DEU NO JORNAL DO BRASIL
Depois do fracasso da COP 15, dois fatos emergem de forma clara: 1) É preciso negociar um pós-Kioto num foro mais restrito de países grandes emissores, com responsabilidade históricas ou com vulnerabilidades especiais. O circo ONU não dará conta do recado, poderá a posteriori oficializá-lo e ampliar um acordo entre os atores que de fato contam. 2) O terreno de batalha decisiva ainda é dentro de cada país, região e cidade, remetendo-nos à noção de que mais do que nunca precisamos pensar globalmente e agir localmente.
É preciso fazer convergir ações de redução de emissões de GEE com outras mais imediatamente perceptíveis e aceitas pela opinião pública envolvendo segurança energética, a defesa do meio ambiente local e a criação de empregos. O segundo ponto é a necessidade de buscar um consenso político em relação à questão do clima que transcenda às polarizações partidárias ou ideológicas, inclusive à dicotomia direita-esquerda.
A Suécia conseguiu reduzir em 9% suas emissões entre 1990 e 2005, ultrapassando a meta de Kioto. Na origem dessa performance, no entanto, encontramos uma estratégia de segurança energética que tem origem na crise do petróleo de 1973. Do início dos anos 80 até hoje, conseguiu reduzir em metade seu consumo de petróleo. Em 1973, 80% de seu consumo de energia dependia de petróleo; atualmente, menos de 35%. A Suécia tem como meta prescindir totalmente de petróleo até 2020. Essa mudança de matriz energética foi em boa parte financiada por uma taxa de carbono a mais antiga da Europa.
Na Alemanha, uma considerável convergência política propiciou um crescimento muito significativo das fontes de energia renovável, permitindo que em menos de uma década sua proporção passasse de 6,3% para 14% da oferta de energia elétrica. A Alemanha lidera em energia eólica, com mais de 20 mil cata-ventos e em energia solar com 80% de toda produção fotovoltaica da Europa, embora, em breve, tenda a ser ultrapassada, em números absolutos, pela China.
Um dos casos mais interessantes de sucesso vem de um país em desenvolvimento, a Costa Rica, que tem a meta mais arrojada de todas: tornar-se “carbono neutra” em 2021. A parte do leão do esforço costaricense é dada por programas de reflorestamento e conservação florestal, públicos e privados, com fortes incentivos fiscais.
Fazer convergir metas de redução com projetos energéticos, florestais, agropecuários, industriais, de transportes e urbanísticos que criem benefícios econômicos e socio-ambientais adicionais à redução de emissões é o grande desafio. Fazê-lo de forma politicamente inteligente, mediante “compromissos históricos-climáticos” para além de interesses partidários e da própria polarização esquerda-direita parece ser o caminho para vencê-lo. A decepção com o resultado pífio da COP-15 deve levar-nos a assumir com ainda maior tenacidade a boa e velha máxima ecologista: “Pensar globalmente, agir localmente”.
Alfredo Sirkis é vereador (PV-Rio).
Depois do fracasso da COP 15, dois fatos emergem de forma clara: 1) É preciso negociar um pós-Kioto num foro mais restrito de países grandes emissores, com responsabilidade históricas ou com vulnerabilidades especiais. O circo ONU não dará conta do recado, poderá a posteriori oficializá-lo e ampliar um acordo entre os atores que de fato contam. 2) O terreno de batalha decisiva ainda é dentro de cada país, região e cidade, remetendo-nos à noção de que mais do que nunca precisamos pensar globalmente e agir localmente.
É preciso fazer convergir ações de redução de emissões de GEE com outras mais imediatamente perceptíveis e aceitas pela opinião pública envolvendo segurança energética, a defesa do meio ambiente local e a criação de empregos. O segundo ponto é a necessidade de buscar um consenso político em relação à questão do clima que transcenda às polarizações partidárias ou ideológicas, inclusive à dicotomia direita-esquerda.
A Suécia conseguiu reduzir em 9% suas emissões entre 1990 e 2005, ultrapassando a meta de Kioto. Na origem dessa performance, no entanto, encontramos uma estratégia de segurança energética que tem origem na crise do petróleo de 1973. Do início dos anos 80 até hoje, conseguiu reduzir em metade seu consumo de petróleo. Em 1973, 80% de seu consumo de energia dependia de petróleo; atualmente, menos de 35%. A Suécia tem como meta prescindir totalmente de petróleo até 2020. Essa mudança de matriz energética foi em boa parte financiada por uma taxa de carbono a mais antiga da Europa.
Na Alemanha, uma considerável convergência política propiciou um crescimento muito significativo das fontes de energia renovável, permitindo que em menos de uma década sua proporção passasse de 6,3% para 14% da oferta de energia elétrica. A Alemanha lidera em energia eólica, com mais de 20 mil cata-ventos e em energia solar com 80% de toda produção fotovoltaica da Europa, embora, em breve, tenda a ser ultrapassada, em números absolutos, pela China.
Um dos casos mais interessantes de sucesso vem de um país em desenvolvimento, a Costa Rica, que tem a meta mais arrojada de todas: tornar-se “carbono neutra” em 2021. A parte do leão do esforço costaricense é dada por programas de reflorestamento e conservação florestal, públicos e privados, com fortes incentivos fiscais.
Fazer convergir metas de redução com projetos energéticos, florestais, agropecuários, industriais, de transportes e urbanísticos que criem benefícios econômicos e socio-ambientais adicionais à redução de emissões é o grande desafio. Fazê-lo de forma politicamente inteligente, mediante “compromissos históricos-climáticos” para além de interesses partidários e da própria polarização esquerda-direita parece ser o caminho para vencê-lo. A decepção com o resultado pífio da COP-15 deve levar-nos a assumir com ainda maior tenacidade a boa e velha máxima ecologista: “Pensar globalmente, agir localmente”.
Alfredo Sirkis é vereador (PV-Rio).
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