sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

O curinga Haddad. Por Vera Magalhães

O Globo

Com currículo para exibir e lealdade atestada, não há outro nome nas fileiras petistas em condições de disputar com ele lá na frente

Fernando Haddad está pronto para cumprir mais uma missão para Lula em 2026 — e, com isso, somar mais alguns pontos junto ao presidente, que não se esquece da lealdade de seu atual ministro da Fazenda no momento mais difícil de sua vida, a prisão em Curitiba. Em entrevista exclusiva a Thaís Barcellos, Sérgio Roxo e Thiago Bronzatto, do GLOBO, Haddad disse que poderá deixar a Fazenda para “colaborar” com a campanha de Lula à reeleição:

— Eu tenho a intenção de colaborar com a campanha do presidente Lula e disse isso a ele, que não pretendo ser candidato em 2026, mas quero dar uma contribuição para pensar o programa de governo dele, para pensar como estruturar a campanha dele.

Colaborar é um verbo de escopo amplo, que permite as mais diferentes atribuições numa campanha que será bastante disputada e que terá em São Paulo, domicílio eleitoral de Haddad, seu principal palco de disputa.

A análise mais precisa da apertada vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro em 2022 mostra que não foi o triunfo no Nordeste ou em Minas o fator preponderante para aquele resultado. Perder por margem menor que a projetada em São Paulo foi o que assegurou a vitória petista.

O papel desempenhado por Haddad naquele pleito — quando disputou o governo contra Tarcísio de Freitas, mesmo a contragosto, e perdeu, mas foi ao segundo turno — é creditado no PT como crucial para ter assegurado esse “colchão” de votos no maior colégio eleitoral do país, que deu a vitória a Lula quase no olho mecânico.

Por isso a “colaboração” do titular da Fazenda pode ser, de novo, ir para o sacrifício numa eleição em que as pesquisas apontam poucas chances de vitória, ao governo paulista. Se isso acontecer, será a terceira vez que o abnegado companheiro terá cumprido uma missão conferida por Lula, e isso tem peso e tende a ser reconhecido pelo presidente na hora de passar o bastão e escolher o próprio sucessor.

O PT demorou a acordar para a necessidade de montar um time para disputar em São Paulo, tanto na hipótese de Tarcísio ser candidato à Presidência quanto na de permanecer no Palácio dos Bandeirantes para tentar um novo mandato. Na primeira configuração, será preciso ter um candidato de peso, capaz de tentar “desconstruir” o governo do Republicanos e de enfraquecer sua candidatura nacionalmente. Na segunda, o objetivo passa a ser, de novo, “perder de pouco”. Isso porque ninguém nas hostes petistas tem expectativa de que o partido possa vencer no estado que, como mostram as pesquisas, avalia bem o governo Tarcísio e tem se mostrado cada vez mais conservador.

Outra disputa para a qual o campo lulista demorou a acordar de uma inacreditável letargia foi ao Senado, e aí não só em São Paulo. Enquanto o bolsonarismo já operou a migração de nomes para estados onde não havia nenhum candidato, como a mudança de Carlos Bolsonaro para Santa Catarina, a esquerda estava alheia à montagem dessas chapas. Não mais: Lula e o Palácio passaram a se dedicar ao desenho das chapas em estados fundamentais, como Minas, Rio, Bahia e Ceará, e outros ministros, além de Haddad, podem ser enviados pelo presidente a missões em suas bases.

É o caso dos petistas Rui Costa (Casa Civil) e Camilo Santana (Educação). Se, no prazo da definição das candidaturas, os atuais governadores da Bahia e do Ceará, respectivamente Jerônimo Rodrigues e Elmano de Freitas, não estiverem bem nas pesquisas, os antecessores deverão ser convocados a assumir a candidatura aos governos em seu lugar e evitar, assim, que o crescimento da direita no Nordeste, visto nas eleições para prefeituras, se repita.

Haddad sai na frente ao ler o jogo de 2026 e entender que, candidato ou não, seu papel será central para as chances de Lula. Afinal, algumas das principais bandeiras que o governo terá para mostrar vêm da sua pasta: reforma do Imposto de Renda, pleno emprego e crescimento em todos os anos do mandato, para ficar em algumas. Com currículo para exibir e lealdade atestada, não há outro nome nas fileiras petistas em condições de disputar com ele lá na frente.

 

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