sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Governo interino emperra negociação da OEA

Ricardo Galhardo
Enviado especial
DEU EM O GLOBO


Antes de deixarem Honduras, chanceleres pressionam candidatos à Presidência a abandonarem apoio a Micheletti

TEGUCIGALPA.
Assim que a missão da OEA deixou o hotel rumo ao aeroporto da capital hondurenha, as cenas se repetiram.

Centenas de manifestantes exigiram a restituição do presidente deposto, Manuel Zelaya, sendo contidas por policiais.

Apesar das declarações otimistas da OEA, as negociações entre Zelaya e o governo interino de Roberto Micheletti pouco avançaram.

— O diálogo está em ponto morto — sintetizou o líder sindical Juan Barahona, representante de Zelaya na negociação.

O governo golpista também disse estar pessimista.

— Isso não é diálogo, é monólogo.

A OEA veio com um pacote pronto, sem disposição para nos ouvir — disse Leo Villeda, assessor informal de Micheletti.

Zelaya também demonstrou decepção: — Micheletti está levando o país ao abismo. Age como se vivesse em outro mundo, como se Honduras fosse uma potência.

Clima de tensão crescente na Embaixada do Brasil

Anteontem Micheletti enfrentou a OEA com palavras duras, dizendo que não tem vontade de restituir Zelaya e que não vai se intimidar com a ameaça de a comunidade internacional não reconhecer as eleições de 29 de novembro sem a volta à normalidade constitucional.

A intransigência de Micheletti foi um balde de água fria na OEA.

Os chanceleres foram surpreendidos com a decisão de transmitir a reunião ao vivo pela TV.

Diante do possível fracasso nas conversas com Micheletti, os chanceleres pressionaram candidatos à Presidência. Num jantar, disseram que o vencedor não será reconhecido sem a volta de Zelaya. E propuseram aos candidatos dos dois maiores partidos que orientem os deputados a revogar o decreto que empossou Micheletti.

Ontem, antes de deixarem Tegucigalpa, os chanceleres anunciaram avanços. O principal é a criação de uma agenda de diálogo.

O primeiro ponto é a assinatura do acordo de San José, que prevê a volta de Zelaya. O segundo é a criação de comissões para implementar o acordo e o terceiro, um pacto político e social.

Apesar das evidências, eles usaram um discurso otimista.

— As declarações (de Micheletti) não são definitivas. Muitas são para marcar posição e ganhar força na negociação — avaliou o chileno John Biehl, assessor da secretaria-geral da OEA.

A promessa de revogar o decreto que suspende direitos civis, feita por Micheletti segundafeira, ainda não foi cumprida.

A missão “solicitou que se resolva o problema da Embaixada do Brasil e que se garantam ao presidente Zelaya condições de vida e trabalho de acordo com sua dignidade”.

O Brasil tem interesse numa solução rápida. Segundo fontes diplomáticas, Lineu Pupo de Paula, único diplomata na embaixada, teria feito um informe ao Itamaraty alertando sobre a tensão crescente e para o fato de que, em pouco tempo, o clima pode ficar insustentável.

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