déficit em transações correntes do mundo: 25% do PIB. A dívida externa chegou a 140%. Péssimos números para entrar numa crise global. O que piora a situação é que o Lat, a moeda local, tem um peg, um câmbio fixo com o euro, com uma banda de flutuação de 1%. Foi assim, com este regime cambial, que o Brasil entrou na crise de 99. Usado aqui para sair da armadilha inflacionária, ele acabou criando uma camisa de força que impediu políticas para nos proteger quando outros países de câmbio fixo caíram na Ásia. No caso da Letônia, a política cambial foi estimulada como pré-requisito para adotar o euro como moeda.
O FMI e a Europa deram ao país um empréstimo de US$10 bilhões num pacote de resgate da economia há seis meses e exigiram condições draconianas de corte de gastos públicos para liberar novas parcelas. A previsão era de que o PIB do país encolheria 5%, mas os temores agora são de que caia 18%. E porque cai tanto não consegue atingir as metas. De novo, a lembrança: na crise da Ásia o encolhimento do PIB da Indonésia foi mais ou menos dessa ordem.
O problema não é a Letônia em si. O país é mínimo. Alguns dados do Banco Mundial mostram isso. Ex-integrante da União Soviética, a Letônia ficou independente no ano seguinte à queda do Muro de Berlin. Tem cerca de 2,3 milhões de habitantes, menos que o Distrito Federal, e ocupa uma área de 64 mil Km. Fosse um estado brasileiro, seria apenas o 21º maior. Seu PIB, de US$26 bilhões, ao câmbio de hoje seria do tamanho do Espírito Santo, ou um quinto do PIB do Rio de Janeiro. O espanto é ser um pólo de atração de capital como foi nos anos anteriores à crise. Só isso mostra que o mundo vivia um delírio.
O problema é que se o país não receber a última parcela do empréstimo do FMI pode ter que desvalorizar abruptamente sua moeda, provocando uma onda de falências. Ela tem muito comércio e transações financeiras com seus companheiros da região: Lituânia e Estônia. Mas a Suécia também está muito "exposta" ao risco Letônia: tem enorme participação no mercado bancário do país e dos dois vizinhos.
Se os contágios pudessem ser confinados na economia globalizada, tudo bem. Mas para além dos Bálticos e da Suécia, há risco de se espalhar por outros países já fragilizados pela crise: Hungria, Bulgária, Romênia, República Tcheca, Eslováquia, que têm também fragilidades semelhantes e um comércio intenso entre si. A Polônia já foi buscar dinheiro do FMI.
Em março, a correspondente Graça Magalhães-Ruether avisou que a crise econômica na região tinha virado crise política. A instabilidade derrubou governos em efeito dominó. Caíram os governos da Letônia, Hungria e República Tcheca, em menos de um mês. O tcheco era o presidente da União Europeia, mesmo assim a instabilidade financeira e política não teve piedade: ele perdeu o emprego.
A grande dúvida é: se espalhar assim pelos outros países do Leste, a crise dos bálticos pode também enfraquecer mais ainda a Europa? Risco existe, porque os bancos da Europa controlam o mercado bancário dos países do Leste através de instituições financeiras das quais eles têm a maioria do capital.
Nunca se sabe como terminam as crises econômicas em um mundo globalizado. Nos Estados Unidos começam a aparecer notícias que, se não são boas, pelos menos acalmam um pouco, como as do Livro Bege do Fed, na quarta-feira, informando que a economia está ainda em queda, mas num ritmo menor. É bom lembrar que há outros pontos de fragilidade no mundo e eles podem produzir mais tremores.
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