Folha de S. Paulo
Todas as grandes operações recentes de
polícia e Justiça esbarram na cúpula do poder
Além da roubança, caso das emendas deturpa
eleições, votações parlamentares e negócios
O deputado federal Arthur Lira (PP-AL) e o
senador Ciro Nogueira (PP-PI)
comandaram o semipresidencialismo de avacalhação de Jair Bolsonaro, a partir de
2021. Lira era presidente da Câmara; Nogueira, ministro da Casa Civil. Tentam
manter o mando puxando por exemplo as cordinhas que movimentam o presidente da
Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que se enrola no barbante.
Poderosos têm muitos amigos, assessores, indicados e aliados. Lira e Nogueira são uns azarados, por assim dizer. Seus companheiros aparecem na mira de investigações como Carbono Oculto, Poço de Lobato, Banco Master e, nesta semana, em mais uma rodada de apuração do rolo das emendas parlamentares.
O comando das emendas e de parte do governo
foi a concessão que o golpista
Bolsonaro fez a fim de evitar ameaças de impeachment. Foi um
instrumento para a expansão eleitoral de centrões, direitões e extrema direita,
que dominaram ainda mais Congresso, estados e prefeituras com a ajuda de emendas
e fundos partidários gordos.
Já em 2021, havia evidências de roubança de
emendas, processos que devem ser julgados no início de 2026. O senador Renan
Calheiros (MDB-AL), inimigo de Lira, dizia então: "Isso [emendas] vai
causar talvez o maior escândalo do Brasil de todos os tempos". Foram-se
quatro anos.
Rosa Weber, à época ministra do STF, tentava
colocar ordem nas emendas, mas levou rasteiras da parlamentagem. Legou o caso
para Flávio Dino, que endureceu o jogo, está com a cabeça a prêmio no Congresso
e pouco apoio de colegas de toga. A querela das emendas é um dos dois grandes
motivos das investidas da maioria
do Congresso contra o Supremo (o outro é a insurreição permanente do
bolsonarismo). O risco de escândalo começa a complicar até a formação da
aliança presidencial das direitas.
Como é óbvio, pois, o problema é estrutural.
É um sistema de apodrecimento institucional que vai da corrupção à
esculhambação extra do Orçamento. O dinheiro alimenta currais eleitorais e
"forma maiorias" para votações na Câmara. O Congresso se torna
corporação dinheirista e de proteção contra a polícia. Há tantos envolvidos que
há interesse amplo de escamoteamento do rolo.
Dados os poderes do Congresso e a ameaça de
criação de meios de facilitar
o impeachment de ministros do STF, vários com telhados de vidro lambuzados
de relações perigosas e politicagem, há meios para forçar acordões. É o que se
vê agora, na dança da regulamentação do impeachment.
Depoimentos de alguns parlamentares e
funcionários do Congresso à Polícia Federal embasaram a batida no apartamento e
na sala parlamentar de Mariângela Fialek, um dia assessora graúda da gente do
MDB no poder, depois próxima de Nogueira e Lira. Dessa assessora sabe-se por
ora que era
a administradora de fluxo de emendas secretas. Não diz por ora nada sobre
desvio de dinheiro, embora se pergunte o motivo de haver segredo,
anonimato, atropelamento de comissões parlamentares e nenhum esclarecimento de
uso de dinheiros.
O que se sabe é que amigos das cúpulas dos
centrões e direitões estiveram na mira de todas as grandes operações recentes
contra o grande crime: organizado, financeiro, tributário, empresarial,
político.
Mais do que corrupção sistemática, parece um sistema político corrupto. Sobrou
gente bastante de fora, na cúpula do poder, para tomar atitude? A maioria das
elites econômicas finge que não está vendo. Aliás, quer a vitória da chapa dos
centrões direitões.
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