quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Perto da virada?

Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO


Como está a economia americana a esta altura? Ontem foi o dia de os economistas do mundo inteiro olharem com lupa a decisão do Fed para responder a essa pergunta. O que o Banco Central americano disse é que os juros vão ficar perto de zero por um longo tempo e que continuará injetando liquidez na economia. O PIB do terceiro trimestre já deve ser positivo, segundo economistas american

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, também acredita que o terceiro trimestre será sim de recuperação nos EUA. A leitura que ele fez do comunicado do Fed, e da decisão de manter os juros por um longo tempo, é que a situação econômica melhorou, mas as autoridades não querem correr o risco de perder um bom momento atuando prematuramente no aperto de liquidez.

— O que o Fed quis dizer ontem é que a economia está melhorando, há sinais de otimismo, mas são sinais ainda fracos, e, portanto, ele não vai arriscar perder as melhoras conquistadas com uma elevação dos juros — disse.

Isso derruba a ideia de que em breve o país iria começar a reduzir o excesso de liquidez injetado na economia.

O Fed disse também que vai continuar comprando títulos do Tesouro americano e vai continuar comprando ativos lastreados em hipotecas, ou seja, continuará provendo liquidez.

Em que momento essa montanha de dinheiro jogada na economia através da ampliação dos gastos públicos e da atuação do Fed vai trazer para a economia o risco de inflação? Ilan acha que demora um pouco: — Primeiro, será preciso aumentar a utilização da capacidade instalada, que está muito baixa, e recuperar o mercado de trabalho. Hoje, ainda se comemora a queda menor do nível de emprego, a cada vez, mas não a volta da criação de empregos.

Nada do que está acontecendo deixará de criar uma enorme ressaca mais adiante. A dívida pública vai aumentar exponencialmente.

Ilan acha que sai de 40% do PIB para mais de 80%: — Em algum momento eles terão que lidar com isso, mas agora o mais importante é colher os frutos da estratégia antirrecessão.

A Europa também começa a colher dados melhores em função de fortes programas governamentais como os incentivos alemães à compra de carros. Ilan avalia que Brasil e China, e outros países asiáticos, se recuperaram mais cedo e já demonstraram bons números no segundo trimestre. Bem atrás vêm os países do leste europeu que ainda estão mergulhados na recessão.


A Rússia teve uma queda de 10% do PIB no segundo tri. A Estônia, que a seleção derrotou ontem sem brilho, está também derrotada pela recessão de 16%.

Mesmo assim, está melhor que sua vizinha Letônia, que encolheu 20%. A Rússia enfrentou a queda do preço do petróleo e gás natural — e a alta desses preços ainda não permitiu sua recuperação, até porque a queda do preço do petróleo pegou suas empresas muito alavancadas.

A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, acha que o objetivo do Fed de manter a compra dos títulos é derrubar a curva de juros futuros. O mercado estava imaginando que a redução de liquidez começaria mais cedo para evitar os riscos inflacionários decorrentes da ampliação do déficit público.

— Os juros futuros é que têm mais impacto sobre os contratos firmados na economia real — explicou ela.

A economia americana já melhorou em função de programas como o “dinheiro por sucata” que recompra carros velhos. Começa a sair da recessão, mas o presidente do Fed, Ben Bernanke, não está interessado em entrar em nenhuma polêmica a curto prazo, nem correr o risco de ser acusado de abortar qualquer recuperação. Ele é candidato a permanecer no cargo, recebeu o apoio de inúmeros economistas, mas o presidente Barack Obama é que decidirá sobre isso no começo do ano que vem.

Portanto, entre um risco de médio prazo — que é a alta da inflação e o crescimento exponencial da dívida — e o risco de ser acusado de impedir a recuperação, Bernanke ontem deu o recado de que deixará o depois para depois. Sua primeira preocupação é manter o ritmo de recuperação da economia que pode resultar, segundo as previsões de economistas consultados pelo “Wall Street Journal”, em dois trimestres positivos neste final de ano.

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