SÃO PAULO - Antonio Estella, professor de direito da Universidade Carlos 3º, de Madri, faz, para "El País", uma bela análise sobre "o paradoxo de que a direita ganhe as eleições europeias após naufragar o neoliberalismo", que é ou era o seu navio-insígnia.
O paradoxo talvez se explique pelo fato de que a esquerda aplica as políticas da direita em praticamente todos os países europeus. Vale para o Brasil também, em especial o seguinte trecho do artigo: "Se você quer continuar mantendo-se no poder, faça o que seu concorrente fazia de maneira bem-sucedida e, se possível, de forma melhor".
De alguma maneira, foi o que Lula fez: manteve o controle da inflação, iniciativa do antecessor e fonte primeira de prestígio dos governantes, e ampliou enormemente os programas sociais do tucanato.
Todas as pesquisas mostram que esse tipo de comportamento funciona, do ponto de vista do prestígio do governante.
O problema começa quando se tem a ambição de promover transformações estruturais, que era não tão antigamente assim o navio-insígnia da esquerda. Na Europa, escreve Estella, "é mais difícil encontrar partidos social-democratas que de fato tenham uma agenda de mudança própria, estejam intimamente convencidos dela e dispostos a desenvolvê-la, levando em conta as limitações existentes".
Suspeito que valha para o Brasil, por mais que, do meu ponto de vista, esteja esgotada ou perto do esgotamento a agenda da estabilidade que foi o forte dos quatro períodos presidenciais mais recentes.
O período 2011/14 pediria acoplar a essa agenda, que é permanente, um desenvolvimento econômico, social e ambiental muito mais forte e muito mais transformador.
É uma pena que ambição não seja o forte do político brasileiro -nem, de resto, do eleitorado, extremamente conservador.
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