DEU EM O GLOBO
Washington e Tegucigalpa
Washington e Tegucigalpa
Militares bloqueiam aeroporto e avião de presidente deposto de Honduras vai para Nicarágua
Num dia de tensão crescente entre o presidente deposto de Honduras e as autoridades que tomaram o poder, Manuel Zelaya tentou retornar a seu país num avião venezuelano, sendo impedido por militares que tomaram a pista do Aeroporto Internacional de Toncontín, em Tegucigalpa. Partidários de Zelaya tentaram intervir e, no tumulto que se seguiu, pelo menos duas pessoas foram mortas e 30 ficaram feridas. O voo acabou sendo desviado para a Nicarágua. O presidente deposto prometeu tentar de novo voltar a seu país hoje.
As movimentações para o retorno de Zelaya começaram na tarde de sábado, em Washington, depois que a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou por unanimidade a suspensão do país e determinou sanções econômicas ao governo golpista. Zelaya tinha ainda o apoio dos presidentes de Argentina, Cristina Kirchner; Equador, Rafael Correa; e Paraguai, Fernando Lugo, que prometeram acompanhá-lo no voo.
Horas antes do embarque, no entanto, os colegas mandatários mudaram de ideia. Alegando falta de segurança, decidiram acompanhar o desenrolar da crise de El Salvador, para onde seguiram no avião da Presidência argentina. Junto com eles estava secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza.
- Se Zelaya aterrissar e considerar oportuna a nossa ida, iremos - explicou Rafael Correa.
Acompanhado do presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, Miguel D" Escoto, Zelaya fez um dramático apelo às autoridades locais no momento em que se aproximava do aeroporto para que permitissem o pouso "em nome de Deus, do povo e da justiça". Falando ao vivo na emissora venezuelana Telesur, que tinha uma equipe de reportagem a bordo do avião, o presidente deposto pedia às autoridades que liberassem a pista.
Evocando a lealdade das Forças Armadas do país e imagens religiosas, Zelaya falou durante boa parte do voo.
- Sou o comandante das Forças Armadas, eleito pelo povo, e peço que cumpram a ordem de abrir o aeroporto. Ninguém pode me obrigar a voltar - afirmou. - Sinto-me com força espiritual suficiente, abençoado pelo sangue de Cristo, para conseguir aterrissar e erguer o crucifixo.
Mas à medida que o avião se aproximava de Honduras, a tensão aumentava no aeroporto, com os confrontos entre militares e manifestantes e a morte dos partidários de Zelaya.
- Em nome de Deus, detenham esse massacre - pedia ele, ao vivo, pela televisão.
De acordo com jornalistas que estavam no aeroporto, francoatiradores teriam disparado contra a multidão (estima-se que seriam 30 mil pessoas) que tentava entrar na pista para garantir o pouso de Zelaya. Segundo testemunhas, as vítimas seriam um garoto de 13 anos e uma moça de 18 anos.
No sábado à tarde, o governo interino anunciou que prenderia Zelaya caso ele insistisse em desembarcar no país. Há uma ordem de prisão expedida contra ele por abuso de poder: ele tentou realizar um referendo proibido pela Suprema Corte que abriria caminho para sua reeleição. O mandato de Zelaya só terminaria em 2010, mas ele foi forçado a deixar o poder na semana passada, num golpe condenado por praticamente toda a comunidade internacional.
Ontem à tarde, no entanto, a ordem era de não deixar o avião pousar. O aeroporto não foi fechado, mas várias companhias aéreas cancelaram seus voos. Com milhares de partidários de Zelaya marchando rumo ao aeroporto, cercado por militares e policiais, o clima já era extremamente tenso no início da tarde. Chegou-se a falar na possibilidade da morte do presidente deposto.
- A ordem é não deixar entrar, venha quem vier (a bordo do avião), para que não se cometa a imprudência de que morra um presidente da República, de que seja ferido um presidente da República, de que morra qualquer pessoa - afirmou o chanceler interino Enrique Ortez, em entrevista a uma rádio local.
Tropas da Nicarágua estariam na fronteira
Vários partidários de Zalaya se reuniram também nas principais praças da capital em manifestações de apoio ao regresso do presidente. Muitos deles vestiam camisetas vermelhas, tinham os rostos cobertos por lenços e carregavam bastões. Tropas ocupavam as principais ruas.
- O povo exige esse regresso. O governo de (Roberto) Micheletti só é apoiado por empresários e ricos, gente que não se importa com o povo humilde - afirmou Julian Manzanares, de 51 anos, um dos manifestantes contrários ao golpe.
O presidente interino do país, Roberto Micheletti, tornou o clima ainda mais pesado ao fazer um pronunciamento oficial no qual pedia à vizinha Nicarágua (aliada de Zelaya) que "não deixasse suas tropas cruzarem a fronteira porque estaria disposto a se defender". A Nicarágua negou que houvesse qualquer movimentação de tropas na fronteira.
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