A definição da próxima terça-feira para a votação na Comissão de Finanças do Senado indica que a reforma do plano de saúde do governo Obama caminha para uma batalha difícil, mas com boas chances de vitória no plenário da Casa. O relatório de uma comissão não partidária confirmando que o plano não aumentará o déficit do sistema de saúde ao ampliar a cobertura para incluir cerca de 25 milhões de pessoas que atualmente não estão em nenhum sistema facilitou a votação de alguns senadores democratas e até mesmo a adesão de alguns republicanos.
A senadora republicana Olympia J. Snowe, do Maine, considerada uma eleitora fundamental, parece estar se decidindo a dar um voto a favor, pelo menos para que o debate vá ao plenário do Senado.
O governo Barack Obama continua buscando uma aprovação bipartidária para o novo plano de saúde, e ao mesmo tempo precisa de apoio entre os republicanos para convencer seus próprios senadores.
Fora do Congresso, mas com força política no Partido Republicano, o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, também deu declarações apoiando o plano de Obama, assim como o hoje independente, mas por longo tempo republicano, prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.
Um caso típico é o da senadora democrata de Arkansas Blanche Lincoln, que se mostra cautelosa com o tema, pois vai se candidatar à reeleição em um estado em que os republicanos têm maioria.
As senadoras democratas fizeram um pronunciamento conjunto recentemente, mas Lincoln não estava entre elas. Agora, para driblar uma tomada de decisão antecipada, ela está pedindo maior transparência nos debates no Senado.
Outro objetivo da base governamental é conseguir a aprovação de 60 senadores, o que impediria uma ação de obstrução da minoria republicana para atrasar a aprovação do pacote.
Os democratas têm 58 votos no Senado , m a s contam com os dois votos independentes para barrar as eventuais obstruções nas votações.
Um dos senadores independentes, no entanto, está tendendo a não apoiar o governo, embora não tenha assumido uma posição definitiva.
Joe Liberman, de Connecticut, está preocupado com os custos do novo plano diante da crise econômica e os problemas fiscais do governo Obama, no entanto pode ter sido convencido pelo relatório do comitê apartidário.
Por isso os votos de alguns republicanos seriam cruciais para garantir a maioria de 60 votos. Há uma discussão sobre a possibilidade de o governo usar sua maioria mínima, de 50 votos mais um, para fazer aprovar a proposta, contando com que os republicanos não usarão a tática da obstrução.
Essa seria uma estratégia congressual arriscada, pois na prática significaria um acordo tácito de que a tática de obstrução não seria usada em outras ocasiões, mesmo que os democratas fiquem em minoria no Senado nas próximas eleições no meio do mandato presidencial, em 2011.
O debate sobre a reforma do programa de saúde nos Estados Unidos está tomando formas agressivas que lembram as táticas sujas usadas por grupos de direita durante as campanhas eleitorais.
Entre os financiadores de campanhas contra o novo plano, foram identificadas pessoas que financiaram ações agressivas contra o senador John Kerr y quando foi c a n d i d a t o , e t a m b é m contra Obama.
O marqueteiro Dick Morris, por exemplo, está liderando uma campanha da Liga dos Eleitores Americanos — um grupo ultraconservador ligado a pessoas com antecedentes de propaganda política agressiva — para exibir pequenos anúncios de televisão em estados considerados chaves nas votações com dizeres que distorcem a realidade e apelam para a demagogia barata.
Um idoso aparece na tela pedindo: “Por favor, senador (em cada Estado o nome de um senador local favorável ao plano será citado pelo comercial), não corte o Medicare (programa de saúde para idosos e indigentes) em U$ 500 bilhões.
Eu preciso de meu Medicare”.
A propaganda contrária às mudanças anuncia que cerca de 50 milhões de pessoas serão incluídas nos programas do governo, sendo que cerca de 13 milhões destas seriam de trabalhadores ilegais.
Na verdade, o programa que está sendo votado no Senado, com mudanças para tornar aprovável o projeto que veio da Casa Branca, ainda deixará de fora cerca de 25 milhões de pessoas.
Os argumentos a favor também são contundentes: o “American Journal of Public Health” denunciou que cerca de 45 mil pessoas morrem todo ano por não terem plano de saúde.
Segundo o articulista do “The New York Times” Nicholas D. Kristoff, significa que desde a tentativa de reforma do sistema de saúde do governo Clinton, em 1993, morreram desnecessariamente mais de 700 mil pessoas, mais mortos do que nas I e II Grandes Guerras, e nas guerras da Coreia, do Vietnã e do Iraque juntas.
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